Josias de Souza
Alertada com grande antecedência, Brasília preparou-se para a explosão. Em qualquer pedaço do mundo, a notícia sobre a abertura de inquéritos contra nove ministros, 29 senadores, 42 deputados e um interminável etcétera cairia sobre os políticos como uma bomba atômica. No Brasil alternativo do “bunker” brasiliense, o cogumelo radioativo teve o efeito de um traque.
Nenhum ministro suspeito será afastado. Enlameados, os presidentes do Senado e da Câmara continuarão em seus assentos. Os congressistas sob investigação desfilarão pelos corredores do Legislativo como se nada tivesse sido descoberto sobre eles. Ouve-se nos conselhos de “ética” das duas Casas legislativas um silêncio de cemitério. Jurado de morte, o sistema político brasileiro reage como se estivesse cheio de vida.
Em pleno processo de autodestruição, potencializado agora pelos despachos do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o governo de Michel Temer, um presidente cujo mandato está pendurado num julgamento da Justiça Eleitoral, negocia reformas modernizadoras com seu conglomerado arcaico. Por ironia, a primeira explosão chegou num dia em que o mandatário-tampão recebeu no bunker do Planalto os aliados que cuidam da reforma da Previdência. Autoridades e parlamentares asseguram que tudo terminará bem porque o governo transitório do Brasil alternativo tem um projeto e a economia já começa a reagir.
O deputado Vicente Cândido (PT-SP), relator da proposta de reforma política, consta da nova lista de investogados. Ganhou milhões de razões adicionais para apressar a criação do fundo que vai retirar do bolso do eleitor o financiamento das eleições. Apressará também a aprovação da lista fechada que esconderá do eleitorado os candidatos suspeitos que os partidos indicarão. Presididos pelos encrencados Aécio Neves e Romero Jucá, PSDB e PMDB, antes contrários à macumba que obriga o contribuinte a financiar o circo, sonegando-lhe o direito de escolher o palhaço de sua preferência, agora estão a favor.
Movidos por verdades próprias, os protagonistas da política fingem não perceber que a deterioração aumentou ao seu redor. Ela decorre da falta de legitimidade de um sistema político-partidário que apodreceu e desligou-se da realidade. Os alvos da Odebrecht pisam distraídos sobre os escombros com ares de doce normalidade. Se fossem condenados rapidamente pelo Supremo Tribunal Federal, seriam apresentados à realidade. Mas tanta anormalidade é algo que não costuma acontecer no Brasil alternativo do bunker.
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