Segundo o economista, Estados precisam fazer reformas ou não vão ter dinheiro para oferecer os serviços básicos
Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
O economista
Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de Política
Econômica do Ministério da Fazenda, se espantou com a aprovação do projeto de renegociação das dívidas dos Estados sem
as contrapartidas que tinham sido previamente acertadas. “Querem
empurrar a conta para o outro que vier lá na frente, na próxima
eleição”, diz. Lisboa lembra que essa prática, foi responsável por
aprofundar a crise atual e vai agravar ainda mais o cenário: “Ao invés de quimioterapia, querem dar anestesia. Assim não tem cura”. A seguir trechos da entrevista que concedeu ao Estado.
Como o sr. viu a aprovação do pacote de socorro aos Estados sem as contrapartidas?
Com muita preocupação. A impressão é que desejam apenas aumentar o
endividamento e transferir o problema para o outro que vier lá na
frente, na próxima eleição. Vários Estados já são incapazes de pagar as
suas despesas correntes e essas despesas vão continuar a crescer. Aí
aparecem soluções como securitização de dívidas a receber, de royalties
de petróleo. No fundo, estão vendendo receita futura para pagar receita
corrente. Ou seja: os problemas vão continuar.
Alguns
deputados alegaram que as contrapartidas eram “draconianas” e feriam
“direitos trabalhistas”. Como o sr. vê esses argumentos?
O que fere os direitos da sociedade é
a falta de responsabilidade de gestores públicos que deixam os
problemas atingirem o nível de gravidade que vemos hoje. Existe um
componente surpreendente nessa crise. Há anos, o problema da previdência
dos Estados é conhecido. Há anos, a gente sabe que muitos funcionários
recebem acima do teto. Há anos era certo que as Previdências dos Estados
se tornariam insustentáveis. Há anos estão empurrando a solução, não
fazem as reformas e as mudanças estruturais necessárias. Em 2013 já
tinham aumentado endividamento, com aval da União, que é corresponsável
por toda essa crise que estamos vendo. Infelizmente, quem vai pagar a
conta é a sociedade. Ela vai ter de carregar, sustentar, Estados
incapazes de lhe oferecer os serviços básicos necessários.
A expectativa agora é o presidente Michel Temer vete...
Da política, eu
não sei. Sei é que o diagnóstico está errado desde o início. O problema
dos Estados não são as dívidas. São as despesas crescentes,
principalmente com a folha de pagamento e a Previdência. Esses problemas
não serão resolvidos sem medidas duras, sem reformas profundas. Mas ao
invés de quimioterapia, querem dar anestesia para esse doente crônico.
Assim não tem cura. Vai ficar pior. DO JTOMAZ
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