quarta-feira, 1 de junho de 2011

PF identificou desvios em Campinas

Documentos obtidos em investigação sobre construtora reforçam suspeitas que cercam contratos de prefeitura

Papeis encontrados em 2009 mencionam obra e pagamentos apontados por delator ouvido por promotores estaduais

SILVIO NAVARRO
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO

Documentos apreendidos pela Polícia Federal durante investigação sobre os negócios da construtora Camargo Corrêa em 2009 reforçam indícios de desvios apontados nos últimos dias pelo Ministério Público Estadual na Prefeitura de Campinas (SP).
Os promotores estaduais investigam fraudes em licitações da empresa de água e saneamento básico do município, a Sanasa, e pagamentos de propinas a fornecedores da prefeitura. A primeira-dama Rosely Nassim Santos é apontada como mentora do esquema de corrupção.
Em depoimento ao Ministério Público Estadual, o ex-presidente da Sanasa Luiz Augusto Castrillon de Aquino disse que a Camargo Corrêa pagou propinas após ser contratada para construir uma estação de tratamento de esgoto para a empresa.
Aquino revelou detalhes do esquema aos promotores em troca da promessa de que será poupado quando os envolvidos no escândalo forem denunciados à Justiça.
Ele disse que as propinas variavam de 5% a 7% dos pagamentos mensais feitos à Camargo Corrêa e apontou dois funcionários da construtora como responsáveis pela entrega do dinheiro. Aquino disse que ele e outro diretor da Sanasa, Aurélio Cance Júnior, recolhiam o dinheiro.
Papeis da Camargo Corrêa apreendidos pela PF na operação Castelo de Areia fazem referência à obra da Sanasa, indicam valores de pagamentos e sugerem que Cance Júnior seria um contato da empreiteira em Campinas.
A Procuradoria da República chegou a encaminhar a papelada para o Ministério Público Estadual na época, mas é improvável que ela seja usada quando o caso de Campinas for levado à Justiça, por causa das dúvidas existentes sobre a legalidade da operação Castelo de Areia.
Em abril, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou todas as provas colhidas pela PF nas investigações, aceitando o argumento da Camargo Corrêa de que elas tinham como origem escutas telefônicas iniciadas depois de uma denúncia anônima.
Escutas feitas neste ano pelos promotores que investigam o caso de Campinas captaram um diálogo em que Aquino discute a controvérsia com um fornecedor da Sanasa que fora intimado pelo Ministério Público a depor.
O diálogo ocorreu em 6 de abril, um dia depois da decisão do STJ. "O Castelo de Areia eles não podem usar não", disse Aquino, segundo os promotores. "Tudo o que for tirar dali está ilegal."
B LILICARABINA

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