Cerca de 10 mil pessoas participaram dos protestos em Paris, e 125 mil em toda a França. Torre Eiffel e outros pontos turísticos ficaram fechados por conta das manifestações.
Por G1
Milhares de manifestantes, chamados de "coletes amarelos", protestaram
pelas ruas de Paris neste sábado (8) pelo quarto final de semana
consecutivo. Perto da Champs-Elysées, a polícia jogou gás lacrimogêneo
contra os manifestantes, que enfrentaram a polícia gritando "Macron
renúncia!".
Segundo o ministro do Interior francês, Christophe Castaner, 10 mil
pessoas participaram dos protestos em Paris, e 125 mil em toda a França.
Castaner também afirmou que 1385 manifestantes foram detidos.
Os protestos deste sábado deixaram 135 feridos, sendo 118 manifestantes e 17 policiais. Vários jornalistas também se feriram.
A polícia, que delimitou as ruas por onde os manifestantes poderiam
passar, jogou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os que haviam
desobedecido a determinação, em ruas próximas à Champs-Elysées, perto do
Arco do Triunfo. Além disso, usou canhões de água e cavalos contra os manifestantes, mas
houve menos violência do que na semana passada, quando manifestantes
incendiaram 112 carros e saquearam lojas nos piores tumultos em Paris
desde maio de 1968.
Entre os manifestantes detidos em Paris, de acordo com a Reuters, 500
permaneceram sob custódia depois que a polícia encontrou armas em
potencial, como martelos, bastões de beisebol e bolas de metal.
Os manifestantes conseguiram sair área altamente protegida dos
Champs-Elysées para outras partes da cidade, incendiando carros,
lixeiras e persianas de madeira.
Pequenos grupos de policiais se moveram rapidamente entre os
manifestantes e reprimiram qualquer um que tentasse danificar lojas ou
instalações públicas.
Uma fonte policial disse à Reuters que temia que as coisas ficassem
fora de controle depois do anoitecer. Grandes grupos de pessoas estariam
indo para o leste de Paris, onde uma marcha contra a mudança climática
estava em andamento. Policiais armados foram vistos quebrando barricadas
improvisadas no bairro de compras de luxo em torno do Boulevard
Haussmann, onde os supermercados foram saqueados e vários carros foram
incendiados.
Cerca de 89 mil policiais foram mobilizados em todo o país. Desses, 8
mil estão alocados em Paris, para evitar as cenas da última semana, que
contou com carros incendiados e com o Arco do Triunfo pichado com frases
contra o presidente francês Emmanuel Macron.
No Twitter, imagens mostram jatos de água sendo atirados contra os
manifestantes. O resgate da Cruz Vermelha relatou que a ação deixou
feridos:
O primeiro-ministro, Édouard Philippe, presidiu na manhã deste sábado
uma reunião com os responsáveis de segurança no Ministério do Interior,
entre eles o ministro da pasta, Christophe Castaner.
Pela primeira vez em mais de uma década, as forças da ordem em Paris
contaram com blindados da Gendarmeria (uma das forças militares
encarregada da segurança do Estado francês) que podem atravessar
barricadas.
A manifestação de sábado é a quarta de uma série de protestos que
ocorreram no último fim de semana nos piores tumultos que a França
testemunhou durante décadas, com a ira concentrada principalmente no
desempenho do presidente francês, Emmanuel Macron.
"Temos que mudar a República", disse uma manifestante à CNN. "As
pessoas aqui estão famintas. Algumas pessoas ganham apenas 500 euros por
mês que não dá para viver. Queremos que o presidente vá embora", disse.
Patrice, um pensionista de Paris, disse que estava protestando por
causa do "governo, dos impostos e de todos esses problemas. Temos que
sobreviver".
O setor de varejo francês sofreu uma perda de receita de cerca de US$
1,1 bilhão desde o início dos protestos do colete amarelo no mês
passado, disse a porta-voz da federação de varejo francesa, Sophie
Amoros, à CNN.
Cidade fantasma
Grande parte de Paris parecia uma cidade fantasma, com museus e lojas
de departamento fechados, no que deveria ter sido um dia festivo de
compras antes do Natal.
Os turistas eram escassos e os residentes eram aconselhados a ficar em
casa. Dezenas de ruas ficaram fechadas para o tráfego, enquanto a Torre
Eiffel e museus como o Louvre, o Musée d'Orsay e o Centre Pompidou não
abriram para o público.
Lojas de departamento também não abriram as portas por medo de saques
que aconteceram em outros dias de protesto, entre elas a Galeries
Lafayette, Le Bon Marché, BHV e Printemps.
As áreas mais sensíveis por serem pontos de concentração dos "coletes
amarelos", como o bairro da Champs-Elysées, as praças da República e da
Bastilha, foram fechadas para o tráfego desde o início da manhã.
Diversos mercados e estabelecimentos públicos também não funcionaram,
além de aproximadamente 40 estações de trem e metrô. Agências bancárias,
cinemas, lojas, cafés e restaurantes cobriram suas vitrines com tapumes
e placas de fibra de vidro para se proteger de atos de vandalismo dos
manifestantes.
