Diante das 648 mortes já confirmadas na tragédia que se abateu sobre a Região Serrana do Rio, a população do Estado tem a obrigação de, em respeito às vítimas, promover um amplo boicote ao carnaval que se aproxima, além de exigir a punição do governador, isso se ainda existir um pingo de vergonha ou dignidade na sociedade, diante de tanta irresponsabilidade e podridão dentro dos poderes públicos.
A maioria dessas mortes aconteceu por um “desleixo assassino”.
A jornalista Eliane Cantanhêde, reforçando dados levantados pelo repórter Evandro Spinelli nos traz a informação divulgada na Internet de que um estudo técnico que apontava o risco crescente de um desastre em grandes proporções na Região Serrana foi formalmente entregue ao governo do Rio, que o havia encomendado. Isso aconteceu em 2008.
Além disso, horas antes da tragédia, as autoridades irresponsáveis foram alertadas de que o novo radar da Prefeitura do Rio e o Instituto Nacional de Meteorologia haviam identificado previamente a formação de uma grande tempestade.
Nada, criminosamente, foi feito.
Podemos agora dizer ao governador, novamente, que não há necessidade de ser identificado qualquer bode expiatório para justificar tantas mortes.
O irresponsável, responsável pela falta de atitudes para evitar uma tragédia de tamanha proporção, ao que tudo indica, foi o próprio governador, que não tomou as providências necessárias e nem cobrou do desgoverno Federal as atitudes que compulsoriamente deviam ter sido planejadas e executadas para dar condições ao Estado do Rio de fazer os investimentos necessários na prevenção de uma tragédia que acabou acontecendo.
Enquanto o presidente, sua candidata e o governador trocavam carícias políticas durante dois anos, as bases de sustentação das encostas em muitos locais da Região Serrana estavam sendo corroídas para em algum momento desabar - em uma tragédia previamente anunciada - sobre os moradores de diversas regiões do Estado.
O governador precisa se pronunciar com dignidade e respeito à sociedade, pois diante das informações divulgadas pela impressa pode ser o responsável direto por mais de “600 mortes com famílias inteiras destruídas, patrimônios residenciais despedaçados e bilhões de prejuízos aos bolsos particulares e aos cofres públicos”.
A sociedade não pode mais ficar omissa diante de tantas desgraças provocadas pela falência de um modelo de política que permite tragédias sistemáticas se abatendo sobre os cidadãos que trabalham mais de cinco meses por ano para sustentar um poder público que não cumpre minimamente o seu papel.
Deixar o que acaba de acontecer no Rio virar história esquecida durante os bailes de carnaval nos colocará todos no mesmo barco da definitiva perda de nossa cidadania, e formalizará perante o mundo nossa falta de dignidade como sociedade organizada, nossa covardia como contribuintes sistematicamente explorados, e uma assustadora e incompreensível fragilidade moral diante dos canalhas da política, que continuarão provocando mortes pela irresponsabilidade do não cumprimento de suas obrigações com os que os elegem.
Se alguém esperar que a Justiça cumpra o seu papel de punir duramente os responsáveis por essa tragédia diante dos fatos levantados por jornalistas que espere sentado para não se cansar.
O que poderá nos restar fazer depois disso? – Assumir nossa condição de idiotas e palhaços que sustentam um poder público degenerado e uma corja de políticos, responsáveis diretos pela morte de centenas de cidadãos e muitos familiares dos que conseguiram se salvar, e fazer minutos de silêncio pela morte definitiva de nossa dignidade, honra e cidadania.
Geraldo Almendra
17/01/2011
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