segunda-feira, 14 de maio de 2012

Uma pergunta aos internautas do Brasil: “É legítimo mentir, enganar e trapacear na rede?” OU: CUIDADO! A TURMA DO AI-13 QUER TE PEGAR! Ou: Uma questão de honestidade intelectual

Caros, vai aqui um texto para a reflexão de todos. Daqueles longos. Espalhem-no na rede, caso gostem, porque é um debate que diz respeito a todos nós. Trata-se de saber se vamos permitir, calados, que alguns grupelhos, depois de se apropriar do nosso dinheiro em negociatas, depois de transformar o estado brasileiro num lupanar, depois de tentar achincalhar todas as instituições da democracia, também aparelhem a Internet. O debate está aberto. Vamos lá.
A VEJA desta semana traz uma reportagem que demonstra que milhares — potencialmente, milhões — de internautas brasileiros estão sendo enganados por grupos organizados, cujo trabalho é fraudar aquela que deveria ser — e, na origem, era! — um dado essencial da rede: a verdade do indivíduo. No que diz respeito à circulação de informação e de opinião, a novidade trazida pela Internet é justamente a oportunidade de o homem comum se fazer ouvir. A organização das chamadas redes sociais deveria facilitar justamente o contato entre esses indivíduos. Quando, no entanto, agentes de partidos políticos e de grupos organizados criam falsos perfis e robôs para replicar palavras de ordem, estamos diante de uma mentira. Tais pessoas não são diferentes daquelas que emporcalham praças públicas, que sujam as praias, que jogam lixo no transporte coletivo e nas ruas, que se apropriam das calçadas, que estacionam em local proibido… Estamos diante de um flagrante desrespeito às regras do jogo.
O PT chegou até a criar um grupo — chamado de MAV (Militantes em Ambientes Virtuais) — para monitorar a rede e criar palavras de ordem. Já escrevi um post a respeito. O objetivo é entrar nas redes sociais para “defender o partido” quando ele estiver sendo “injustamente atacado”. Ora, quando não estaria? Vocês imaginam algum petista a considerar justa uma crítica à legenda? Os internautas comuns passam, então, a ser molestados, a ser moralmente assediados, a ser desqualificados por tropas organizadas. Como estão trabalhando a serviço do partido, como pertencem a um aparelho, como não pensam segundo o próprio juízo, não concebem que você, leitor, possa ser diferente; não concebem que os demais navegantes da rede não sejam mulheres e homens-causa, com uma missão e um propósito definidos. Resultado: o leitor que não tem partido, que luta para ganhar a vida honestamente, que não entra na área de comentários para “cumprir uma tarefa”, acaba caindo fora, desistindo. E os “mavistas” do PT, então, tomam conta do debate, fingem ser centenas, milhares… Por isso, já expliquei, eu expulso do meu blog os que chamo “petralhas”. No dia em que o PT quiser responder a algum post como, digamos, pessoa jurídica, que o faça. Molestar leitores reais é que não vai.
No Twitter, como deixa claro a reportagem da VEJA, a realidade não é diferente. Também ali, tuitaços são organizados por gente que participa do jogo político, e robôs se encarregam de multiplicá-los por intermédio de perfis praticamente sem seguidores. São “pessoas” que não existem. Nas respectivas áreas de comentários dos sites noticiosos, você pensa estar debatendo com um outro homem ou mulher-célula (como você), com um indivíduo (como você), e, na verdade, está a enfrentar um militante ou um militonto partidário que representa uma legião. É absolutamente legítimo que as pessoas tenham partido e até mesmo que o defendam na rede. Mas não é legítimo que o tuiteiro esteja a cumprir uma tarefa da máquina partidária — a menos que se identifique como tal. Você pensa estar, no Twitter, aderindo a uma causa surgida na rede e, na verdade, é apenas peça passiva de manipulares.
Os valores de cada um
Não raro, como sabem, blogs e sites financiados pelo dinheiro público — da administração direta e de estatais —, tornados verdadeiras centrais de difamação das instituições democráticas (incluindo a imprensa), fornecem os motes e as palavras de ordem. Pior do que isso: mentem de maneira deliberada, chamando o que fazem de jornalismo alternativo. Cumpre refletir um pouco sobre essa questão.
Desde 1996, quando foi criada a revista República (e, depois, pela mesma editora, a BRAVO! — hoje na Abril — e a Primeira Leitura), estou envolvido com o jornalismo opinativo, seja na seara da política, seja na da cultura. Opinar é um troço mais complicado do que parece porque, com muito mais frequência, evoca questões que são de natureza ética. Não há como: sempre que se é judicioso a respeito de um determinado assunto ou pessoa, o que se tem é um confronto (às vezes, um encontro) entre os valores e ideias do analista e os valores e ideias contidos no objeto de sua análise. Assim, sempre considerei uma questão de honestidade intelectual o crítico deixar claro com quais parâmetros opera — para que não pareça que suas opiniões foram ditadas pelo próprio Deus. Vale para a política. Vale para a cultura.
