sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pânico domina os mercados diante do medo de quebra de bancos europeus

Os principais mercados do mundo derreteram, ontem, em uma nova rodada de pânico e fuga de investidores. Sem exceção, as principais bolsas dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia e da América Latina fecharam no vermelho. No Brasil, o tombo foi de 3,52%, com o Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechando nos 53.134 pontos — a queda no ano passa dos 23%.

Tamanha onda de prejuízos foi patrocinada pelo medo de quebra dos bancos europeus, que estão atolados com títulos podres de países à beira do colapso, como a Grécia. O indicador que mede a cotação dos papéis das maiores instituições cedeu 6,7%. Também empurraram as bolsas ladeira abaixo as perspectivas de uma nova recessão global, previsão que ganhou mais força depois da divulgação de dados ruins da economia dos Estados Unidos.

O dia sombrio, como classificaram os analistas, mostrou que a atual crise está longe de uma solução, o que tem motivado a corrida de investidores por ativos considerados mais seguros, como o ouro, cotado a US$ 1.816 a onça (31,1 gramas). “A situação é preocupante. O mundo, de fato, está em desaceleração e em risco de entrar em recessão”, alertou Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra. As preocupações se acentuaram depois que o Banco Central Europeu divulgou que uma instituição financeira pediu empréstimo de mais de US$ 500 milhões para honrar compromissos nos EUA (veja texto abaixo).

Tantas informações negativas transformaram-se em perdas disseminadas mundo afora. Entre os mercados, o que mais sofreu foi o de Milão, na Itália. A Bolsa de Valores local fechou o dia como líder de perdas ao registrar queda de 6,15%. Frankfurt, na Alemanha, terminou o pregão com recuo de 5,82%, o maior desde novembro de 2008, o auge da crise provocada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Os mercados acionários de Paris, Madri, Londres, Amsterdã, Zurique e Lisboa amargaram baixas superiores a 4%. “O dia foi bem negativo para todos”, avaliou Kawall. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio perdeu 1,25%, o pior resultado desde 15 de março devido à inquietação despertada pela alta de 0,05% do iene frente ao dólar.

No Brasil, o movimento financeiro da Bovespa foi de R$ 6,9 bilhões, montante 15,8% menor que a média de agosto. Na visão de Rodrigo Falcão, operador Corretora Icap, a queda das ações da Vale foi determinante para o resultado negativo do dia. Tomados por um temor de desaceleração na China e a expectativa de derretimento para os preço das commodities(produtos básicos com cotação internacional), os papéis da mineradora recuaram quase 5%. “Os investidores acabaram influenciados por aquela velha crença de que os chineses puxam o consumo de commodities no mundo e qualquer coisa por lá afeta diretamente a Vale”, explicou. Entretanto, o maior tombo do dia ocorreu com os papéis do frigorífico Marfrig, que recuaram 8%.

Pessimismo
Nos Estados Unidos, o mercado absorveu com pessimismo o aumento de pedidos de seguro desemprego na semana passada. A expectativa era de 400 mil solicitações, mas o número divulgado foi de 408 mil. Além disso, a inflação de julho registrou alta de 0,5% enquanto os economistas esperavam 0,2%. Para piorar, o índice de atividade fabril, medido pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central da Filadélfia), despencou para o menor nível desde março de 2009 e a venda de moradias usadas contrariou estimativas de alta e recuou 3,5 % entre junho e julho.

Com um cenário tão negativo para os norte-americanos, as principais bolsas do país ficaram no vermelho. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 3,68%, para 10.990 pontos. A Nasdaq, o mercado eletrônico, caiu 5,22%. O índice Standard & Poor's 500 registrou desvalorização de 4,46%. “Esses dados reforçam a tese dos mais pessimistas, que acreditam na possibilidade de um duplo mergulho (uma recessão seguida da outra)”, afirmou Alexandra Almawi, economista da Corretora Lerosa Investimentos. “Com tudo isso, as chances de uma recessão estão crescendo”, concluiu. Toda essa aversão influenciou o dólar, que subiu 0,96% e fechou o dia cotado a R$ 1,599 para venda.

Apesar da ameaça concreta de a economia global despencar e dos impactos disso sobre a produção e o consumo no Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não pretende ampliar os desembolsos para o setor privado. Luciano Coutinho, presidente da instituição, também não cogita uma ajuda à Petrobras na captação de recursos para executar seu plano de investimentos. “Não há necessidade de nada extraordinário, nenhum pacote. A perspectiva de crescimento dos Estados Unidos é medíocre, mas não desastrosa como se pensava antes. A possibilidade de rupturas nos dois blocos (EUA e Europa) foram afastadas”, disse. Os investidores estão, porém, longe de endossar tais palavras
FONTE: VICTOR MARTINS
DO CORREIO BRASILIENSE

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