Por Augusto Nunes - Veja Online
Candidato a deputado federal pelo PSB do Rio, o terrorista aposentado Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz juntou o prenome de batismo ao codinome “Clemente”, adotado pelo antigo militante da ALN, expropriou o título de “Combatente da Guerra e da Paz” e foi à luta no horário eleitoral da TV. Como o tempo era curto demais, Carlos Eugênio Clemente espalhou pela internet um um perfil resumido: Um dos mais valentes e temidos líderes da Ação Libertadora Nacional, homem de confiança de Carlos Marighella, o líder daquela organização. Temidíssimo pela repressão por sua coragem, furou mais de cem cercos à bala, matou pelo menos seis militares em seus confrontos nas ruas e um empresário que colaborava financeiramente com a tortura. Hoje é professor de música da UFRJ.
Conseguiu 567 votos. O resultado desoladoramente bisonho deixou-0 muito abaixo, por exemplo, de extravagâncias como Cláudio Henrique Barack Obama (5.293 votos) ou Zé Foguete (2.119). “Eu só tive alguns segundos na televisão”, tentou justificar-se em outubro passado. Se telinha decide eleição, o náufrago das urnas talvez tenha alguma chance de virar síndico do prédio onde mora. Em 21 de abril, no fim do capítulo da novela Amor e Revolução, do SBT, ele teve direito a um monólogo de 3 minutos e meio para descrever a execução do industrial Henning Albert Boilesen. É um tempo de candidato a presidente.
Reinaldo Azevedo já liquidou a questão num post devastador, que escancarou a torpeza do assassino vocacional engajado na luta pela implantação da ditadura do proletariado. Pupilo predileto de Carlos Marighela, Clemente mostrou com a performance ter aprendido com o mentor “a beleza que há em matar com naturalidade”. E segue convencido de que, como ensinou Marighela, “ser terrorista é motivo de orgulho”. O serial killer dos anos 70 não se arrepende de nada, nem sequer do “justiçamento” do companheiro de ALN Márcio Leite de Toledo (veja o texto na seção Vale Reprise), que relata com a placidez de quem repassa uma receita de bolo.
Volto ao tema apenas para não deixar sem resposta a pergunta, que só me chegou agora, feita por Clemente quando contei pela primeira vez a saga de Márcio Toledo. “O que quer o jornalista Augusto Nunes quando publica um artigo como este?”, indagou o terrorista na reserva em novembro de 2008. Simples: quero deixar claro que não há nenhuma diferença entre o torturador que matou Vladimir Herzog e o terrorista Clemente. Um em defesa da ditadura militar, outro perseguindo a ditadura comunista, ambos se tornaram assassinos sem direito a perdão.
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