sábado, 9 de julho de 2011

Os vigaristas segundo Simon


"Que beleza o convite de Jean Cocteau: 'Fechamos com doçura os olhos dos mortos. Com a mesma doçura devíamos abrir os olhos dos vivos'" (Ulysses Guimarães, um sábio da política brasileira, que repousa no fundo do mar).
No meio desta turbulenta e complicada semana de julho, quando já apodreciam ao impiedoso relento do poder as corroídas estruturas para manter de pé os esquemas de rapina que há anos vicejam no âmbito do ministério dos Transportes, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), se apressou em declarar ao desembarcar de viagem a Brasília: "A confiança da presidente Dilma no ministro Alfredo Nascimento está mantida".
Mal o dirigente baiano fechou a boca e a casa do "prestigiado" ministro amazonense, já em ruínas e desfalcada de alguns de seus principais operadores, desmoronou de vez.
Do jeito como em geral acontece - que o diga Paulo César Carpegiani, do time do São Paulo - com os treinadores do futebol brasileiro às vésperas da queda anunciada.
Tudo bem, não fosse o autor da frase da semana o governador e político petista provavelmente com melhor trânsito no Palácio do Planalto, onde já atuou no governo Lula ao lado da atual ocupante principal do pedaço.
Além disso, político frequentemente citado em respeitáveis listas de previsões sucessórias ao posto mais elevado da República.
Wagner devia saber muito bem sobre o que estava falando em relação à presumida permanência mais demorada de Nascimento no ministério.
O governador da Bahia é notório amigo do ex-ministro de cuja Pasta e caneta dependem execução de projetos e manutenção de acordos para obras de infra-estrutura tidas como cruciais para o desenvolvimento do Estado que ele administra: da ferrovia oeste-leste ao empacado e suspeito metrô de Salvador, onde já foram enterradas em quase 11 anos carretas e carretas de dinheiro público para construção por empreiteiras de apenas seis quilômetros do sistema calça curta, ainda sem data para inauguração.
O governador da Bahia é mais amigo e próximo ainda da presidente Dilma Rousseff. Daí as dúvidas que pipocam do planalto central do país ao vale do São Francisco, sobre a real intenção e significado de suas palavras: uma das grandes incógnitas até aqui deste novo imbróglio nacional da política e do poder.
Simples rebate falso em razão de informações incompletas com signos embaralhados? Ou teria Wagner atuado à moda dos cartolas do nosso futebol, em jogo combinado com o Planalto para ganhar tempo?
A resposta provavelmente virá com o tempo, senhor da razão e eterno esclarecedor de todas as dúvidas. Por enquanto, vale ficar atento ao segundo tempo deste jogo escandaloso, capaz de causar espanto até mesmo no país em que o escândalo vai paulatinamente deixando de ser exceção para virar regra.
Está em andamento - nos bastidores e à luz do dia - uma guerra que abala os intestinos do governo. Disputa-se agora o valioso botim largado às pressas por Alfredo Nascimento, o ministro do PR à frente dos Transportes desde o governo Lula.
Por lá transitam descontroladamente alguns dos mais caros e ambiciosos projetos e grandes obras rodoviárias e ferroviárias.
Terreno fértil de corrupção, propinas e negociatas políticas e financeiras, onde fortunas se multiplicam em "toques de mágica" do dia para noite, como tem revelado fartamente o noticiário destes últimos dias, a partir de devastadora reportagem da revista Veja.
Em meio ao tiroteio cerrado no escuro "Saloon" do governo Dilma pela mina de ouro dos Transportes, o senador gaúcho Pedro Simon (PMDB), de olhos e sentidos atentos, habituados a enxergar na escuridão, faz perguntas de incontestável relevância e espírito público ao ser entrevistado pelo repórter baiano Claudio Leal para a revista digital Terra Magazine. Uma delas: "O PR vai se reunir de novo e indicar um cidadão como esse que tá aí?"
E, dirigindo-se diretamente a quem presumivelmente deve assumir a responsabilidade da última palavra nesta "história cabulosa" (como dizem os baianos), Simon cava mais fundo: "A presidente tem que entender, pois é fundamental: o partido pode fazer a indicação política, mas ela tem que fazer a triagem, tem que saber qual é a ficha do cidadão, porque se é um vigarista, ela aceita ou não aceita. Na hora de fazer a indicação, já que os partidos infelizmente não fazem, ela tem a obrigação de fazer a fiscalização".
Nada mais a acrescentar. Agora é esperar e conferir o resultado quanto à escolha do novo ministro e o andamento das investigações para identificar, levantar provas e punir os vigaristas.

Vitor Hugo Soares
DO BLOG DO NOBLAT

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