Para tucanos, abandono da base aliada pode ocorrer após votação da denúncia na CCJ
BRASÍLIA - Alvo de uma denúncia por corrupção passiva, o presidente Michel Temer pode perder, na próxima semana, o apoio daquele que tem sido o principal fiador de sua manutenção no cargo, o PSDB. Parlamentares tucanos que apoiaram o adiamento de uma decisão sobre o desembarque do governo na Executiva do partido, há cerca de três semanas, agora defendem que a situação se deteriorou e que o PSDB precisa tomar uma decisão rápida.
O timing para o desembarque, segundo integrantes da cúpula da legenda, será após a votação da reforma trabalhista no Senado e a votação da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, ambas previstas para a próxima semana. Senadores do PSDB acreditam que a movimentação não pode ocorrer antes disto, sob risco de comprometer a aprovação da reforma, apoiada pelo partido.
A contabilidade no Senado é de sete senadores tucanos, entre um total de onze, favoráveis ao desembarque. O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), além de Cássio Cunha Lima (PB), Ricardo Ferraço (ES), Eduardo Amorim (SE), Flexa Ribeiro (PA), Dalírio Beber (SC) e Antonio Anastasia (MG) estariam, segundo integrantes da cúpula, favoráveis ao desembarque. Resta convencer Aécio Neves (MG), José Serra (SP), Ataídes Oliveira (TO) e Paulo Bauer (SC).
– Embora o discurso de Aécio ontem tenha sido de permanecer no governo, ele tem que enfrentar os fatos. A posição de desembarque está cada vez mais clara no partido e cabe ao presidente apenas chancelar. Tem coisas que a gente não controla – afirmou ao GLOBO Tasso Jereissati.
Na Câmara, o placar estimado pelo líder do PSDB, Ricardo Trípoli (SP), é de 6 votos favoráveis à denúncia, contra apenas um apoio a Temer na CCJ.
Desta forma, explica Trípoli, a permanência na base aliada seria incoerente.
– O partido está com 6 votos a 1 na CCJ a favor da denúncia contra Temer. Deste jeito, fica inadmissível continuar no governo. A evolução dos fatos e a defesa que vimos que o presidente fez não é satisfatória. Isso gera desconfiança, insegurança. Esse é o grande problema hoje. Apenas criticar o procurador-geral da República não é defesa, é um problema muito grave. A rua diz outra coisa. Entre a rua e a fala de um presidente sob suspeição, é difícil ficar contra as pessoas – afirma Trípoli.
Para Cássio Cunha Lima, Temer receberá, em breve, um “voto de desconfiança”, não só do PSDB, mas de todo o Congresso. O senador destaca que o sucessor de Temer no caso de afastamento do cargo é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem, assim como o peemedebista, grande trânsito entre os deputados.
– Com a escolha de um relator da denúncia do PMDB, mas que deve ter um parecer contra o presidente, a situação dele fica insustentável. Temer já não tem apoio da sociedade, o que lhe restava era o apoio parlamentar. Mas, seu eventual sucessor, Rodrigo Maia, é alguém que dispõe do mesmo capital político que ele tem, que é a boa relação com a Câmara. Como estamos vivendo esse parlamentarismo informal, Temer está prestes a receber um voto de desconfiança do Parlamento. Não só pela prisão de Geddel, de quem ele é tão próximo, mas por todos os acontecimentos – afirma Cássio. DO O GLOBO
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