Começam
hoje os embates na CPI do Cachoeira. O PT está que não cabe em si de
contentamento com o tsunami de imagens e vídeos que o ex-governador
Anthony Garotinho fez chegar ao território encantado da Cabralândia.
Quem já viu Sérgio Cabral (PMDB) borracho no Carnaval de 2010,
tartamudeando um inglês de vendedor de mate na praia, ao lado da então
candidata à Presidência, Dilma Rousseff (está no Youtube); quem já viu o
governador aos prantos por causa da redivisão dos royalties do petróleo
(de fato, uma injustiça); quem não viu este mesmo governador soltar um
mísera lágrima pelos mais de mil soterrados em avalanches ou quem o viu
chamar de “otário” o jovem de uma favela que criticava uma ação do
governo, quem se lembra de tudo isso não se surpreendeu com a
desenvoltura dos hooligans cabralinos na pátria de Tocqueville.
Pouco importa quem estava pagando a farra: se o governo, péssimo; se
Fernando Cavendish, péssimo também. Milton Friedman recorreu a uma
metáfora para lembrar que ações de governo têm custos: “Não existe
almoço grátis”. Conhecia pouco o Brasil. Aqui, a metáfora assume a
dimensão de escândalo em linguagem nada figurada: “Não existe jantar de
graça em Paris ou em Mônaco”.
Cumpre não
esquecer: Cabral é aquele que já convidou a sociedade brasileira a
deixar de ser “hipócrita” no caso do aborto, das drogas, e do jogo.
Cabral é assim: quem não concorda com ele é só um falso moralista! Quem
concorda pode ser um amoralista sincero… Sim, o governador do Rio, que
odeia a hipocrisia e ama Paris, já se manifestou a favor da legalização
das três práticas. No dia 8 de setembro de 2009 escrevi aqui um post sobre a defesa que ele fez da legalização da jogatina,
com o que Carlinhos Cachoeira, o parceiro da Delta, certamente
concorda. Mas não pensem que é um homem que se descuida do social!
Cabral
defende a legalização do jogo para gerar recursos para a… Saúde! Sérgio
Côrtes, seu secretário da área e parceiro de farra em Paris, deve
concordar. Afinal, à mesa de um dos jantares, um dos convivas espanca o
inglês: “Let´s win some money in the casino.” Como observou o leitor Gonçalo Osório, a turma barbariza o decoro e a língua inglesa. “Let’s make” ou “let’s earn”
seria o correto. Com “win”, fez-se um convite para “vencer” o dinheiro.
E resta evidente que o dinheiro é que venceu… Carlinhos Waterfall seria
mais singelo: “Vâmu ganhá uns trem aí ué…” Cabral pretendia
ocupar um dia o lugar de inimputável da política, que seguirá com Lula
enquanto ele estiver por aí. Mas voltemos ao ponto.
O PT deu
graças a Deus com o tsunami que colheu o governador do Rio. O PMDB
andava meio distante da CPI e fazendo cálculos frios. Havia mesmo quem
apostasse que sua estratégia seria, como direi?, apresentar a conta ao
governo Dilma para não deixar a CPI sair dos “trilhos”. Duvido, por
exemplo, que o partido quebrasse lanças por Agnelo Queiroz, o enrolado
governador petista do Distrito Federal. Agora, também tem uma tarefa:
salvar a pele de Cabral.
No post
anterior, há trecho de uma reportagem do Estadão em que fala o inefável
Jilmar Tatto (PT-SP), líder do PT na Câmara. Já fui processado por dois
ou três dos Irmãos Tatto, não lembro bem — acho que Jilmar era um deles.
Eles não gostaram de uma reportagem que publiquei na revista Primeira
Leitura, que eu dirigia, sobre a “Tattolândia”, uma região da cidade de
São Paulo que é literalmente dominada pela família. Mas eu, vejam só,
não deixo de ter certa admiração pelo líder petista. Outros, antes dele,
sempre foram imaginosos o bastante para ser cínicos, que não deixa de
ser uma forma de inteligência. Jilmar Tatto é diferente! Sua falta de
imaginação o obriga a ser sincero, se é que vocês me entendem.
Ouvido pela reportagem, ele não esconde o objetivo do partido:
“Não quero fazer prejulgamentos, mas todas as conversas gravadas pela PF e que envolvem o governador Marconi Perillo apontam para uma séria relação dele com o bando do Cachoeira. É muito diferente do que ocorreu com o governador Agnelo, que é vítima da organização criminosa (…) É preciso examinar todos os elementos. Acho que é precipitado convocar o Sérgio Cabral agora.”
