De
irresponsáveis em relação a própria saúde a culpados por todos os
problemas de saúde pública da humanidade, os fumantes cumpriram uma
lamentável jornada – comandada pela mídia e pelos intelectuais
“preocupados com o futuro da raça humana” – que agora ameaça ser
repetida com os motoristas de automóveis particulares.
Ao menos no Brasil, tal “projeto” já está em curso: demonizar e culpar
quem dirige por tudo que dá errado nas cidades. Se você tem dúvida
disso, vale a pena assistir à entrevista de mais um “professor da USP”.
Cuidado: tem um ciclista no seu
retrovisor. O nome dele é Alexandre Delijaicov, professor de
arquitetura na FAU-USP (de onde mais?). Ele não é o único: suas ideias
radicalíssimas a respeito da “vida nas cidades” (na verdade, a respeito
de tudo: do capitalismo, da liberdade individual, do progresso, etc.)
já encontram um eco tímido nos meios de comunicação, tal como aconteceu
com aquelas em relação ao tabagismo no início da perseguição
empreendida contra seus adeptos. Tomando por base o texto de Walter E.
Williams (http://www.midiaamais.com.br/ eua-e-geopolitica/7971- americanos-complacentes),
por exemplo, não é de se surpreender que, daqui a alguns anos, a opção
individual pelo transporte tenha virado caso de polícia, e pessoas
comuns (que não é o caso do Sr.Delijaicov, como veremos mais adiante)
não poderão mais decidir como se locomovem – nem a que velocidade, e
possivelmente sequer aonde vão.
Segure a respiração e assista ao programa “Provocações” onde o professor é entrevistado por Antonio Abujamra (http://tvcultura.cmais.com. br/provocacoes/programa-562- com-o-arquiteto-alexandre- delijaicov-17-04-2012).
Caso você sobreviva à canastrice mastodôntica do apresentador, você
será surpreendido (e, não raro, ofendido) pela agudeza intelectual de
Delijaicov e pela sutileza e “tolerância” (não é o tipo de palavra que a
mídia adora usar?) com que ele se refere aos motoristas e à “classe
média” – às “pessoas comuns”, enfim.
Delijaicov idealiza uma “cidade
planejada”, onde as pessoas se deslocam apenas segundo a sua vontade (a
vontade “dele”, não a sua, leitor). O automóvel seria uma “célula
cancerígena”, uma “praga” que “mata mais que qualquer guerra civil”
(você já ouviu esse tipo de coisa a respeito das armas de fogo nas mãos
de civis, não foi?), um hábito “peçonhento”. A carteira de motorista,
na visão dele, seria um “porte de arma” para pessoas “abduzidas” e
“hipnotizadas” pela sedução da publicidade do automóvel. Quanto ao
motorista em si, o professor não é mais generoso. Ele diz, espumando:
“VOCÊ É UM POTENCIAL ASSASSINO. NÃO TEM CONVERSINHA”. Que medo.
Para Delijaicov, a classe média
precisa reinventar-se, deixando de ser “egoísta, perversa e
dissimulada”. Em sua cidade “planejada” ideal, a velocidade máxima
“deveria ser 30km/h”, “independente do que diz o código” (código para
quê?). As pessoas conviveriam em “esquinas culturais” (mesmo se elas
não quisessem, professor?), mudando o “jeito de ver o mundo, as
mentalidades...”. E o mais importante: para finalmente dispensar o uso
dos automóveis particulares, todos deveriam “morar perto do trabalho”
ou “trabalhar de perto de casa”. Simples, não? Especialmente pensando
em cidades com 10 milhões de habitantes.
