quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cueca e calcinha com mensagem! Logo dirão qual é o lado certo para acomodar “Adamastor, o Sacrílego Gigante”

O jornalista americano David Harsanyi cunhou a expressão “Estado-babá” para designar a tendência de hipertrofia do estado, que se mete em todas as searas da vida do cidadão. E há quem ainda ache pouco. Uma pessoa com tendências hiperbólicas poderia dizer, num rasgo de indignação de gosto duvidoso: “Querem mandar até nas nossas cuecas, até nas nossas calcinhas!” ‘Pois é… Chegamos lá. Leiam o que informa a Folha Online. Volto em seguida:

Etiqueta de roupa íntima terá de alertar sobre câncer
Por Larissa Guimarães:
Roupas íntimas terão de ser vendidas no Brasil com etiquetas que alertarão contra os cânceres de mama, colo de útero e próstata. O projeto de lei que prevê a nova regra foi aprovado ontem de forma conclusiva pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados. Como o projeto já havia passado pelo Senado, o texto seguirá para a sanção presidencial, caso não haja recursos no prazo de cinco dias. Pela proposta, as cuecas de tamanho adulto terão de trazer uma etiqueta com advertência sobre a importância do exame de câncer de próstata para os homens com mais de 40 anos.
Também será obrigatória a fixação de mensagem em calcinhas no tamanho adulto sobre “a importância do uso de preservativos como forma de prevenção do câncer de colo de útero e da realização periódica, por todas as mulheres com vida sexual ativa, de exames de detecção precoce dessa doença”. Nos sutiãs, a etiqueta deverá alertar sobre a importância do autoexame dos seios para detecção precoce de câncer de mama, além de trazer informações sobre como fazer o exame. A regra se aplica a todas as peças produzidas ou vendidas no Brasil, mesmo aquelas importadas.
O projeto prevê ainda uma série de punições para as empresas que descumprirem a regra, como apreensão do produto, suspensão da venda ou da fabricação, cancelamento de autorização de funcionamento da empresa e proibição de propaganda. O Ministério da Saúde irá definir como será a aplicação e a fiscalização da nova regra. Após a sanção presidencial, fabricantes e comerciantes terão 180 dias para se adaptar à novidade. O projeto tramita no Congresso desde março de 1999. Foi apresentado pelo ex-deputado Barbosa Neto (PMDB-GO). Ao justificar a proposta, naquela época, o ex-deputado argumentou que “a informação nas mãos do consumidor tende a alertar de modo contínuo”.
Para o mastologista do Hospital Sírio Libanês, José Luiz Bevilacqua, todas as formas de informação são importantes, mas a orientação sobre a realização do autoexame dos seios não é a recomendada pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer). “Isso é completamente inapropriado”, diz Bevilacqua. “O certo, segundo o Inca, é fazer mamografia a partir dos 50 anos.”
Voltei
Nunca li as etiquetas das minhas cuecas e tenho a certeza de que não perdi grande coisa. Não por pudicícia, mas por pudor cívico, tenho até certa vergonha de escrever a respeito desse assunto. É impressionante que as coisas tenham chegado a esse ponto!
A roupa íntima é, primariamente, uma questão de higiene — eventualmente, da falta dela. Ganhou, com o tempo, um apelo erótico. Agora, cuecas, calcinhas e sutiãs podem passar por um processo de “medicalização cidadã”. No caso da mensagem sobre o câncer de seio, ademais, alerta um especialista, a orientação é inadequada. Mais um pouco, haverá Brigadas do Bem prontas a conduzi-lo, leitor, a uma exame  de próstata, ainda que você não queira. Entenda: não existe propriedade privada, nem a do corpo, quando o assunto é o seu bem-estar, entendeu?
Estamos num processo progressivo de estatização dos orifícios!
É uma decisão asnal. Depois da segunda ou terceira vez — na hipótese de que alguém lerá a primeira —, ninguém nem mais vai se lembrar da etiqueta; estará lá como outra qualquer, a exemplo daquelas recomendações presentes em todas as roupas sobre como lavar, secar, passar…
Logo vão querer decidir, para usar a lingaugem de Camões, qual é o lado certo para acomodar “Adamastor, o Sacrílego Gigante”, que parece um esquerdista nato, mas, você sabem, é só uma questão cultural…
Vivemos sob a era da tutela. Resumiu um leitor deste blog em 2008:
“Vai transar? O governo dá camisinha e pílula. Já transou? O governo dá pílula do dia seguinte. Engravidou? O governo dá o aborto. Teve filho? O governo dá Bolsa Família. Tá desempregado? O governo dá Bolsa Desemprego. Vai prestar vestibular? O governo dá o Bolsa Cota. Não tem terra? O governo dá o Bolsa Invasão”.
Na pinta!
Quem diria! Eu jamais imaginei — e nem ela, vinda lá das lidas da VAR-Palmares —  que Dilma Rousseff, um dia, decidiria a conformação das nossas cuecas, calcinhas e sutiãs.
Por Reinaldo Azevedo
REV.VEJA

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