Adriana Vasconcelos e Luiza Damé - O Globo
BRASÍLIA - Ainda às voltas com as mágoas provocadas pela faxina promovida no Ministério dos Transportes , e avaliando não ter condições políticas de abrir um novo contencioso com sua base parlamentar, o Palácio do Planalto decidiu apoiar a blindagem que o PMDB montou em torno do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. O sinal foi dado pela ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, numa conversa que ela teve, sábado, com Rossi. O ministro, para se manter no cargo, foi obrigado a acertar a demissão do secretário-executivo da pasta e seu amigo há mais de 25 anos, Milton Ortolan, alvo de denúncias de corrupção apresentadas na última edição da revista "Veja".
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" O governo tem confiança no ministro e na capacidade dele de esclarecer todas as situações que apareceram na reportagem "
Por isso mesmo, a cúpula peemedebista decidiu guardar sua artilharia contra o PT, até se certificar de que as denúncias não terão desdobramentos que comprometam a imagem do partido.
- O governo tem confiança no ministro e na capacidade dele de esclarecer todas as situações que apareceram na reportagem - confirmou ao GLOBO a ministra Gleisi.
Comunicado divulgado neste domingo pela Secretaria de Imprensa da Presidência confirmou o sinal verde para a blindagem: "A presidente Dilma Rousseff reitera a sua confiança no ministro da Agricultura, Wagner Rossi, que está tomando todas as providências necessárias", diz o comunicado.
Dessa forma, o governo deixa claro que não pretende dispensar ao PMDB, hoje seu principal aliado no Congresso Nacional, o mesmo tratamento dado ao PR no caso da faxina no Ministério dos Transportes. Isso se nenhum fato novo comprometer diretamente o ministro da Agricultura, que foi indicado para a vaga pelo vice-presidente Michel Temer.
PMDB: denúncias não afetam Rossi
O próprio PMDB não descarta a possibilidade de apoiar novas demissões na pasta para não se contaminar com a crise na Agricultura. A avaliação feita, até agora, é que as denúncias do fim de semana não atingem diretamente Rossi e ele terá a chance de se defender pessoalmente, em depoimento na próxima quarta-feira, na Comissão de Agricultura do Senado.
Após perder o controle dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o PR já percebeu que o governo adotará outra estratégia com os peemedebistas - embora os dirigentes do partido avaliem que as denúncias contra a gestão de Rossi sejam muito mais robustas.
O PR argumenta que elas foram acompanhadas de depoimentos de funcionários e empresas, e até mesmo de fotos que comprovam a atuação do lobista Júlio Fróes na Agricultura, que teria tido seu acesso liberado na pasta por Ortolan, braço direito do ministro.
- O governo não é louco de fazer com o PMDB a mesma coisa que fez com o PR. Senão, está morto - observou um dos líderes do PR.
Diferença de tratamento aumenta rancores no PR
Essa diferença de tratamento, por si só, pode alimentar ainda mais os rancores dos parlamentares do PR em relação ao governo. A oposição está disposta a se aproveitar disso para tentar garantir, esta semana, as assinaturas que lhe faltam para criar a CPI do Dnit, que poderia ser o embrião de uma investigação mais ampla sobre todos os casos de corrupção já denunciados pela imprensa. Mas os governistas adiantam que essa CPI teria mais facilidade de surgir se fosse contra o PT.
- Está se cristalizando dentro da base a ideia de que, enquanto a presidente Dilma não enfrentar uma CPI, ela não se conscientizará de que não pode ignorar o Congresso como tem feito - advertiu um peemedebista.
Para o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), a presidente Dilma "amarelou diante do PMDB":
- A presidente não teve coragem de enfrentar o PMDB. Ortolan é um homem de confiança do ministro Wagner Rossi há 25 anos. É óbvio que o ministro está enrolado até a tampa.
- Ela (Dilma) teve coragem de enfrentar o PR. É preciso saber se vai até o PT. É público e notório que há coisas muito suspeitas em várias áreas do governo - emendou o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
A oposição sabe que, se o PMDB se sentir ameaçado, as dissidências na base poderão aumentar. Não é à toa que o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), vem segurando a votação de um requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) que propõe a convocação do petista Expedito Veloso - que poderá ressuscitar o escândalo dos aloprados se confirmar que o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, teve participação na operação de compra de um dossiê contra o tucano José Serra em 2006.
Eunício avaliará nesta segunda-feira, numa reunião no Palácio do Jaburu com a cúpula peemedebista, se coloca o requerimento em votação na próxima quarta ou a adia mais uma vez, como forma de garantir um instrumento de pressão sobre o PT. Assim como o Planalto, a bancada petista dá sinais de que não quer confronto com os peemedebistas.
- Não dá para ficar nessa de ataques múltiplos. Se isso virar prática corriqueira na base, será muito complicado. Vai ter uma hora em que não sobrará ninguém. É perigoso dar um tratamento isonômico a situações diferentes - advertiu o senador Walter Pinheiro (PT-BA), para quem cada denúncia deve ter um tratamento específico.
DO BLOG MOV.ORDEM VIG.CONTRA CORRUPÇÃO
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