A ideia brilhante do professor é
aumentar o remédio que piorou a doença: ou seja, colocar mais poder na
mão dos agentes públicos e dos políticos para que eles controlem ainda
mais a vida nas cidades – mas não foram esses mesmos agentes públicos e
políticos que desenharam as cidades congestionadas e violentas onde
vivemos? Os motoristas, esses vilões temíveis da “vida coletiva”, nada
mais fizeram que trabalhar, comprar seus carros (recolhendo para isso
pesados tributos e taxas, que no final das contas pagam os salários de
funcionários públicos como o próprio senhor Delijaicov para que ele
possa apontar o dedo de volta e gritar “Culpados!”) e tentar
deslocar-se nas ruas projetadas e mantidas – repetimos – pelos mesmos
protagonistas que, agora, precisam de “mais poder” para mudar tudo de
novo (vamos cruzar os dedos para torcer que, desta vez, dê tudo certo).
Sempre monitorados, claro, pela “sociedade civil organizada” (que, no
final das contas, é representada pelos mesmos intelectuais, militantes
profissionais e sindicalistas que também ocupam a máquina pública).
Qualquer pessoa sensata sabe que a
vida em nossas cidades é opressiva e violenta e o trânsito é caótico
porque nossas autoridades são incompetentes e não precisam dar
satisfação do que fazem a ninguém (vide a doação feita agora ao
Instituto Lula pela Prefeitura de São Paulo: http://veja.abril.com.br/blog/ reinaldo/geral/bom-senso- vereadores-tentarao-barrar- cessao-de-terreno-ao- instituto-lula-em-sp/),
usando o espaço público como se fosse coisa particular; porque a
gestão das ruas está, como de resto toda a máquina pública, aparelhada e
politizada por sindicatos e partidos políticos de esquerda (a
meritocracia não existe, logo há muitos incompetentes em cargos
importantes e tomando decisões erradas); e porque, especialmente, a
cultura de leniência e relativismo imposta por intelectuais de esquerda
(e não seria Delijaicov mais um deles?) impede que criminosos e pessoas
que cometem delitos (inclusive nas avenidas, dirigindo seus carros
embriagadas sem medo das consequências) respondam por seus erros – num
círculo vicioso que transforma, isso sim, pedestres, passageiros e
motoristas em “potenciais criminosos” que sabem que dificilmente terão
de pagar por seus atos (a exemplo de políticos corruptos, assassinos,
estupradores, traficantes, etc.).
Abujamra é péssimo entrevistador. Do
contrário, teria perguntado ao arquiteto sua opinião a respeito das
Autobahns alemãs [*], ou se esse tipo de “revolução restritiva aos
carros particulares” valeria também para a Califórnia, por exemplo. Ou
por que o trânsito e a segurança nas ruas é melhor na Alemanha (onde os
Audis e BMWs não têm limite de velocidade) e nos EUA (onde
adolescentes de 16 anos já dirigem). Ou o que fazer com pedestres
indisciplinados, com ciclistas que pedalam na contramão, com skatistas
que esbarram em velhinhas na calçada, ou ainda com assaltantes que se
aproveitam da paralisia do trânsito para roubar e matar. Fica para uma
próxima oportunidade – ou não.
Alexandre Delijaicov diz que “pedala
há 14 anos”. Perguntado pelo apresentador desavisado como ele veio até a
TV Cultura dar sua entrevista, ele responde, algo embaraçado: “no
automóvel da TV Cultura” – afinal, ele não é uma “pessoa comum”,
sujeita às mesmas regras criadas pelos engenheiros sociais e
revolucionários das salas de aula.
Isso mesmo, professor: andar de carro
foi conveniente e rápido para o senhor, oportuno para a atividade a
ser desenvolvida, seguro e confortável. Certamente ele voltou para casa
de carro também. Tudo bem. A revolução pode esperar mais um pouco.
[*] A Autobahn na Alemanha nada mais é
que uma auto-estrada. O que diferencia as Autobahns das autoestradas de
outros países é a ausência do limite de velocidade, porém,
recomenda-se uma velocidade de 130 km/h. Somente estradas de duas vias
em cada direção são consideradas do tipo Autobahn, na Alemanha.
Obviamente há limite de velocidade em lugares considerados perigosos,
regiões montanhosas, estradas sinuosas ou perto de regiões urbanas com
trânsito intenso. (http://pt.wikipedia.org/wiki/ Autobahn)
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