quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Geddel soou em interrogatório como pré-delator


As noites na cadeia transformaram Geddel Vieira Lima num personagem enigmático. Mais magro, o ex-coordenador político do governo, amigo de três décadas de Michel Temer, revelou-se em depoimento à Justiça Federal uma solitária criatura. “Amigos de longa data me lançaram ao degredo, me lançaram ao vale dos leprosos”, disse ele. Lacrimejante, Geddel disse ter reencontrado no xadrez o padre Antônio Vieira, o célebre religioso português. “Os olhos foram feitos para ver e para chorar”, disse Geddel, evocando um sermão de Vieira.
Réu em vários processos, Geddel ainda não amargou nenhuma sentença. Mas já se considera um condenado desde o dia em que foi preso pela segunda vez, depois que a Polícia Federal estourou o cafofo em que ele mantinha em Salvador R$ 51 milhões. “Fui condenado à pior das penas. Não há remissão, não há indulto, não há anistia, não há graça. Fui condenado à morte civil”, disse o chegado de Temer.
No sermão citado por Geddel, “Olhar e Chorar”, o padre Vieira anota que “todos os sentidos do homem têm um só ofício; só os olhos têm dois.” Diz o padre: “O ouvido ouve, o gosto gosta, o olfato cheira, o tato apalpa; só os olhos têm dois ofícios: ver e chorar”. Ex-ministro de Lula e Temer, vice-presidente da Caixa sob Dilma, Geddel viu muita coisa. No depoimento ele soou como um pré-dalator. Alguém que pode provocar um estrago extraordinário se evoluir do choro para o relato de tudo o que viu. Foi como se dissesse aos amigos: “Decifrem-me ou eu os devoro.”

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