quarta-feira, 7 de março de 2012

O fascismo sobre duas rodas! Os “talibikers” e os “fascisbikers”, que querem salvar a humanidade, não conseguem respeitar o direito do próximo! Ou: Eles impediram o acesso de doentes a 11 hospitais!!!

Fiz esta foto com o celular quando voltava para a casa. Reparem no rapaz de camisa azul. Ele ultrapassou o nosso caro pela direita, rente à calçada, está sem capacete, sinalizador ou qualquer outro elemento de segurança. No ponto em que o fotografo, estamos próximos de um dos extremos da Paulista; a manifestação foi na outra ponta. Andou toda a avenida assim. Não é o único. A maioria anda sem proteção!
Fiz esta foto com o celular quando voltava pra casa. Reparem no rapaz de camisa azul. Ele ultrapassou o nosso carro pela direita, rente à calçada, está sem capacete, sinalizador ou qualquer outro elemento de segurança. No ponto em que o fotografo, estamos próximos a um dos extremos da Paulista; a manifestação foi na outra ponta. Andou toda a avenida assim. Não é o único. A maioria anda sem proteção!
Saí de casa ontem por volta das 20h10 para ir à Livraria Cultura da Paulista. É um horário em que o trânsito ainda não é grande coisa, mas o pior já costuma ter passado. Na subida da rampa do Pacaembu, notei algo de estranho. Chegando à avenida Doutor Arnaldo, que dá acesso à Paulista, tudo parado! E começamos, então, a ver ciclistas deslizando alegremente entre os carros parados e sobre as calçadas — não!, boa parte não dá a mínima para os pedestres! —, todos se dirigindo para o Paraíso (o bairro, tá, gente?), onde havia uma manifestação. Segundo ouvimos no rádio, uns 500 protestavam contra a morte de uma ciclista, ocorrida na sexta-feira. Lamentável? Lamentável! Eles têm, no entanto, o direito de parar a avenida, como se houvesse uma verdadeira conspiração contra os ciclistas? Não! Não têm. Centenas de ônibus lotados e milhares de carros parados. Levei quase uma hora para fazer um percurso de 20 minutos. Quanto cada um daqueles que rasgavam a Constituição estava produzindo de carbono extra com seu protesto fascistóide?
Fascistóide? Fascisctóide, sim! Os talibikers e fascisbikers
Estou nessa há algum tempo. Sei como são as coisas. Publiquei um primeiro post às 22h33, anunciando que voltaria para tratar do assunto, sabendo exatamente as reações que provocaria, os ataques que receberia e a qualidade dos argumentos. Comentarei alguns, dando os devidos créditos. O mais espantoso: não foram poucos os que disseram abertamente torcer para que eu morra. É isto mesmo: muitos talibikers, os fundamentalistas da bike, pararam uma das principais avenidas de São Paulo, atrapalhando milhares de pessoas, porque um deles morreu. E consideram bom, belo e justo que alguém que os contesta também morra. É uma espécie de Lei de Talião do Pedal - são os taliãobikers.
Sempre que um grupo, em nome dos próprios interesses (eles acreditam firmemente que representam a humanidade!) e de sua própria visão de mundo, impõe a terceiros a sua vontade, por intermédio da força, estamos mais próximo da Alemanha da década de 30 do que de uma democracia do século 21.
Será que eu sou contra bicicletas e ciclistas? Que bobagem! Se eu considerasse isso importante, eu provavelmente seria a favor. Eu me oponho, aí sim, e com veemência, a qualquer grupo que tente se impor pela força, violando direitos protegidos pelas leis e pela Constituição, como o de ir e vir. Já notei que há ciclistas que se querem o centro do mundo — deveriam juntar à sua militância bicicletenta, como diria Odorico, alguma bibliografia sobre o regime democrático —, mas não são! Eu me oponho a que católicos, evangélicos, gays, héteros, ciclistas, freiras ou admiradores de Shakespeare parem a Paulista. É isto: essa gente acha que mais bicicletas melhoram o mundo. Eu acho que o mundo precisa é de mais leitura. E aí? Quem de nós tem o direito de parar a Paulista ou qualquer via pública? Resposta: NINGUÉM!!!
