segunda-feira, 18 de julho de 2011

Passem o colunista no bafômetro.

Na sua coluna semanal da Folha, publicada hoje e que segue abaixo, Aécio Neves (PSDB-MG) desenha um Brasil que só ele vê. Um Brasil, por exemplo, "em que o cidadão é cada vez mais protagonista da cena política, e não só destinatário dos discursos políticos..." Aos olhos dele, parece que há um intenso movimento de brasileiros em busca de mudanças. Ainda bem que ele termina a coluna com a palavra certa: "tomara!", porque não é nada disso. Passem o bafômetro no moço antes de publicar! 

Itinerário da transformação

Neste meu tempo de vida pública -quase três décadas-, tive o privilégio de viver experiências marcantes, algumas definitivas, que adensaram minhas crenças na ação política. Desde as Diretas-Já e Tancredo, a Constituinte de 1988, o exercício da liderança partidária no Congresso, as grandes reformas empreendidas nos anos 1990, depois a presidência da Câmara e por duas vezes no governo de Minas, compreendi que não há outro caminho para avançar que não passe por ela, a política.  O contrário também é verdade: quando amesquinhada e violentada, ela pode se transformar no espaço da intransigência e, por consequência, do impedimento às mudanças necessárias.  Avançamos sempre quando a boa política preponderou, guiada pelas causas nacionais de cada tempo. Os saltos que demos, em cada fragmento da história, foram resultantes das dinâmicas capazes de construir convergências -ainda que tênues- e soluções, ainda que só as possíveis. 

Hoje, há claros sinais de que uma silenciosa transformação está em curso na direção de uma nova convergência, cujo centro é um inédito protagonismo do cidadão. Inédito porque, desta vez, não há uma grande bandeira a ser hasteada pelas multidões, como as que encheram as praças nas Diretas-Já. Se não há mais protestos reunindo milhares, eles se movem pelo dia a dia animados por questionamentos e fortalecidos por convicções e indignações depositadas à porta dos poderes públicos.  Cada vez menos brasileiros estão dispostos a aceitar os pequenos e os grandes pecados sublimados pelas burocracias governistas. 

Igualmente, é muito menor na vida cotidiana a resignação quanto às nossas eternas contradições, que perpassam diferentes gerações e governos. A lista é infindável e energiza uma nova consciência brasileira.  A impressionante troca de opiniões e ideias nas redes sociais dá a dimensão da enorme vontade de participação popular nas decisões antes exclusivas à corte. É uma mobilização natural, a favor do Brasil, que vem sendo construída fora da ortodoxia dos ritos partidários e da política formal, e que reflete o imutável desejo coletivo de, finalmente, conquistarmos um projeto de país mais solidário.

É essa força, aparentemente desorganizada, que assume, aos olhos da sociedade, a legitimidade perdida pelos sindicatos e movimentos sociais que, aparelhados, deixaram de ser os instrumentos catalisadores das mudanças. Vivemos um novo tempo em que o cidadão é cada vez mais protagonista da cena política, e não só destinatário dos discursos políticos. Esse parece ser o caminho definitivo da nossa verdadeira transformação como sociedade e como indivíduos. Tomara!

DO B. DO CEL

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