Rodrigo Janot ainda não se deu conta, mas o pior tipo de solidão para um procurador-geral da República é a companhia de um potencial investigado. Nos últimos dias, o chefe do Ministério Público Federal se reúne com alvos da Lava Jato com estonteante naturalidade. E trata os encontros com uma transparência de cristal de copo de requeijão.
Nesta terça-feira, Janot fez uma visita ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o ‘Botafogo’ da lista da Odebrecht. Para driblar os repórteres, entrou por uma porta lateral. Além de Maia, particiaram do colóquio Osmar Serraglio (PMDB-PR), Pauderney Avelino (DEM-AM) e Marcos Rogério (DEM-RO).
Alcançado na saída, Janot disse que a visita não lhe trouxe o mínimo constrangimento. Afirmou que deseja ''manter aberto o diálogo com o Parlamento, demonstrar o respeito do Ministério Público Federal ao Parlamento.'' Hummmmmm. Talvez não seja boa ideia propor diálogo a quem pode precisar de interrogatório.
Há seis dias, Janot estivera no Palácio do Planalto, para uma conversa com Michel Temer. Ninguém se dignou a dar entrevistas. Na versão oficial, falaram sobre o Fundo Penitenciário Nacional. Na real, Temer queixou-se dos vazamentos ilegais e “ilegítimos” de delações da Odebrecht. Heimmmm?!?
As delações da Lava Jato frequentam o noticiário há dois anos e meio. Enquanto os vazamentos desgastavam Dilma e o PT, o constitucionalista Temer silenciou. No instante em que a Odebrecht joga no ventilador os R$ 10 milhões que seu departamento de corrupção providenciou para atender à requisição feita pelo próprio Temer, os vazamentos tornaram-se “ilegítimos.” Ai, ai, ai.
Dois dias antes de se avistar com Temer, Janot recebera na Procuradoria o ministro Alexandre Moraes (Justiça). A conversa ocorreu nas pegadas do vazamento que empurrou a Lava Jato para dentro dos salões do PMDB e do Planalto. No mesmo dia, o ministro se encontrou com Temer e com o líder do governo no Congresso, Romero Jucá, outro investigado do doutor Janot. Falaram sobre muita coisa, menos Lava Jato. Hã, hã…
Um procurador-geral da República que cultiva o hábito de distribuir cortesia a quem reclama investigação deveria considerar a hipótese de estender a delicadeza ao contribuinte que lhe paga os altos salários. Mas Janot parece considerar que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. - DO J.DESOUZA
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