Durou menos de quatro horas a proposta do presidente do PMDB, Romero
Jucá (RR), sobre a blindagem dos presidentes da Câmara, do Senado e do
Supremo Tribunal Federal contra processos judiciais por crimes
praticados antes do início dos respectivos mandatos. A proposta de emenda
constitucional havia sido protocolada às 18h12. Em nota distribuída às
22h01, a assessoria de Jucá informou sobre a desistência.
Eis o
teor da nota: “O senador Romero Jucá solicitou a retirada da tramitação
da PEC 3, de 2017, que altera o artigo 86. A retirada do projeto que
trata da linha sucessória foi feita após pedido do presidente do Senado,
senador Eunício Oliveira.” Afora a alegada contrariedade de Eunício,
colegas de Jucá que haviam subscrito a proposta avisaram que retirariam
suas assinaturas. Jucá recolhera 29 rubricas, apenas duas além do mínimo
necessário. Sua emenda cairia por falta de apoiadores. Para evitar o
vexame, o pajé do PMDB antecipou-se.
Mais cedo, Jucá dissera que
seu propósito não era o de blindar Eunício e o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), ambos mencionados nas delações da Odebrecht. Algo
difícil de crer, já que sua proposta estende à dupla de comandantes do
Legislativo a prerrogativa constitucional já assegurada ao presidente da
República de não ser processado por crimes dissociados do exercício do
mandato. “Vamos ao debate”, dissera Jucá mais cedo. Nas palavras do
senador, quem votasse contra iria se “agachar”.
A repercussão da emenda de Jucá foi extraordinariamente negativa.
Ao perceber que haviam enfiado suas assinaturas numa proposta
radioativa, os apoiadores começaram a bater em retirada. E as
justiticativas de Jucá caíram no vazio: “Não há intenção de blindar
ninguém”, havia declarado o senador. “Só estamos dando o mesmo
tratamento constitucional do presidente da República aos presidentes dos
outros Poderes.”
Na versão de Jucá, “um presidente de Poder não
pode, por vontade única de um procurador, ser sacado do cargo. Não entra
na minha cabeça que um presidente, a qualquer momento, possa sair da
linha sucessória pela vontade individual de alguém. Isso não é
democrático.”
Protagonista de oito inquéritos relacionados à Lava
Jato, Jucá frequenta as planilhas da Odebrecht associado ao apelido de
‘Caju’. Com a emenda da blindangem, desceu à crônica da resistência como
autor de um presente para Eunício, o ‘Índio’, e Maia, o ‘Botafogo’. Se a
proposta vingasse, a dupla só poderia ser processada depois de
fevereiro de 2019, quando terminam seus mandarinatos.
A emenda
constitucional de Jucá começaria a tramitar pela Comissão de
Constituição e Justiça do Senado, presidida por Edison Lobão (PMDB-MA),
outro astro da Lava Jato. Prevalecendo ali, iria ao plenário do Senado
com o apoio do líder do maior partido, Renan Calheiros (PMDB-AL),
batizado de 'Justiça' no papelório da Odebrecht. Por ora, não colou. DO J.DESOUSA
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