Por que, de súbito, tantos bacanas e “progressistas” se entregam à tese exótica de que a tragédia na escola do Rio, protagonizada por um desequilibrado — obcecado, vê-se, quando menos, pela estética do terror —, pede o desarmamento da sociedade, entendendo-se por isso, como resta óbvio, não o desarmamento dos bandidos, mas o do homem comum?
Não conseguem explicar a sua tese por meio da lógica; não conseguem estabelecer um liame histórico entre uma coisa e outra; não conseguem apresentar números, pesquisas, dados que abonem sua teoria; não se dão ao trabalho de justificar nem mesmo moralmente essa opção. Basta-lhes, como a gente nota, o dito bom sentimento, que não dispensa nem mesmo o suposto caráter didático, tragicamente pedagógico (para eles), do massacre. Certo senhor da tal entidade Viva Rio — que opina sobre Copa do Mundo, Olimpíada, violência e unha encravada — acredita que se pode fazer uma limonada do sangue dos infantes.
É uma gente infame, incapaz de argumentar com um mínimo de coerência, animada por vigaristas intelectuais que se negam a reconhecer o óbvio: violência se combate com polícia na rua — segundo a lei; não segundo o arbítrio —, enfrentando bandidos, prendendo-os, impondo a rotina da ordem em que escolheu viver a esmagadora maioria das pessoas, razão pela qual AS PESSOAS QUE ESCOLHERAM SER BANDIDAS têm de ser retiradas do convívio social. Mas é nesse ponto que bicho pega.
As esquerdas — as de hoje —, lá no fundo de sua alma perturbada, acreditam que o bandido é só um revolucionário que não deu certo, entendem?, um proto-rebelde. Vocês conhecem a atração que os marginais exercem em certa intelligentsia descolada. Houve um que achegou até a ser adotado por um banqueiro. Era o Rousseau do Comando Vermelho; o intelectual orgânico da pistola e do tráfico de drogas. Apostava-se nele para produzir um outro saber, alternativo, que não estivesse mascarado pelos interesses dessa sociedade burguesa e mesquinha…
Não é que essa gente considere a sério que os bandidos farão revolução um dia — porque isso, de fato, ninguém quer. Sabem que não acontecerá. É que esses caras precisam ter a certeza de que vivem na boa consciência; de que se distinguem dessa classe média abestada que paga impostos, que produz o pão que garante o circo. Em 2005, identifiquei direitinho o que queria a turma que disse “sim” no referendo sobre a proibição da venda legal de armas: criar a “aristocracia da bala”, já que só a alguns selecionados seria dada a licença para portar armas — empresas privadas de segurança de artistas e políticos, por exemplo. Ou como disse o leitor “Jokha”, num comentário: “Daqui a pouco ,o governo do PT vai aprovar uma lei que só permitirá porte de arma a quem possuir passaporte diplomático.” Na mosca! Especialmente a quem possui passaporte dipomático e… ilegal!
Esse amor “desarmamentista” da esquerda é coisa recente, bem como essa paixão pela bandidagem. Lênin mandava passar fogo na turma, não porque fosse um moralista — ele mandava matar, antes de tudo, gente boa —, mas porque bandido era contra-revolucionário, entenderam? Os esquerdistas modernos é que descobriram o potencial transformador do crime e passaram a flertar com ele, até que se tornasse uma verdadeira “cultura”.
Quanto às armas, dizer o quê? Era mais importante para os esquerdistas do que o Capítulo XXIV de “O Capital”. Como ler Marx era difícil e chato — consta que Dilma dava aula de marxismo quando moça… Jesus! —, preferiam a metranca. Hoje em dia, as esquerdas se fizeram pacifistas, entendendo-se por isso, obviamente, tirar as armas da mão de quem não é nem revolucionário nem bandido. É… De certo modo, não mudaram. Continuam sem ler o Capítulo XXIV…
É o casamento da ignorância com a mistificação.
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