terça-feira, 26 de março de 2019
A diplomacia brasileira tem condições de recuperar o respeito perdido
nos anos petistas e de colaborar para o pleno desenvolvimento do país,
ressalta editorial da Gazeta do Povo desta manhã:
A política externa do governo Jair Bolsonaro (PSL), que era tema de
muitas incógnitas, começa a ganhar contornos nas primeiras viagens
presidenciais oficiais e em entrevistas do chanceler Ernesto Araújo à
imprensa. Com os resultados colhidos nas visitas aos Estados Unidos e ao
Chile, a retomada da prudência na questão da transferência da embaixada
brasileira em Israel e nas relações com a China, as reiteradas
negativas à ideia de intervenção militar estrangeira na Venezuela e a
elucidação das críticas que o chanceler já fez ao multilateralismo, a
diplomacia de Bolsonaro, amparada pela qualidade técnica do Itamaraty,
começa a trazer bons frutos ao Brasil.
Exageros retóricos à parte, o Brasil trouxe dos Estados Unidos uma
agenda positiva, que contribui para os esforços da equipe econômica em
modernizar o país. A sinalização de que os americanos vão apoiar o
pleito brasileiro de entrar na Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e de que o Brasil vai “começar a abrir
mão” do Tratamento Especial e Diferenciado (TED) na Organização Mundial
do Comércio (OMC) – um privilégio já pouco utilizado pelo Brasil e que
pode servir de entrave à liberalização do comércio – contribuirá para a
abertura comercial do país e, conjugada às reformas econômicas, é
positiva para a atração de investimentos. Também é alvissareira a
intenção dos países de retomar a negociação de tratados comerciais (um
atraso injustificável do Brasil) bem como a conclusão de uma nova versão
do Acordo de Alcântara, que agora deve ser enviada ao Congresso
Nacional e tem potencial para colocar o Brasil no crescente mercado
mundial de lançamento de satélites.
A viagem ao Chile também sinalizou na direção correta. Embora não
tenham concluído nenhum acordo formal, em razão de avanços recentes, os
países anunciaram tentar acelerar a aprovação pelos respectivos
Legislativos do acordo de livre comércio celebrado em outubro do ano
passado, um dos mais ambiciosos textos que o Brasil já assinou com um
parceiro. Durante a viagem, as nações da América do Sul também deram
início à criação do Foro para o Progresso da América do Sul (Prosul), um
espaço de concertação política mais flexível e menos oneroso, que deve
sepultar de vez a Unasul, paralisada desde 2017 por ação da Venezuela. A
ideia de melhorar a integração da América do Sul em bases francamente
democráticas e mais ágeis vem em boa hora e tem o potencial de catalisar
a agenda liberal em uma região que por tempo demais esteve refém de
ideologias nocivas ao desenvolvimento econômico e político de seus
países.
Embora a escolha de Chile e Estados Unidos, seguidos na próxima
semana de Israel, como primeiros destinos internacionais reflita com
clareza a linha mestra que a nova política externa quer dar ao Brasil, o
país ganhou com as matizes que o governo passou a dar às questões da
China e da transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv
para Jerusalém. Refletindo preocupações legítimas de setores econômicos e
de outras alas do governo, Araújo já sinalizou que pretende investir em
uma agenda positiva com a China – maior cliente do agronegócio
brasileiro –, e o Itamaraty vem tentando lidar com a questão da
embaixada – e de uma aproximação mais ampla com Israel – de uma maneira
que não afronte os países árabes e muçulmanos. Na mesma linha de
moderação, é positivo que as autoridades tenham expressado a necessidade
de que uma eventual intervenção militar na Venezuela não seja feita de
forma atabalhoada, sem o consenso das nações prudentes diante da
catástrofe humanitária que se desenrola no país vizinho.
Também chama a atenção que, em suas últimas manifestações, o
chanceler brasileiro tenha matizado suas críticas ao multilateralismo – o
que levantava preocupações legítimas, tendo em vista seus primeiros
textos que vieram a público. Araújo tem dito que combater o globalismo
não é combater as instituições multilaterais, como a Organização das
Nações Unidas (ONU), e a Organização dos Estados Americanos (OEA), mas
sim certas agendas que encontraram nesses fóruns uma oportunidade de
prosperar à revelia das soberanias nacionais. O maior exemplo desse
expediente é o ativismo de comitês de acompanhamento de tratados de
Direitos Humanos, que tentam fazem avançar a promoção do aborto e da
ideologia de gênero, contando com a simpatia de juízes ativistas nos
Judiciários nacionais, que muitas vezes citam em decisões judiciais
entendimentos que não refletem o consenso dos Estados Nacionais nem a
intenção original dos tratados de Direitos Humanos. Falta agora ao
governo brasileiro apresentar uma estratégia consistente de atuação nos
organismos internacionais para combater a instrumentalização desses
espaços pela agenda permissiva nos costumes.
É verdade que ainda há ajustes a se fazer no tom da comunicação
oficial, notadamente no Twitter, um espaço em que exageros têm o
potencial de criar confusões e ferir susceptibilidades, ainda mais em um
campo tão delicado como a diplomacia. Mas, se o governo continuar
investindo em uma mensagem moral e política clara em prol da liberdade e
da democracia, temperada pelo pragmatismo e pela excelência técnica que
são marcas do Itamaraty, a diplomacia brasileira tem condições de
recuperar o respeito perdido nos anos petistas e de colaborar para o
pleno desenvolvimento do país. DO O.TAMBOSI
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