segunda-feira, 13 de junho de 2011

As oposições podem fazer uma grande besteira com os números do Datafolha ou podem ajudar o país. Vamos ver qual será a escolha.

A Folha publicou, como vocês viram, pesquisa no domingo sobre o governo Dilma. Em março, consideravam-no “bom ou ótimo”, segundo o Datafolha, 47% dos entrevistados; agora, são 49%, uma oscilação dentro da margem de erro. O jornal insiste em comparar a segunda pesquisa sobre a gestão Dilma com a segunda sobre o primeiro mandato de Lula; por esse critério, ela está sete pontos acima do seu antecessor. Eu insisto em fazer outra comparação: em 20 de dezembro de 2010, a aprovação ao governo Lula era de 83%. Se, na conta da Folha, ela fica sete pontos acima de Lula, na minha, ela fica 34 abaixo. Por que o meu critério me parece mais razoável? Porque dezembro de 2010 está bem mais próximo do eleitor, de todos nós, do que junho de 2003. Mais: como a própria pesquisa deixa claro numa outra questão (já falo a respeito), o eleitor vê o governo como uma continuidade. Mas não é esse aspecto em particular que me traz aqui. Quero tratar de outro assunto: as oposições passaram oito anos reféns do “pesquisismo”. Se caírem de novo na armadilha, podem fechar as portas e brincar de outra coisa. O que quero dizer com isso?
Estaria eu aqui a fazer profissão de fé contra as pesquisas? Eu não!, embora seja essa hoje uma das áreas que mais concentram falsos sábios, mistificadores e larápios. Com alguma lábia, engabelam-se mesmo as pessoas mais inteligentes, especialmente com as chamadas “pesquisas qualitativas”, conhecidas por “qualis”, forma reduzida que já virou um jargão. O chute, a inferência infundada e a interpretação de alcance quase literário são tratados como uma verdadeira categoria de pensamento ou como uma aritmética.
Mas há pesquisas sérias, caro! De que seriedade estou falando? São feitas segundo as técnicas recomendadas pela ciência, e os números apurados não são fraudados. São um importante instrumento de orientação para políticos, empresários, cientistas sociais etc. No caso da política, é preciso saber o que fazer com os dados colhidos. As pesquisas — “quantis” (quantitativas) e “qualis” — respondem, em parte, pelo recuo das oposições em 2005, quando desistiram de levar adiante o que recomendavam o bom senso e a moralidade: o impeachment de Lula. A “aprovação” a seu governo — ou, ao menos, a não-reprovação — levou ao temor de que a jornada pudesse ser impopular e dividir o país. E olhem que não eram números estupendos… Bem, o resto já é história.
O comportamento tímido das oposições, em especial do PSDB, ao longo de oito anos de mandato de Lula sempre foi orientado pelo temor das ruas — “Ah, ele está com o povo; nada o abala; então precisamos ir com muito cuidado”. Destacados líderes do campo adversário sempre o pouparam de críticas, mesmo quando dizia ou fazia as maiores barbaridades — “Cuidado, ele é popular”. Parece-me evidente que a popularidade do governo Dilma, na comparação com a do antecessor, despencou, mas, de fato, ainda é bastante apreciável. Feito o levantamento logo depois da crise que colheu Palocci, avaliam alguns que o caso não mexeu de modo significativo o eleitor, embora existam dados preocupantes para o governo.
Pode-se tomar uma pesquisa como essa como evidência de que a oposição tem de moderar muito a sua linguagem — caso contrário, acabará quebrando a cara num eventual confronto — ou como evidência de que é preciso politizar ainda mais o debate, organizando-se para expor, de modo mais claro, os erros e as ineficiências da gestão. Na primeira hipótese, a ausência de uma crítica mais contundente, por óbvio, acaba sendo um fator que contribui para que a aprovação se mantenha num patamar elevado; na segunda, aposta-se no possível esclarecimento — segundo, claro, a ótima da oposição.
Prestem atenção a um aspecto desse levantamento do Datafolha: Dilma teve uma acolhida de boa parte da imprensa que não foi dispensada a nenhum outro presidente, nem a Lula. Tentava-se criar o mito da Soberana, que apelidei aqui de Rainha Muda, aquela que governa em silêncio, circunspecta, séria, culta, preocupada, cobradora etc. O marketing oficial ganhou o colunismo. A presidente lançou a “segunda fase” do “Minha Casa, Minha Vida” e o tal “Brasil Sem Miséria”… Quem pode assegurar que o caso Palocci realmente foi inócuo no que respeita à popularidade do governo? Ninguém! E eu tendo a achar que não foi. Querem ver?
Consideram que o episódio prejudicou o governo 60% dos entrevistados, e só um terço aprova o comportamento da presidente durante a crise. Para 57%, Dilma conhece, sim, a lista dos clientes de seu ex-ministro (contrariando a verdade oficial): têm essa opinião 56% dos que ganham até cinco salários mínimos; o número salta para 67% na faixa entre cinco e 10% e atinge 80% nos que estão acima dessa faixa. A informação costuma ser diretamente proporcional à renda. Em março, achavam Dilma uma pessoa decidida 79% dos entrevistados; agora, são 62%. A inflação preocupa mais hoje do que há três meses: 51% acreditam que ela continuará a subir — eram 41% em março, quando 43% avaliavam que o poder de compra continuaria a crescer; agora, são apenas 33%.
Lula
Uma última questão a destacar antes que caminhe para o encerramento. Acham que Lula deveria participar das decisões de Dilma nada menos de 64% dos entrevistados. Surpreendente? Não! O eleitor vê o governo como o terceiro mandato dos petistas — afinal, quem foi o fiador da “mulher da Lula”? Parece-me que aí está a evidência de que é um erro comparar a popularidade de Dilma com a de igual período de seu antecessor… em 2003! O Lula que elegeu Dilma é aquele que governava em 2010.
A presidente tem uma pedreira pela frente. A infraestrutura basileira, no ritmo em que vai, caminha para o colapso. Relatório do TCU (ver posts abaixo) indica que os petistas são ruins de serviço, como atestam, diga-se, portos, aeroportos e estradas. As obras da Copa do Mundo estão paradas, e se considera que só podem ser tocadas ao arrepio da Lei de Licitações. Vem um embate por aí no Congresso. É a incompetência de antes que pede uma lei de exceção.
O papel cívico da oposição é lutar para o Brasil dar certo. O Brasil só dará certo com democracia, confronto de idéias e denúncia dos malfeitos e da incompetência. Para aplaudir, já existem os governistas. Se vocês notarem bem, até eles estão bastante hesitantes… Sabiam bater bumbo com 83%; com 49%, já acham que é o caso de tomar certos cuidados.
Por Reinaldo Azevedo

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