Leitor nenhum pode alegar ser enganado ao passear pelo meu blog. Todos sabem o que penso sobre uns bons pares de assunto e têm clareza de que não me alinho com aqueles que acreditam — não numa democracia — que a promoção da desordem ou o desrespeito sistemático às leis sejam um bom caminho para alcançar a justiça, inclusive a tal “justiça social”. Muito pelo contrário: eu sustento que transgressões dessa natureza produzem ainda mais injustiça. Chame-se a isso “conservadorismo”, “direitismo” ou o que for, esses nomes não me assustam. Assim, é obviamente inútil tentar encontrar no meu blog o incentivo a práticas dessa natureza. Deixo isso de tal forma claro que convido, com frequência, alguns leitores a buscar as páginas que os fazem felizes. Não há razão nenhuma para ficar se indignando aqui. MAS ATENÇÃO PARA UMA QUESTÃO!
A mentira como método
Mentir não faz parte das regras! Seja o analista “conservador” ou “progressista”, tenha a ideologia que for, a verdade há de ser um fundamento. E estamos, nesse particular, vivendo dias de um impressionante vale-tudo. Aquele subjornalismo financiado com dinheiro público, que tem garantido o leite de pata desde que cumpra a tarefa de difamar, sob encomenda, os desafetos que pagam as contas — não tem escrúpulos. Ora, cada um tenha sobre um determinado fato a opinião que quiser. Assim é na democracia. Uma das conquistas da Internet, repito, foi criar as condições para que indivíduos tornem pública sua visão de mundo. Mas e a mentira? Esta senhora é a grande sabotadora da liberdade de expressão no país.
Fiquemos com um dos casos muito comentados nesses dias passados, os supostos 200 telefonemas entre um jornalista da VEJA e Carlinhos Cachoeira. Não! Há 46 menções a seu nome nas sei lá quantas centenas de conversas e apenas DUAS ligações. E os que sustentavam o outro número? Qual a fonte? Quem disse? Por que disse? Pretendia com aquilo o quê? Virão agora a público para confessar o seu “erro”? EIS A QUESTÃO! Nunca se pretendeu nem acertar nem errar. A pretensão era puramente difamar. E, nesse particular sentido, devem estar bastante satisfeitos, julgando que seu trabalho foi bem feito! Afinal, conseguiram espalhar a mentira na rede, e essa era a tarefa. Eu lhes pergunto: ISSO É JORNALISMO? ISSO É EXPRESSÃO DE DECÊNCIA? Nota à margem; ainda que houvesse 300 ligações, o número, por si, seria irrelevante. 
Mesmo em questões que dizem respeito à vida profissional de desafetos, a ausência de limites é absoluta. Na sexta, “informavam” alguns blogs que o jornalista Mario Sabino teria sido contratado pela equipe de pré-campanha do tucano José Serra, que vai disputar a Prefeitura de São Paulo. Notem bem: não é que isso seja uma mentira que quase aconteceu porque se chegou a cogitar num dado momento etc e tal… Não! Nem a sombra da verdade, que serve, muitas vezes, de pretexto aos mentirosos compulsivos, se manifestou. A suposta notícia era só um pretexto para atacar Sabino e Serra — PORQUE ERA ESSA A TAREFA DAQUELE TEXTO. Isso é jornalismo? Isso é expressão de decência? Haverá a correção e a admissão do erro? Não! A mentira passou a ser matéria-prima desse tipo de trabalho. Estamos falando de uma outra atividade, que se confunde, sem ser, com jornalismo. Assim como o joio se mistura ao trigo, embora sejam ao observador minimamente atento escandalosamente diferentes.
Era petista
Essa mentira organizada, deliberada, financiada, é, sim, característica típica desses nove anos de poder petista, especialmente depois que estourou o caso do mensalão, e Franklin Martins, que VEJA classificou certa feita de “ministro da Supressão da Verdade”, foi o seu artífice. Decidiram armar uma “guerra contra a mídia” porque esta, supostamente, era negligente ao noticiar as conquistas do governo, o que é uma deslavada mentira. Ao contrário: o noticiário colaborou, e muito — nem sempre com muita atenção aos fatos, a meu ver — para construir a reputação positiva das gestões petistas. E isso continua verdade com Dilma Rousseff. Nota à margem: há setores do petismo que até acham que a imprensa elogia a presidente em excesso. Lula já sugeriu que os veículos de comunicação agem assim só para tentar indispô-la com ele… Sabem como é este senhor, com o seu umbigo sempre maior do que o cérebro.
