quarta-feira, 1 de junho de 2011

Palocci se comporta como o seqüestrador da racionalidade do governo. É como se dissesse, “sem mim, você terão de agüentar a Dilma”

Palocci é hoje, para lembrar o grande Fernando Pessoa, um “cadáver adiado que procria”. Já era! Ainda que não caia, não recupera nunca mais a força política que teve. Qualquer que seja o interlocutor, do outro lado da mesa estará alguém olhando para um ministro de estado que só consegue explicar seu patrimônio se não explicar coisa nenhuma.
Um chefe da Casa Civil tem algumas tarefas delicadas. Não pode andar com os ombros tão pesados, não. Seu silêncio — até a presidente teve de falar sobre o caso — é de uma estúpida arrogância. Parece se colocar, e se coloca mesmo, acima dos interesses da República.
Palocci tem a ser favor apenas as ameaças veladas de sempre, habilmente manipuladas junto a setores importantes da sociedade: “Olhem que, sem mim, vêm os radicais do PT; olhem que, sem mim, vem o Zé Dirceu; olhem que, sem mim, vêm os fisiológicos do PMDB; olhem que, sem mim, vocês terão de lidar é com Dilma Rousseff”.
O ministro se cala, em suma, porque se comporta como uma espécie de seqüestrador da racionalidade do governo. Tudo seguirá um padrão mais ou menos civilizado de governança desde que paguem o seu preço — desta feita, não o da consultoria, mas o institucional: ele ficar acima de qualquer investigação, ser um homem à margem das leis da República.
Em muitos aspectos, Palocci pode até ser o melhor deles, mas o fato é que o Brasil será muito pior se ele continuar ministro sem que explique como alguém pôde ficar milionário em tão pouco tempo.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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