“É preferível ser o primeiro numa vila a ser segundo em Roma”.
Pois é… A frase costuma ser mais elegantemente pronunciada por quem dispõe dos meios de… ser o primeiro em Roma! Afinal, ninguém cuja ambição fosse ser o primeiro numa vila teria conseguido tornar o lema famoso. Como escreveu o Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) do poema “Tabacaria”, “0 mundo é para quem nasce para o conquistar/ E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.”
O DEM, na prática, acabou. Confirmada a decisão do governador Raimundo Colombo, de Santa Catarina, de migrar para o PSD, levando junto uma penca de prefeitos, sobrará pouco para a legenda que já quis um dia ser um partido liberal. Sua cidadela relevante é o governo do Rio Grande do Norte, de Rosalba Ciarlini, aliada do senador Agripino Maia (RN), que hoje preside a legenda.
Mas que diabo aconteceu ao partido? A explicação mais óbvia, fácil e errada é que foi engolido pelo lulo-petismo. Os nove anos da oposição teriam dilapidado seu patrimônio eleitoral, demonstrando que não havia como, de fato, opor-se etc e tal. Ser oposição não é mesmo fácil, mas o mal que acometeu o DEM foi outro. E deveria servir de advertência ao… PSDB!
O grupo que tomou conta da direção do partido achou que sua grande e mais difícil missão era derrotar aqueles que passaram a ser considerados os “inimigos internos”. Isso costuma ser conseguido sem grandes dificuldades quando se controla a máquina. O problema é o que fazer, depois, com a vitória. Tanto o grupo triunfante não reproduzia a vontade do partido que, eleito o novo comando, deu-se para valer a diáspora.
Faltou tudo! Moderação, bom senso, maturidade. A disputa pelo comando do partido contou, imprudentemente, com uma clara interferência externa. O comando do DEM decidiu antecipar para 2011 a disputa eleitoral de 2014 — a rigor, ela já estava presente na eleição de 2010. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve peso importante na derrota do grupo de Gilberto Kassab e Jorge Bornhausen, como é público e notório. Foi uma jogada obviamente errada: para o DEM e para o PSDB.
Vamos ver. Um caminho provável para a legenda é a fusão com o PSDB, o que é uma operação menos tranqüila do que parece. Um dos melhores senadores da República, Demóstenes Torres (GO), pertence hoje a um partido esfacelado. O próprio Agripino Maia (RN), que sempre teve uma atuação muito respeitável no Senado, cumprindo a tarefa que lhe delegou o eleitor — fazer oposição — terá de encontrar o seu lugar nesse novo cenário.
A fusão representaria um ganho para o PSDB? Pode ser que sim, pode ser que não. Se o grupo que hoje resta no DEM aderir às hostes tucanas para se comportar, por exemplo, como um bolsão de pressão em favor de uma das alas, o vírus que destruiu o DEM pode apenas migrar de hospedeiro.
A imprudência e as ambições acima das sandálias destruíram o DEM. É bom o PSDB se cuidar.
É fácil ser o primeiro numa vila. Mas é extremamente difícil ser o segundo em Roma. Imaginem, então, ser o primeiro… Não basta querer.
REV.VEJA
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