Foi muito preciso o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung,
quando classificou de “sequestro” a greve dos policiais militares no
Estado. “O que está acontecendo no Espírito Santo é chantagem aberta.
Isso é a mesma coisa que sequestrar a liberdade e o direito do cidadão
capixaba e cobrar resgate”, disse Hartung, diante da terrível sensação
de insegurança que tomou a população do Estado em razão da paralisação
dos policiais, que exigem aumento de salário.
O caso do Espírito Santo ilustra, de forma dramática, até que
ponto as corporações de funcionários públicos em todo o País estão
dispostas a ir para arrancar do Estado aquilo que julgam ser seus
direitos inalienáveis – mesmo que as leis sejam atropeladas, que as
instituições sejam desrespeitadas e que o resto da população, que paga
impostos para ter serviços essenciais, tenha de ser sacrificado.
No momento em que, mais do que nunca, está clara a necessidade de
racionalizar os escassos recursos públicos, em razão da severa crise
que o País enfrenta, é preciso emprestar total apoio aos governantes que
se dispõem a arrostar essas corporações, que não se importam em fazer a
população de refém de seus interesses. Somente esse apoio deixará claro
que os cidadãos estão realmente cansados da irresponsabilidade na
administração pública e que não toleram mais o oportunismo dos que se
empenham em incendiar o País para dobrar os joelhos do Estado ante suas
reivindicações.
O fato é que há muito tempo certas corporações de funcionários
públicos ignoram a realidade do País, fazendo exigências absurdas e, em
alguns casos, apelando inclusive para a violência quando se julgam
preteridas. O episódio do Espírito Santo é hoje o mais representativo
dessa truculência, mas está longe de ser o único.
Na quarta-feira passada, em Brasília, por exemplo, policiais
civis que protestavam contra a reforma da Previdência tentaram invadir o
plenário da Câmara dos Deputados. Foram contidos pelos policiais
legislativos. Segundo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um
dos manifestantes chegou a sacar uma arma para intimidar os policiais
que tentavam manter a ordem. “O debate da reforma será feito, a
sociedade será convidada para debater a reforma, mas não na base da
violência”, disse Maia.
Greves e manifestações de policiais são especialmente graves
porque envolvem servidores armados, cuja função é proteger a sociedade, e
não deixá-la à mercê de bandidos. Mas a violência tem notabilizado
outros movimentos reivindicatórios de servidores públicos, sempre na
expectativa de intimidar o Estado. Vêm se tornando perigosamente
recorrentes as invasões de grevistas a prédios públicos, especialmente
as Casas Legislativas, como demonstrações de força para pressionar
parlamentares e governantes a atender a suas exigências.
É por essa razão que a resistência anunciada pelo governo do
Espírito Santo é importante. Trata-se de um desafio aos que,
desconsiderando totalmente a duríssima conjuntura econômica, pretendem
capturar o Estado e submetê-lo a seus interesses, muitas vezes na marra.
Como disse o governador Hartung, “se o Espírito Santo não enfrentar
essa situação, daqui a pouco esse movimento será em todo o País”.
Mas soa quase quixotesca a luta dos que levam a sério da Lei de
Responsabilidade Fiscal, como parece ser o caso da administração do
Espírito Santo. O governo do Rio de Janeiro, por exemplo, anunciou que
haverá aumento de 10,22% nos salários de policiais militares e civis do
Estado. A decisão foi tomada depois que circularam rumores de que os
policiais fluminenses poderiam realizar movimento semelhante ao dos
colegas capixabas.
Ou seja, o governo do Rio, embora esteja economicamente
arruinado, parcelando salários e deixando de pagar as contas em razão de
notória irresponsabilidade fiscal, preferiu ceder à corporação sindical
armada antes que esta decidisse revogar, por sua própria conta, o
Estado de Direito. É o caso de perguntar o que falta acontecer para que
essa situação seja considerada inaceitável. DO ESTADÃO
Nenhum comentário:
Postar um comentário