“Não quero fazer prejulgamentos, mas todas as conversas gravadas pela PF e que envolvem o governador Marconi Perillo apontam para uma séria relação dele com o bando do Cachoeira. É muito diferente do que ocorreu com o governador Agnelo, que é vítima da organização criminosa (…) É preciso examinar todos os elementos. Acho que é precipitado convocar o Sérgio Cabral agora.”
Entenderam?
Tatto está dizendo que uma mão lava a outra e que as duas devem
conspirar contra a investigação, protegendo-se. Já o governador Marconi
Perillo, que é da oposição, bem…, esse o líder petista quer convocar.
Ora, o que recomenda o óbvio e o bom senso? Que os três governadores que
aparecem nas gravações compareçam à CPI. Ou é assim, ou não se tem uma
Comissão Parlamentar de Inquérito, mas um tribunal do governo para
esmagar a oposição. CPÌs, repetimos todos, têm sua própria dinâmica,
fogem ao controle desse e daquele etc e tal. Huuummm… Mais ou menos.
Quem acompanhou as chicanas do PT na CPI do Mensalão, lideradas pela
agora ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), sabe que o
partido é capaz de tudo — até de fazer a dancinha da impunidade,
lembram-se?
Fator Lula e chavismo verde-amarelo
Ou se apura tudo, ou resta à oposição cair fora e deixar que a CPI se transforme naquilo que Lula quer que ela seja: um tribunal de exceção para tentar esmagar a oposição e intimidar a imprensa independente, que não regula suas opiniões segundo a verba publicitária do governo federal e das estatais. Que avance por esse caminho, mas sem a participação das oposições, que teriam, então, pela frente um outro trabalho: apontar, Brasil e mundo afora, o caminho verde-amarelo da chavização ou da kirchnização do país.
Ou se apura tudo, ou resta à oposição cair fora e deixar que a CPI se transforme naquilo que Lula quer que ela seja: um tribunal de exceção para tentar esmagar a oposição e intimidar a imprensa independente, que não regula suas opiniões segundo a verba publicitária do governo federal e das estatais. Que avance por esse caminho, mas sem a participação das oposições, que teriam, então, pela frente um outro trabalho: apontar, Brasil e mundo afora, o caminho verde-amarelo da chavização ou da kirchnização do país.
É o que quer
Lula. É o que quer José Dirceu. Esta CPI, para ambos e para aqueles que
os acompanham em sua loucura, é mero pretexto. Ambos estão empenhados
na tarefa de demonstrar a tese estupidamente mentirosa de que o mensalão
— COM TODOS OS CRIMES QUE OS PRÓPRIOS ACUSADOS JÁ CONFESSARAM — não
passou de uma armação de Carlinhos Cachoeira, em parceria com “a mídia”.
E defendem abertamente, a quem queira ouvi-los, que a base aliada faça
valer a sua maioria para esmagar adversários.
Consideram
estar com a faca e o queijo nas mãos. É claro que o grande arquivo dessa
história toda se chama Carlinhos Cachoeira. Seu advogado é o petista de
carteirinha Márcio Thomaz Bastos, ainda hoje uma espécie de conselheiro
de Lula e homem que tirou do colete a tese de que o mensalão era só
caixa dois de campanha — um crime menor… O contraventor certamente o
contratou para ser mais do que apenas um hábil criminalista. Cachoeira
tem sentenças de morte política e pode selecionar seus alvos.
Lula nunca
lidou direito com a democracia, eis a verdade. Quem não está com ele
passa a ser visto como um sabotador de seus intentos. É intolerante! Vê
nessa CPI a grande cartada para aniquilar os que não rezam segundo a sua
cartilha. Na CPI, não há como a oposição vencer a base aliada se esta
atuar como ordem unida, deixando de lado a investigação e se dedicando
apenas à chicana política. A depender do andamento, é mais do que a
simples investigação que estará em jogo. Também estará em questão a
ordem democrática. E a oposição terá de ter a devida sensibilidade para,
se necessário, botar a boca no trombone.
O líder do
PT, na sua sinceridade crua, já disse o que pretende. E agora julga ter
argumentos para atrair o PMDB para a sua conspiração contra a oposição,
contra a investigação, contra os fatos, contra a verdade. É o que quer
Lula. Mesmo PT sendo inegavelmente bem-sucedido nas urnas, a eleição
ainda não é o caminho preferido por muitos petistas para tomar o poder. A
razão é simples: eleições nunca dão o poder total.
REV VEJA
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