É, meus amigos, a tarefa realmente é gigantesca. FHC escreveu um ótimo artigo - na verdade, um ensaio - sobre o papel da oposição no Brasil. Discordo de pouquíssima coisa, de que ainda tratarei com mais tempo. No essencial, está corretíssimo. Uma única palavra tomou a atenção de setores da imprensa e dos políticos: “povão” - é a “imprudência” de quem escreve sem se deixar patrulhas. O ex-presidente disse o óbvio: há setores que foram capturados pelo PT. O PSDB tem de pensar em outra agenda.
Reportagem publicada hoje pela Folha passa a impressão de que só José Serra leu o que FHC escreveu. O resto se contentou com resumos um tanto desonestos feitos por alguns jornalistas. E sobrou bobagem pra todo lado. É, FHC, é desalentador! Se ilustres tucanos não conseguem entender o que lêem, esperar o quê? Com certa ironia, claro!, seria o caso de perguntar de FHC e Serra não acham que é chegada a hora de mudar de partido…
FHC fundiu a cuca de muita gente. Vai ver é por isso que ele chegou à Presidência da República duas vezes, ambas no primeiro turno — o único a fazê-lo. Os críticos poderiam ter um pouquinho mais de modéstia intelectual. Afinal, dizem que imodesto é FHC…
Por Catia Seabra e Vera Magalhães:Líderes da oposição, entre eles Aécio Neves (PSDB-MG), discordaram ontem do teor do artigo em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso propõe que desistam do “povão” para investir na nova classe média.
Já o ex-governador José Serra fez vários elogios ao texto e disse que este não é o “ponto essencial” do texto.
Em “O papel da oposição”, escrito para a revista “Interesse Nacional” e antecipado ontem pela Folha, FHC diz que “enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”.
Aécio elogiou o texto, mas se disse “mais otimista” que FHC quanto à chance de conquista dos eleitores de baixa renda. O tucano mineiro afirmou que “é preciso se inserir no Nordeste” e se aproximar dos movimentos sociais.
Ele disse que, em Minas, o PSDB teve apoio “maciço” desse segmento nas últimas eleições. “O próprio governo do presidente Fernando Henrique possibilitou a maior transição de classes já vivida no Brasil, muito além do que o Bolsa Família tem proporcionado, que foi o fim da inflação”, afirmou. Serra disse à Folha que compartilha em “gênero, número e grau” com a “essência” do artigo: “O problema do PSDB e da oposição é de rumo, de clareza, de coerência. Como um todo, não se sabe bem o que o partido defende, nem de que lado está”.
O ex-governador de São Paulo também concorda com o ex-presidente “quando ele adverte para o fato de que as oposições não conseguirão disputar com o PT o aparelhamento do Estado, porque a nossa vocação é outra”.
Já líderes da oposição no Congresso discordaram do texto de forma mais aberta.
“Um partido tem de ter sensibilidade social. E ela deve ser voltada justamente às camadas mais pobres”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Alvaro Dias (PR).
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que a oposição tem de “ampliar sua capacidade de se comunicar com todos os segmentos sociais” e “sair do Congresso e ganhar as ruas.”
A avaliação dos tucanos é que a tese de FHC do foco na classe média contraria a tentativa de Aécio e do governador Geraldo Alckmin, de consolidar uma marca social e se aproximar dos sindicatos.
Aliados de Alckmin evitaram críticas ao artigo. Avaliaram que, de fato, o partido não pode descuidar da classe média, mas também não pode deixar de investir em áreas onde não tem força.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), tentou minimizar a polêmica e disse que FHC foi mal interpretado, pois apenas “constatou que é mais fácil para a oposição se comunicar com a classe média do que com os beneficiários do Bolsa Família”.
Em entrevista à rádio CBN, FHC reafirmou o conteúdo do artigo: “Em vez de permanecer num corpo a corpo permanente com o PT num terreno em que eles fincaram estacas, tem muitos setores da sociedade que não estão representados e que têm aspirações”, afirmou.
Em Maringá (PR), FHC voltou a dizer que “o PSDB precisa se aproximar de camadas sociais que não se interessam pela política”.
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