Sabem quantos hospitais há na região que esses amigos da humanidade paralisaram ontem, impedindo a entrada e a saída de doentes?  Ao menos 11!
- Hospital das Clínicas;
- ICESP - Instituto do Câncer do Estado de SP;
- Hospital Emilio Ribas;
- Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo;
- HCor - Hospital do Coração;
- Hospital Nove de Julho;
- Hospital Pro Matre Paulista;
- Hospital Santa Catarina;
- Hospital Paulistano;
- Hospital e Maternidade Pró Matre S/A;
- Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Quem lhes conferiu esse direito? Um deles, com estupidez ou ingenuidade — talvez seja uma ingenuidade estúpida — argumenta algo assim: “milhares de carros fazem isso todos os dias, e você não reclama!” Em primeiro lugar, reclamo. A fala é boa. São milhares atrapalhando milhares, e não 500 tornando pior a vida de milhares. Percebeu a diferença moral e ética entre as duas coisas ou preciso desenhar?
A mobilidade
Ora, é claro que eu sei que a questão da mobilidade é grave em São Paulo — e em todas as capitais no Brasil. Mas sei também que não se resolve da noite para o dia, num estalar de dedos e com algumas pedaladas. Bilhões estão sendo investidos em metrô, trens metropolitanos, corredores de ônibus, ônibus propriamente etc. Quando a cidade estiver, toda ela, riscada de linhas de metrô, haverá uma melhora substancial do trânsito? É possível… Até que isso não aconteça, lamento!, é uma estupidez achar que se podem fazer ciclovias em todas as avenidas e ruas da cidade, tomando o espaço que cabe aos carros e aos ônibus. A bicicleta, no que diz respeito à extensão percorrida, é uma alternativa para pouquíssimas pessoas.
Até que essa mudança mais geral não aconteça, podendo, então, ampliar as ciclovias, andar de bicicleta nas ruas da cidade é mesmo uma temeridade — embora tenha lido, em algum lugar, que o número de acidentes caiu. O país lida mal com responsabilidades individuais. A culpa tem de ser sempre do Estado! Não, eu não estou dizendo que aquele que escolhe sair de bicicleta pelas ruas da cidade está escolhendo a morte. Estou afirmando, isto sim, que o ciclista decide correr, conscientemente, um risco enorme. “É para o bem do planeta!”, dizem alguns. Que seja! Há muita gente que leva essa mesma luta sem disputar espaços com os carros num ambiente inóspito.
Qualidade do protesto
Os ciclistas que ontem fizeram com que trabalhadores perdessem horas de sono e de convivência com suas respectivas famílias poderiam ter protestado numa praça ou num parque, encaminhando suas petições ao estado. Não faltariam políticos — talvez tenham estado lá, não sei — para aderir à sua causa. As redes sociais estão aí (é bem possível que tenha sido uma dessas mobilizações via Facebook). Mas não! Nada disso lhes serve! Eles estão na fase da radicalização: “Se não atrapalharmos bastante a vida das pessoas, não compreenderão a nossa causa”. Bem, lamento constatar, sempre sugerindo que estudem mais, ainda que não pedalem menos, que esse é o mecanismo de pensamento dos terroristas. A sua tese é esta: só infligindo danos aos inocentes conseguiremos ser ouvidos. É o que eles fazem. E é o que vocês fazem numa escala muito menor, é claro!