Ora, fico no ambiente da própria VEJA. A revista  apontou deiversas vezes a prudência, a responsabilidade e a competência de Antônio Palocci quando à frente da economia. E estendeu esse reconhecimento ao próprio Lula por ter — essas palavras agora são minhas — jogado no lixo o programa econômico do PT e governado o país segundo o princípio da realidade. Mas nem por isso — e foi aí que o petismo ficou enfurecido — deixou de apontar as safadezas do mensalão. E noticiou o que tinha de ser noticiado sobre Palocci — fatos que impediram a sua permanência no ministério (nas duas vezes) — sem jamais deixar de reconhecer o que havia de virtuoso na sua atuação.
É assim que se faz!
Porque é assim que age, em todo o mundo democrático, o jornalismo isento e responsável: apega-se aos fatos e repudia a mentira nas reportagens, nas análises, nas opiniões. Insisto: o recorte ideológico do crítico e do analista mobiliza, sim, leitores segundo a sua própria ideologia. Mas a verdade há de ser um fundamento indeclinável da profissão.
Já começando a aterrissar, lembro um tema que há de gerar polêmica nos próximos dias, meses, anos: a dita “Comissão da Verdade”. Respeito a coragem de uns poucos — embora discorde de maneira absoluta — que admitem, sem subterfúgios, que a extrema esquerda, ao recorrer à violência armada durante a ditadura, matou alguns inocentes; que a luta política é assim mesmo e que a utopia socialista abençoa moralmente os que fizeram aquela opção. Mas nutro profundo desprezo intelectual por quem tem a desfaçatez de chamar aqueles militantes de paladinos da democracia, afirmando que lutaram e, eventualmente, morreram para construir no Brasil um regime democrático. É falso!
O que quero dizer com isso? Um comunista que admita que a construção de sua sociedade ideal comporta algumas mortes (ou muitas) é mais honesto intelectualmente do quem tenta recobrir aquelas ações de um propósito humanista que absolutamente não tinham. “Ah, isso é você quem diz; é opinião!” Errado! Isso é fato! Prometi me aposentar quando alguém exibir um documento que evidencie o amor da extrema esquerda pelo regime democrático. Pergunto: qual é a nossa função, a dos jornalistas? Endossar a mentira? Vamos ignorar, inclusive, que o texto que criou a lei obriga, sim, a investigar também os crimes da extrema esquerda, o que sabemos, de antemão, que não será feito?
O mais curioso é que, ao escrever isso, tomam como “opinião do Reinaldo” (esse reacionário!) o que opinião não é — não nesse caso. Como não era e não é opinião a impossibilidade legal de rever a Lei da Anistia. Mera opinião, sem sustentação legal — ancorada, então, numa mentira — é a tese de quem acha a revisão possível.
Agora concluindo mesmo!
Os tempos são um tanto bárbaros, cumpre-nos ser claros, mas sem perder a serenidade. Essa súcia que anda por aí, acreditem, começa a viver o seu ocaso. Tem malogrado sistematicamente no esforço de destruir a imprensa livre. À medida que vai acumulando insucessos, vai se tornando mais rombuda, mais agressiva, mais grotesca. Basta ver o festival de baixarias que permitem em suas respectivas áreas de comentários. Os que abrigam os palavrões, as maldições, as acusações mais ensandecidas, as agressões pessoais mais torpes, esses dizem fazê-lo em nome da “pluralidade”, que jamais deve se confundir com a prostituta da liberdade de expressão ou como dama de companhia da ambiguidade.
No que me diz respeito, considero até positivo que enveredem por esse caminho. Este blog, felizmente, tem, a cada dia, mais leitores fazendo o contrário. Jamais sou ambíguo sobre qualquer assunto. Opino, sim, sobre muita coisa — o que deixa alguns irritados… Mas sempre de posse dos fatos. Considero positivo que aqueles caras se dediquem à abjeção e ao estímulo ao linchamento porque revelam quem são, expõem a sua real natureza e, progressivamente, deixam claro a quem servem e por quê. É possível que haja quem goste daquilo. Mas até eles próprios sabem que joio não é trigo. Secretam aquele ódio irracional contra nós não porque não admirem secretamente quem somos, mas porque sabem que não podem ser um de nós. Transformam-nos em sua pauta permanente num esforço patético de exorcizar os próprios recalques, sempre gritando: “Olhem pra nós!”
São funcionários do seu ressentimento. E, claro!, precisam ganhar a vida. Que tenha de ser assim é um destin que não desejo, por óbvio, ao pior inimigo…
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA 

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