segunda-feira, 25 de abril de 2011

Direção do DEM venceu, mas não levou as batatas. Ou: Demóstenes e Agripino fora do lugar

Os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Demóstenes Torres (DEM-GO) não merecem ficar preparando as exéquias de um partido moribundo. É uma situação incompatível com a importância que tiveram e que têm no Senado. Infelizmente, sobrou muito pouco da legenda, além da luta desesperada para se manter com o nariz acima da linha d’água. Embora Agripino fosse considerado mais próximo do grupo que decidiu radicalizar contra Gilberto Kassab e Jorge Bornhausen, nunca foi do tipo que investiu no impasse. Tentou o entendimento até a undécima hora. Sobre Demóstenes, então, nem se fale: ele realmente não tem qualquer vínculo político ou intelectual com os “Savonarolas” que apagavam incêndio com gasolina.

O DEM agora luta com unhas e dentes — o que lhe restou de uma coisa e de outra — para conseguir uma pasta no governo Geraldo Alckmin. Alguns sem-noção chegam a vazar até certo tom de ameaça: “Ou sai um cargo, ou a aliança corre risco…” São uns caras curiosos: contavam com a Prefeitura da maior cidade do país, cujo orçamento é maior do que o da maioria dos estados brasileiros, e investiram no impasse. Aí, com tudo perdido, magníficam o peso de uma secretaria de estado.
É um troço impressionante mesmo. Os deuses tiram primeiro o juízo daqueles a quem querem destruir. Os extremistas do DEM se fartavam na guerra interna que travavam contra  o prefeito da maior cidade do país (Kassab), o vice-governador do maior estado do país (Guilherme Afif), o líder político de um dos dois estados governados pelo partido (Jorge Bornhausen) e uma senadora que se constituiu numa liderança nacional, presidente de uma entidade de classe que reúne milhões de filiados (Kátia Abreu).  O poeta Ascenso Ferreira indagaria: tudo isso pra quê? E responderia: “Pra nada!”
O risco do extremismo, qualquer que seja ele, é, constatada a ineficiência da força bruta, imaginar que faltou mais força bruta…  Vá lá que tentassem pespegar a pecha de “traidor” em Kassab, primeiro a dar sinais de que se poderia criar um novo partido. Tinha alguma verossimilhança. O problema sempre foi fazer o mesmo com Jorge Bornhausen, por exemplo. Ou com Kátia Abreu. Quem, no DEM que restou, teria autoridade política ou intelectual para acusá-los de trair o ideário democrata ou liberal?
Pois é…
Conhecem a divisa do “Humanitismo” de Quincas Borba, o do Machado de Assis, não? “Ao vencedor, as batatas”. Costuma ser submetida a torções várias. Há a leitura ripongo-idiota, segundo a qual toda vitória é perda — e, nesse sentido, as “batatas” simbolizariam a recompensa inútil. Há a interpretação meio “esquerdopatizada”: Machado estaria denunciando a essência anti-humanista e antiética de teorias mecanicistas que lhe eram contemporâneas. Afinal, sabem como é, se ele é nosso maior escritor, então tem de ser também um guia moral…
Tio Rei acha que a frase vale absolutamente pelo que está lá: se batatas estão em disputa, o vencedor leva as batatas. Ponto final! É uma tautologia, não uma charada. A única teoria social que supõe que os fracos ficam com os louros desde que se unam é o comunismo. Deu do que deu. Mas volto ao ponto. Antes das batatas machadianas — na verdade, de Quincas Borba, o maluco-beleza de Machado — , há a expressão “vitória de Pirro”, alusão ao rei que venceu os romanos à custa de uma fantástica perda de homens e recursos. A vitória de Pirro, ela sim, é o ganho que é perda. Nesse caso, o vencedor fica sem as batatas.
Foi o que aconteceu com o grupo que hoje comanda o DEM.
Por Reinaldo Azevedo

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