As palavras fazem sentido. Essa é uma das mais antigas batalhas deste escriba. Têm aquele sentido estanque, do dicionário, elucidado por sinônimos ou perífrases. E têm o sentido que lhes conferem as circunstâncias, o contexto. Luiz Inácio Apedeuta da Silva, a face mais visível da doença que toma conta da política brasileira, esteve ontem em Minas. E, mais uma vez, nos deu a oportunidade de ler as palavras pelo sentido que elas têm e interpretá-las pelos silêncios que enunciam. Voltou a negar que possa ser o candidato em 2014. E se pergunta então: “Por que um ex-presidente da República, que já havia anunciado que não seria candidato, nega que pretenda se candidatar se não for com o objetivo de que sua candidatura seja debatida como realidade plausível?” Vale dizer: as palavras de Lula devem ser lidas pelo avesso. Ele afirma o que nega; nega o que afirma.
Foi adiante: “Dilma só não será candidata se não quiser”. A oração subordinada adverbial condicional — “se não quiser” — traz uma hipótese com a qual ninguém contava até outro dia, muito menos os petistas, especialmente quando a mandatária não concluiu ainda o seu oitavo mês de governo. Então está dado que existe a possibilidade de Dilma não querer. É Lula quem sustenta isso. Em política, “querer” ou “não querer” depende mais da vontade de terceiros do que da própria. O Babalorixá, ele próprio, faz de tudo, já está claro a esta altura, para que ela não queira. Ou não se moveria no tabuleiro da política com tanta saliência.
Não estamos diante daquela situação em que a criatura se volta contra o criador, como o monstrengo criado por Doutor Victor Frankenstein. De certo modo, é o contrário: Lula padece de uma inveja patológica da sua criatura. Considera-se o dono de Dilma de Rousseff. E está profundamente insatisfeito com os rumos que as coisas estão tomando. A imagem da faxina, ainda que uma expressão usada pela imprensa, colou. Só se limpa o que está sujo. E a sujeira foi, sim, a herança maldita que caiu no colo da sucessora. É evidente que ela era da turma. E figura de proa. Tanto é que foi escolhida para conduzir o navio — ou, ao menos, para representar esse papel. Mas a dinâmica da política não depende, reitero, só de vontades. A sujeira começou a aparecer. E os “descontentes” só não estão na rua porque os nossos esquerdopatas transformaram sindicatos, ONGs, movimentos sociais e entidades de classe em sucursais do partido. O PT está hoje mais presente na sociedade do que o Baath no auge do poder de Saddam Hussein. Os tolos dirão: “Mas foi pela via democrática”. O aparelhamento é sempre uma afronta à democracia, jamais a sua expressão.
É inaceitável que um ex-presidente da República se coloque, de peito aberto, como uma espécie de articulador informal do governo, seu intérprete mais avalizado, seu condestável. E é o que Lula está fazendo, tentando empurrar Dilma para fora do tabuleiro, embora reafirme, claro, seu apoio à sucessora.
Ele é popular? E daí?
Eu estou pouco me lixando se o Apedeuta é ou não popular. Aliás, falar mal de impopulares é coisa que qualquer covarde pode fazer. Lula é, sim, o nome da “doença” da política brasileira — e vamos, então, ampliar a briga, porque aí o barulho fica bom —, assim como Getúlio Vargas já foi um dia e, em muitos aspectos, ainda é. As pessoas têm os seus valores, e eu também. Não nutro a menor simpatia por um líder fascistóide, que prendeu, torturou e matou nas masmorras. “Ah, mas ele fundou o Brasil moderno!” Que Brasil moderno? O Getúlio do Estado Novo compôs com todas as forças reacionárias com a qual a dita Revolução de 30 prometia acabar — de fato, em certo sentido, Lula mimetiza Getúlio… Não leio a sua carta de suicídio sem atentar para o seu lado patético, sua literatice chula, seus contrastes vigaristas entre os “bons” e os “maus”, sua irresponsabilidade fundamental. Não se deve especular, por pudor, sobre a razão dos suicidas — desde que o sujeito não decida “sair da vida para entrar na história”. Arghhh… Politicamente, e é de política que falo, teria sido bem mais corajoso enfrentar seus acusadores. Era grande a chance de que terminasse deposto e na cadeia.
