Má notícia para os entusiastas da racionalidade, que imaginavam que a
falência do Estado brasileiro ensinaria uma lição aos políticos. Ao
aprovar um plano de socorro aos governos estaduais quebrados sem impor
nenhuma condição, os deputados federais sinalizaram que ainda acreditam
que dinheiro público é dinheiro grátis. A pretexto de fazer média com as
corporações de servidores, os parlamentares produziram uma lei que ofende a lógica e castiga o bolso do contribuinte, que financia o bilheteria do circo.
No
miolo da proposta há a criação de um Regime de Recuperação Fiscal.
Coisa emergencial. Autoriza Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Rio Grande do Sul, cujos cofres estão no osso, a suspender o pagamento
de suas dívidas com a União por três anos. Em torca, o Ministério da
Fazenda exigia um lote de condições. Por exemplo: privatização de
estatais, suspensão de contratações, congelamento de reajustes
salariais, elevação das contribuições previdenciárias e abertura de
planos de demissões voluntárias. O Senado avalizara. Mas a Câmara
derrubou tudo.
Ao sentir o cheiro de queimado, o governo tentou
esvaziar a sessão. Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em
campanha para permanecer na poltrona, resolveu fazer pose de
independente para seus colegas. E rosnou para o governo:
''Não
precisamos dizer amém ao Ministério da Fazenda. Temos que votar o texto
que é melhor para o Brasil. Se o presidente [Temer] entender que não é o
melhor para o Brasil, tem poder de veto. O que não podemos é convocar
os deputados e não votar nada. Quem quiser, na tarde de hoje, assuma sua
responsabilidade de votar contra ou a favor. Agora, não votar é achar
que a Câmara não respeita a sociedade.'' Ai, ai, ai,
Até os
governadores estavam a favor das condições impostas pela União. Era o
pretexto que precisavam para endurecer com os servidores. Diriam: “Não
posso fazer nada. Tenho que respeitar a lei.” Agora, terão de recorrer
às Assembléias Legislativas para tentar conciliar suas folhas salariais
com a realidade.
A lição da falência do setor público deveria ser a
de que todas as premissas usadas pelos políticos brasileiros para
gastar o dinheiro alheio precisam, no mínimo, pegar um pouco de ar. Para
que a breca servisse mesmo de lição seria preciso que os parlamentares
se convencessem de que a sua irresponsabilidade, pior do que um crime, é
um erro. Que precisa ser entendido e corrigido. Algo que talvez só vá
acontecer no dia que faltar dinheiro para os contracheques do Congresso. DO J.DESOUZA
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