terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Dilma que bajula Lula e a Dilma que louva FHC são duas faces da mesma moeda falsa

“É pesada como chumbo a herança desse estilo bombástico de governar que esconde males morais e prejuízos materiais para o futuro da Nação”, diz um trecho do artigo de Fernando Henrique Cardoso reproduzido na seção Feira Livre. Publicado no domingo, o texto resume o legado do governo Lula. FHC comenta a crise moral, a institucionalização da corrupção impune, o mensalão, a farra dos gastos públicos, a paralisia administrativa e o desastroso aparelhamento da Petrobras, fora o resto.
O erro de FHC foi ignorar que Dilma Rousseff é um codinome de Lula, e que a afilhada se jacta de ter ajudado a parir o Brasil Maravilha que o padrinho registrou em cartório. A réplica veio em menos de 24 horas na forma de uma nota oficial que alguém escreveu. A presidente que não sabe quando se deve usar porque ou por que apenas assinou a sopa de letras. Mas só depois que alguém leu o original em voz alta para o chefe que acha leitura pior do que exercício em esteira.
Aliviado por livrar-se de um confronto direto com a sigla que o surrou duas vezes nas urnas, e está para o SuperLula como a kriptonita verde para o Super-Homem, o mestre autorizou a divulgação da nota em que a discípula critica FHC, promove um embusteiro a “estadista” e acha “bendito” tudo O que herdou. O mensalão está nesse balaio, mas o palavrão perturbador não deu as caras no texto. Dilma também faz de conta que nem imagina o que anda acontecendo no Supremo Tribunal Federal.
Confira a íntegra do texto. Volto em seguida.
Citada de modo incorreto pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado neste domingo, nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, creio ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares.
Recebi do ex-presidente Lula uma herança bendita. Não recebi um país sob intervenção do FMI ou sob a ameaça de apagão.
Recebi uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes.
Recebi um país mais justo e menos desigual, com 40 milhões de pessoas ascendendo à classe média, pleno emprego e oportunidade de acesso à universidade a centenas de milhares de estudantes.
Recebi um Brasil mais respeitado lá fora graças às posições firmes do ex-presidente Lula no cenário internacional. Um democrata que não caiu na tentação de uma mudança constitucional que o beneficiasse. O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista.
Não reconhecer os avanços que o país obteve nos últimos dez anos é uma tentativa menor de reescrever a história. O passado deve nos servir de contraponto, de lição, de visão crítica, não de ressentimento. Aprendi com os erros e, principalmente, com os acertos de todas as administrações que me antecederam. Mas governo com os olhos no futuro.
Voltei para constatar que a presidente que suscreveu a nota oficial não rima com a que enviou, há pouco mais de um ano, uma carta em que cumprimentou Fernando Henrique Cardoso pelo 80° aniversário. Confira a mensagem. Volto no fim.
Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.
O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.
Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.
Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.
Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito. Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.
Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!
Voltei para o arremate. A nota foi assinada pela Dilma ciente de que tem dono. A carta foi assinada pela Dilma que de vez em quando esquece que tem dono. Qual das duas é a verdadeira? Nenhuma. São duas faces da mesma moeda falsa.
POR AUGUSTO NUNES
REV VEJA

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