Eu estou pouco me lixando se o Apedeuta é ou não popular. Aliás, falar mal de impopulares é coisa que qualquer covarde pode fazer. Lula é, sim, o nome da “doença” da política brasileira — e vamos, então, ampliar a briga, porque aí o barulho fica bom —, assim como Getúlio Vargas já foi um dia e, em muitos aspectos, ainda é. As pessoas têm os seus valores, e eu também. Não nutro a menor simpatia por um líder fascistóide, que prendeu, torturou e matou nas masmorras. “Ah, mas ele fundou o Brasil moderno!” Que Brasil moderno? O Getúlio do Estado Novo compôs com todas as forças reacionárias com a qual a dita Revolução de 30 prometia acabar — de fato, em certo sentido, Lula mimetiza Getúlio… Não leio a sua carta de suicídio sem atentar para o seu lado patético, sua literatice chula, seus contrastes vigaristas entre os “bons” e os “maus”, sua irresponsabilidade fundamental. Não se deve especular, por pudor, sobre a razão dos suicidas — desde que o sujeito não decida “sair da vida para entrar na história”. Arghhh… Politicamente, e é de política que falo, teria sido bem mais corajoso enfrentar seus acusadores. Era grande a chance de que terminasse deposto e na cadeia.
Essas almas “intensas”, “amorosas”, ” passionais”, “carismáticas” deseducam o povo e conduzem os países, com freqüência, ao desastre. Muito bem: Getúlio era fruto de um tempo que produziu varias formas do fascismo mundo afora — e aqui também, portanto. Mas os outros países exorcizaram seus fascistas. Nós amamos os nossos. Ou melhor: “eles” (porque não sou da turma) amam os deles. É claro que a “moral revolucionária” das esquerdas, muito especialmente dos comunistas, colaborou para isso. Luiz Carlos Prestes saiu da cadeia, onde tinha sido barbaramente torturado pela polícia de Getúlio — sua mulher, Olga, tinha sido deportada grávida para a Alemanha, onde foi morta — para subir no palanque do ditador contra “as forças do imperialismo”. Olga estava longe de ser a heroína pintada pelo chavista (e agora biógrafo de Lula) Fernando Morais. Mas isso não livra a cara de Getúlio.
Eu não opero com uma balança em que a canalhice é posta num prato, e as conquistas, noutro, em busca de um equilíbrio. Findo o estado novo, o lugar de Getúlio era a cadeia, não tentando voltar ao poder, aí pela via democrática, com o apoio dos comunas, que odiavam a democracia… Que circo nojento! Por que falo de Getúlio? Porque estepaiz ainda vive à mercê desses redentores — e Lula ocupou esse papel, à custa de uma máquina de mentiras e de manipulação da informação de fazer inveja ao DIP getulista. Não! Não tenho absolutamente nada de pessoal contra o Babolorixá. Até me policio um pouquinho para não me deixar tocar minimamente por sua inegável simpatia pessoal — quando não está sobre um palanque, possuído pelo ogro eleitoral. É a sua figura política que é nefasta, que deseduca, que desinforma, que dá sobrevida ao que há de mais atrasado na política .
O mito Lula precisa morrer — não o Lula! Que tenha tataranetos, mas sem passaporte diplomático! — se um Brasil minimamente afinado com a contemporaneidade quer nascer. O homem está mobilizando o seu partido e outros da base aliada contra um movimento — ainda incipiente, que é mais da sociedade do que de Dilma, é óbvio — contra a corrupção! Esse Shrek do Mal está tentando nos convencer de que a sem-vergonhice é um preço que o Brasil precisa pagar para avançar. E não é! Uma coisa é admitir que o malfeito existe, é parte da política e precisa ser extirpado. Outra, distinta, é encará-lo como virtude.
No momento em que ministros atolados em lambanças perdem seus cargos, o que faz o “pai do povo”? Sai por aí estimulando, na prática, o debate sobre a sucessão de Dilma, que está no poder há menos de oito meses. Em defesa do que mesmo? De quais princípios? Se isso não é uma forma de chantagem política, é o quê?
O Brasil avança, sim! Avança apesar da corrupção e do permanente assalto ao dinheiro público. Avança pela força dos brasileiros que trabalham, apesar dos vagabundos que vivem do esforço alheio; avança pela capacidade empreendedora dos seus empresários, apesar daqueles que vivem do compadrio e dos favores do estado; avança pela força — e eles existem — dos políticos honestos, apesar da escória que entra na vida pública para se arrumar.
E é isto que precisamos ter muito claro: OS DEFEITOS DA VIDA PÚBLICA BRASILEIRA DEFEITOS SÃO, E NÃO VIRTUDES! Por mais que pareça absurdo a muitos, O BRASIL AVANÇA APESAR DE LULA, NÃO POR CAUSA DELE.
Ele havia prometido “desencarnar”, vocês se lembram. Mais uma vez, não cumpriu uma promessa. É chegada a hora de fazer uma campanha pública: #DesencarnaLula!
REV VEJA
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