O Globo
publicou ontem uma reportagem sobre a seca no Nordeste que dá o que
pensar, Não! Não vou culpar Lula, o PT, o governo etc., como certamente
fariam os petistas com a administração federal caso estivesse na
Presidência um tucano, por exemplo. É bem verdade que já dispomos de
condições técnicas para antecipar medidas. A falta de chuva não é uma
surpresa. O que vai abaixo nos leva a pensar a distância que há entre a
retórica oficial e os fatos.
O Bolsa
Família teve, sim, um impacto positivo na economia do Nordeste, todos
sabem. Mas o tal “milagre econômico” na região também foi beneficiado
por chuvas, na média generosas nos últimos anos. Agora que a região
passa a enfrentar aquela que é considerada uma das maiores secas em
muitas décadas — logo, deixem o inexistente “aquecimento global” fora
disso… —, o que se vê é que pouca coisa mudou naqueles vastos sertões e
naquelas vastas solidões.
Ao flagelo
da seca, justa-se o flagelo político — e se nota que a estrutura
clientelista lida com os recursos públicos nos mesmos moldes do que já
foi chamado um dia “indústria da seca”. Em lugar dos conoréis, os
demagogos. As obras bilionárias da mítica transposição do São Francisco
não são uma resposta para esse tipo de problema, com essa abrangência. O
sertão não vai virar mar. Infelizmente, ainda dependente da chuva, o
sertão voltou a virar sertão.
Ah,sim: não
obstante essa realidade, os alopradinhos de pança cheia gritam: “Veta,
Dilma!” Querem porque querem diminuir em 33 milhões de hectares a área
plantada no Brasil. Querem pobre vivendo de luz, a luz que não falta aos
Nordeste… Leiam o texto.
Seca histórica gera guerra por água no sertão do Nordeste
Por Letícia Lins e Efrém Ribeiro, da Agência A Tarde:
Considerada a pior dos últimos 50 anos em alguns estados do Nordeste, a seca está provocando um confronto que só se imaginaria no futuro: a guerra pela água. Em Pernambuco, essa luta já começou com tiros, morte e exploração da miséria. Protestos desesperados são registrados não só lá, mas em várias regiões do semiárido, onde a estiagem já se alastra por 1.100 municípios. A população pede providências imediatas dos governos para amenizar os efeitos devastadores. A situação só não é pior já que as famílias contam com os programas sociais, como o Bolsa Família. Como observam agricultores, a preocupação no momento é maior com os animais, que estão morrendo de sede e fome, do que com as pessoas.
Considerada a pior dos últimos 50 anos em alguns estados do Nordeste, a seca está provocando um confronto que só se imaginaria no futuro: a guerra pela água. Em Pernambuco, essa luta já começou com tiros, morte e exploração da miséria. Protestos desesperados são registrados não só lá, mas em várias regiões do semiárido, onde a estiagem já se alastra por 1.100 municípios. A população pede providências imediatas dos governos para amenizar os efeitos devastadores. A situação só não é pior já que as famílias contam com os programas sociais, como o Bolsa Família. Como observam agricultores, a preocupação no momento é maior com os animais, que estão morrendo de sede e fome, do que com as pessoas.
Na beira das
estradas que conduzem ao sertão, o verde não mais existe. Ao longo das
BRs 232 e 110, em Pernambuco, carroças puxadas a jumentos magros tomam
conta das margens em busca de água. Nos 100 quilômetros de extensão da
PE 360, que liga os municípios sertanejos de Ibimirim e Floresta, há 28
pontilhões sob os quais os córregos corriam fortes. Hoje, estão todos
secos. Até mesmo o leito do Riacho do Navio - que ganhou fama na voz do
cantor Luiz Gonzaga - esturricou. Na última quinta-feira, bois magros
tentavam em vão matar a sede e tudo que encontravam era uma poça de lama
escura naquele conhecido afluente do rio Pajeú.
Em
Pernambuco, 66 municípios do sertão e do agreste estão em estado de
emergência reconhecido. O quadro tende a se agravar já que a temporada
de chuva está encerrada e os conflitos aumentam. Em Bodocó, no início do
mês, o agricultor João Batista Cardoso foi cobrar abastecimento regular
na sede local da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) e
acabou morto. João Batista se desentendeu com o chefe do escritório da
estatal, José Laércio Menezes Angelim, que disparou o tiro e hoje está
foragido.
Outra face
cruel para as vítimas da seca é a exploração: se no passado eram os
coronéis que manipulavam currais eleitorais distribuindo água, hoje as
denúncias recaem sobre ‘pipeiros’, geralmente candidatos a vereador e
seus cabos eleitorais, donos dos caminhões de água. A situação está tão
grave que o governo decidiu rastrear todos os carros-pipa que circulam
na caatinga. A Compesa começou a fazer operações para conter também o
furto da água. Prevista para durar três meses, as ações contam até com
helicóptero.
Até a última
quinta-feira, foram detectados treze pontos suspeitos, com registro de
desvio para campos irrigados. A água roubada do estado também abastecia
reservatórios para carregar pipas e até mesmo um tanque com 50 mil
peixes em Ouricuri. Segundo a Compesa, a perseguição aos furtos é para
garantir água a 200 mil famílias. “As barragens ficaram secas, o povo
está com sede, mas o carro leva água para colher voto. Os donos dos
caminhões ganham por dois lados: recebem do governo e o voto do povo. As
pessoas prejudicadas não reclamam porque têm medo. Há culpa tanto do
estado quanto do município”, reclamou Francisco da Silva, sindicalista
da região. De acordo com o secretário de Agricultura, Ranilson Ramos, há
800 pipas rodando a caatinga, para atender as famílias.
Na Bahia, a
seca é considerada a pior dos últimos 50 anos. A longa estiagem no
estado já levou 234 dos 407 municípios baianos a decretar estado de
emergência. O governo estadual já reconheceu a emergência em 220. A seca
está devastando as lavouras baianas e afetando a pecuária. Os preços
dispararam: o quilo do feijão, por exemplo, aumentou 40% este ano. Em
Salvador já custa R$ 8.
No Piauí,
152 municípios do semiárido, onde vivem 750 mil pessoas, estão sofrendo.
No estado, um caminhão-pipa de até 15 mil litros de água não sai por
menos de R$ 120 e as perdas das lavouras de milho, feijão e mandioca
foram de 100% - contabilizou o presidente da Federação dos Trabalhadores
na Agricultura (Fetag), Evandro Luz. “A população padece de sede. Muita
gente está há 40 dias sem água porque não tem dinheiro para comprar.
Plantações inteiras foram perdidas”, afirmou Luz.
Os
presidentes dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais pediram à Central
Nacional de Abastecimento cestas básicas para as famílias enfrentarem a
fome. No estado, não há chuva forte desde julho. Por falta de alimentos,
pequenos criadores estão soltando o gado para que os animais procurem
água e pasto. “Vivemos a maior seca de nossa história”, disse Wilson
Martins, governador do Piauí, que em abril participou da reunião com a
presidente Dilma Rousseff, que liberou R$2,7 bilhões para minorar os
efeitos da estiagem e anunciou a Bolsa Seca de R$ 400. Segundo a Fetag,
os recursos ainda não chegaram.
REV VEJA
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