Adhemar de Barros, há quase 60 anos, adotou o mote: rouba, mas faz.
Bandalheira em órgãos públicos poderia até ser pontualmente necessária para que surgisse, ou se acelerasse, a construção de uma escola, um hospital, uma ponte. Custaria mais caro talvez, mas poderia viabilizar soluções que atendessem a um problema cuja solução era importante e urgente.
O que se veio a imprecar como sendo “moralismo udenista” era o contrário disso: a recusa em reconhecer que tais circunstâncias possam ocorrer. Ou seja, para impedir o progresso, a UDN invocava a moralidade pública.
Brasília é um bom exemplo do conflito. Juscelino toma posse em 1956. Quatro anos depois, em 1960, onde não havia nada, já existe e já é a capital da República. O famoso “moralismo udenista” é expressão cunhada nessa época – e nem por acaso. Roubou-se muito, segundo consta, para tanto ser feito em tão pouco tempo.
Mas passados 50 anos Brasília está lá, existe. Seguidas as normas vigentes e os princípios morais – e atendidos aos do ”moralismo udenista” - Brasília ia demorar uma eternidade ou não ia acontecer.
Um erro não se justifica por um êxito para o qual possa ter contribuído. Mas ver uma coisa dar certo, mesmo com falhas, no mínimo consola.
Parece que o princípio que se quer fazer valer agora é do “rouba e não faz”.
Nos últimos oito anos, alem de valiosos programas de caráter assistencialista, de distribuição de condições de acesso a bens até então negados a parcelas importantes da população - o que trouxe relevantes conseqüências - o que se vê mais?
Do governo Lula não sobra mais nada. Ao “moralismo udenista” sucedeu a “armação petista”: somos paulistas, fomos eleitos, somos populares, nós podemos. E podem: aloprados, mensaleiros, e agora toda quadrilha que floresceu acobertada na satrapia dos transportes.
Não há uma estrada pronta, não há um projeto nacional, não há visão de futuro. Oito anos se passaram. E até hoje as propostas parece que surgem a partir das oportunidades que oferecem para melhor aproveitar do poder. O trem bala e a transposição do rio São Francisco são alguns exemplos de fracassos nacionais que enriquecem a poucos.
E a bandalheira se esparramou sobre o país, sem que se possa apontar uma única realização concreta de todos os projetos anunciados. E aí entra tudo: o PAC, e tudo mais de que se ouve falar – e não se vê acontecer. Vale tudo, vale qualquer coisa.
O PT perdeu seus melhores quadros, e estraçalhou as bandeiras que o levaram ao poder. Domesticou os segmentos que poderiam se opor, e no que pode conformou o país à feição que optou por tomar.
E agora?
Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação
DO BLOG DO NOBLAT
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