Veja alguns dos locais que estão fechados neste sábado:
- Louvre
- Musée d'Orsay
- Museu de Arte Moderna
- Grand Palais
- Petit Palais
- Museu do Homem
- Palácio de Chaillot
- Cidade da Arquitetura e do Patrimônio
- Torre Eiffel
- Duas sedes da Ópera de Paris
- Palácio Garnier
- Praça da Bastilha
- Praça da República
- O ministro do Interior, Christophe Castaner, disse que "o governo
estendeu a mão" com a disponibilidade para o diálogo e medidas como a
suspensão do aumentos dos impostos sobre o combustível que estava
programado para janeiro: "Agora é preciso sentar à mesa e discutir".
Protestos na Bélgica
Houve protestos também em Bruxelas, capital da Bélgica, e cerca de 70 pessoas foram presas preventivamente, segundo Ilse Van De Keere, porta-voz da área de Bruxelas-Capital-Ixelles. Dezenas de pessoas se reuniram em dois lugares da capital belga, Arts-Lois e Porte de Namur, mas sem atos violentos.As autoridades implantaram cordões policiais onde estão concentradas as instituições do bloco europeu (Comissão, Conselho e Parlamento Europeu), impedindo o acesso a veículos e pedestres.Os "coletes amarelos" também bloquearam a auto-estrada E17 em direção a Rekkem, cidade localizada perto da fronteira francesa. Outra estrada que leva à fronteira francesa também foi bloqueada por manifestantes.O movimento foi exportado para a Bélgica, particularmente para a região francófona. Em 30 de novembro, uma manifestação de 300 pessoas também terminou em tumultos em Bruxelas, onde eles queimaram dois veículos da polícia.Confrontos
No sábado (1º), houve confronto dos manifestantes com a polícia na Avenida Champs-Elysées, em Paris, que deixou 130 feridos e mais de 400 detidos. Cerca de 36 mil saíram às ruas por toda a França naquele dia.Aumento cancelado
Os protestos foram mantidos apesar de o governo ter anunciado na quarta-feira (5) que desistiu de aumentar os impostos de combustíveis. Inicialmente, a medida seria suspensa por seis meses, mas depois o primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, disse que o aumento não entraria no projeto orçamentário de 2019.Segundo a imprensa francesa, o presidente Emmanuel Macron tomou a decisão após perceber que a primeira proposta não foi bem recebida pelos "coletes amarelos".Apesar da desistência do aumento no imposto do combustível, os "coletes amarelos" continuam exigindo mais concessões, incluindo impostos mais baixos, salário mínimo mais alto, custos de energia mais baixos, melhores benefícios de aposentadoria e até a demissão de Macron.As autoridades dizem que os protestos estão sendo usados pela extrema-direita e anarquistas empenhados na violência e na agitação social.O movimento
Os protestos começaram em 17 de novembro em oposição ao aumento dos impostos sobre os combustíveis, mas, desde então, se tornaram um amplo movimento contra a política econômica e social do presidente Emmanuel Macron.O governo, encurralado pelas ruas, suspendeu o imposto sobre combustíveis e congelou os preços da eletricidade e do gás durante o inverno.No entanto, para os "coletes amarelos", que ampliaram suas reivindicações, essas concessões foram insuficientes. Contam também com o apoio da maioria dos franceses (68%, segundo a última pesquisa).Muitos dos "coletes amarelos", chamados assim pelo adereço fluorescente de segurança que usam, se manifestam pacificamente, mas alguns se radicalizaram. Membros de grupos de extrema direita e de extrema esquerda aproveitam os protestos para enfrentar a polícia, às vezes de forma brutal.Alguns membros do coletivo fizeram um chamado a não participar de manifestações em Paris para evitar mortes. Até o momento, não foram registradas vítimas diretas, mas quatro pessoas perderam a vida em acidentes relacionados com os protestos.Algumas embaixadas, como a de Estados Unidos, Bélgica e Portugal, aconselharam seus cidadãos a adiar suas viagens e pediram aos residentes na França a aumentar as precauções.Futuro da Europa na balança
Dominique Moisi, especialista em política externa do Institut Montaigne, de Paris, e ex-assessor de campanha da Macron, disse à CNN que a presidência da França não está apenas em crise, mas que o futuro da Europa também está na balança. "Dentro de alguns meses, haverá eleições europeias, e a França deveria ser portadora de esperança e progresso europeu. O que acontecerá se não for mais? Se o presidente está incapacitado de levar essa mensagem?", questionou."É sobre o futuro da democracia também; democracias não-liberais estão crescendo em todo o mundo. E se Macron falhar, o futuro da França corre o risco de parecer a presidência da Itália hoje. E é muito mais sério porque temos um Estado centralizado, que desempenha um papel importante no equilíbrio de poder dentro da Europa. Mas não se engane, é uma versão francesa de um fenômeno muito mais global".O movimento CGT da extrema esquerda da França prometeu apoio ao movimento, que também é apoiado pelo líder da extrema direita, Marine Le Pen
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