Vocês têm todo o direito de curtir o seu esporte, o seu lazer, sei lá eu. Para tanto, não precisam revestir de interesse público o que é um gosto pessoal. Boa parte de São Paulo, esta cidade não-praiana, é incompatível com bicicleta. Quero ver um morador de Perdizes ou da Vila Madalena, com seus respectivos aclives e declives, ser um fanático da bike. Só longe de casa…
Os tipos
Escrevi ontem que o capacete e a “roupitcha” de alguns dos manifestantes tinham um valor superior ao salário de boa parte daqueles coitados que estavam nos ônibus, com ar cansado, tentando voltar para casa. Muita gente se zangou. E é mentira? Não é a primeira vez que noto a ira dos “amigos do povo” quando fica evidente que, de povo, não entendem nada. Mas esses ainda eram os prudentes. Boa parte anda pela cidade sem qualquer proteção, como ilustra a foto que abre este post. E, como disse, em cima das calçadas, que estavam especialmente lotadas porque muita gente descia dos ônibus para fazer a pé parte do percurso ao menos, vencidas pelo calor. Não, vocês não podem!
No post abaixo, reproduzo trechos de algumas opiniões e as comento. Já tinha percebido em outro episódio que os talibikers têm certa vocação missionária e um espírito meio inquisitorial. Por eles, ainda se vai criar o Tribunal do Santo Ofício dos Biukers — e tudo porque consideram que estão mesmo salvando a humanidade dos males do aquecimento global. Ainda vou escrever um texto, é uma promessa, sobre o fascismo dos ecologistas e assemelhados. Estou cada vez mais convencido de que essa gente constitui o núcleo de um novo autoritarismo. Desde que publiquei aquele texto contra o infanticídio, tenho lido coisas horrendas. Em nome da “salvação do planeta”, eles topam literalmente tudo! Amam a natureza. Detestam pessoas.
No post abaixo, publiquei os comentários de alguns de alma mansa. Vocês não sabem o que li. Daqui a pouco eles começam suas correntes no Facebook, uma forma que as minorias extremistas têm de parecer maioria. Estou acostumado a essas coisas. Não dou a mínima! Milhares de pessoas chegaram ontem mais tarde às suas casas; centenas de doentes tiveram retardado o atendimento médico; pais e mães que levantam de madrugada para trabalhar ficaram menos tempo com seus filhos… Por quê? Ora, porque a turma da bicicleta está certa de que tem o direito de parar uma das principais artérias de São Paulo. “Ah, um dos nossos morreu!” Lamento! Mas isso não muda a Constituição. Descubram outras formas de luta. Imaginem se cada categoria profissional, cada grupo social ou cada movimento organizado for para a cidade a cada vez que morrer um dos seus.
Vocês simplesmente não têm esse direito! Aprendam a viver numa sociedade democrática!
Para encerrar
Eu tenho, sim, o direito de reclamar e de opinar mesmo não sendo um “biker”. Ademais, eu não fui encher o saco de vocês. Vocês é que decidiram encher o meu — e de outros milhares.  Só nas ditaduras as vítimas são obrigadas a se calar. Na democracia, elas protestam. E eu protesto — mas sem lhes infernizar a vida. Ou será que vocês podem cassar o meu direito de ir e vir, mas eu preciso antes “estudar o cicloativismo” para poder reclamar?
Sabem o que é? Tenho uma alma antifascista!
Sobre os comentários
Como eu tenho larga experiência em enfrentar correntes organizadas na Internet, já aviso. Não tentem fazer uma concentração de “fascisbikers” ou “talibikers” aqui. Não vai dar certo. SÓ SERÃO ACEITOS COMENTÁRIOS QUE RECONHEÇAM QUE É UM ERRO PARAR A CIDADE. Pode discordar de mim em outros aspectos? Pode! Com educação! Tenham por mim o mesmo respeito que vocês têm pelas plantinhas e pelos bichinhos, ok? Aí pode! Mas só admitindo o erro. Se aceito que alguém venha pregar o desrespeito à lei, fico mais perto do Marcola do que da Constituição. E isso não vai acontecer! Querem salvar o planeta e a humanidade pedalando? Tudo bem! Mas sem a apologia do crime.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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