sábado, 13 de agosto de 2011

Rossi reage a reportagem de VEJA e emite uma nota. Então vamos conversar a respeito

Reportagem de capa da VEJA desta semana reconstitui a trajetória pública do agora ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e registra a evolução de seu patrimônio privado. Ele emitiu uma nota, que transcrevo abaixo. Comento depois:
“Na quinta-feira e sexta-feira, repórteres da revista Veja encaminharam perguntas, cobrando explicações sobre meu patrimônio pessoal, listando supostas irregularidades em empresas estatais em que fui diretor, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Companhia Docas de São Paulo (Codesp), além questionar uma licitação no Ministério da Agricultura.
Encaminhei as respostas que estão transcritas abaixo. Todas as perguntas enviadas a mim na quinta-feira foram respondidas em menos de 24 horas. Nada, porém, foi aproveitado por repórteres e editores. Agora, pela terceira semana consecutiva, sou obrigado a me explicar.
A informação de que eu teria pedido “propina” de R$ 2 milhões numa licitação, cujo contrato para a prestação de serviços era de R$ 2,9 milhões, fere a lógica e o bom-senso. Pior. É lançada sem qualquer prova ou indício de materialidade. Nem o valor da licitação, que foi anulada por erro de quem estaria fazendo as denúncias agora, é destacado pela revista. Os repórteres baseiam-se na declaração de um funcionário que perdeu a função pública por uma ilegalidade cometida e admitida por ele mesmo.
Mas a lógica não parece nortear os diretores de jornalismo da editora Abril.
Ouvir o outro lado, um princípio basilar do jornalismo, não existe para a revista Veja. Essa é mais uma campanha orquestrada com interesses políticos. Não querem apenas desconstruir minha credibilidade ou acabar com minha imagem, mas destruir a aliança política vitoriosa nas urnas em outubro do ano passado. As acusações são levianas.
Isso não é jornalismo. É assassinato de reputação.
Vou pedir à Justiça o direito de resposta.
Comento
Não falo pela VEJA  e pela Abril, obviamente, já que não tenho mandato para isso. Escrevo como jornalista e leitor. Entendo os motivos por que Rossi não gostou da reportagem, que está recheada de fatos, como ele sabe muito bem. Noto que, em nenhum momento, a revista o acusou, por exemplo, de oferecer propina a um subordinado para que este se calasse sobre ilegalidades no governo. Mas Oscar Jucá, ex-diretor da Conab, disse com todas as letras que o ministro lhe ofereceu capilé, grana, bufunfa para se calar. E o agora muito ofendido Rossi decidiu que não vai processar seu acusador. Rossi não gosta, pelo visto, de quem noticia essas coisas.
É compreensível que esteja chateado com a revista. Foi VEJA quem denunciou a cleptocracia que tomava conta do Ministério dos Transportes. Caíram 23 pessoas, incluindo o ministro. Foi VEJA quem denunciou o pagamento de R$ 8 milhões que a Conab faria a uma empresa fantasma, que resultou na queda de Oscar Jucá. Foi VEJA quem denunciou que um lobista, ex-traficante de drogas, tinha uma sala no Ministério da Agricultura e redigia contratos dos quais era beneficiário, o que resultou na queda de Milton Ortolan, braço-direito de Rossi. Recuando um pouco, foi VEJA quem acabou deixando Antonio Palocci sem saída ao noticiar a estranha teia de “proprietários” do apartamento de luxo que ele aluga em São Paulo…
Isso indica, creio, a lógica daqueles que ele chama “diretores de jornalismo da Editora Abril”:  é a lógica da decência. Rossi tem algo contra?
“Assassinato de reputação” é uma expressão manjada de alguns blogs sujos, financiados com dinheiro público. O ministro precisa melhorar a qualidade das  suas referências de bom jornalismo. Até porque, naquele caso, alegam ter tido a reputação assassinada os que não tinham reputação — a não ser a má — a defender.
O ainda ministro (!) diz que, desta feita, vai fazer o que não fez contra Oscar Jucá: recorrer à Justiça! É um direito dele e de todo cidadão que se sente agravado. Estranho é que não o tenha feito contra o irmão de Romero Jucá, não é mesmo?
Rossi deveria ser grato ao jornalismo da VEJA, ora essa! Com duas reportagens sobre a sua pasta, a revista impediu que R$ 8 milhões fossem pelo ralo da corrupção e livrou o ministério de um lobista e ex-traficante. É bem verdade que seu secretário-executivo  acabou caindo junto… Certamente não será por ações como essa que o ministro expressa sua contrariedade com a revista, certo?
Por Reinaldo Azevedo

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