terça-feira, 21 de agosto de 2018
PT e PSDB são irmãos de
uma mesma família política: o socialismo. A acusação feita pelo PT de
que o PSDB era de direita é similar a um irmão que, ao se irritar, xinga
a mãe, se esquecendo de que é filho do mesmo ventre. É por isso que,
hoje, o inimigo comum da esquerda representada por petistas e tucanos
chama-se Jair Bolsonaro. Artigo de Bruno Garschagen, via Gazeta do Povo:
Eis o fato que gerou discussão na semana passada: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) afirmou em entrevista
à rádio Jovem Pan que, na hipótese de o candidato Geraldo Alckmin do
PSDB não passar para o segundo turno, ele e o seu partido poderiam
apoiar o candidato do PT, Fernando Haddad, contra o candidato Jair
Bolsonaro, do PSL.
Por parte do PSDB, o
apoio numa eleição presidencial não será novidade. Em 1989, após Mario
Covas fracassar no primeiro turno, o partido apoiou Lula
contra Fernando Collor de Mello no segundo turno (Lula perdeu). A
possibilidade existe, mas, dadas as circunstâncias atuais, creio que o
segundo turno que se desenha será entre Geraldo Alckmin e Jair
Bolsonaro. Nesse caso, o PT apoiaria o candidato do PSDB?
Na sabatina
realizada recentemente pelo BTG Pactual, questionado sobre esse cenário
hipotético, Haddad disse veladamente que o PT poderia apoiar Alckmin.
Haddad lembrou que em
São Paulo a aliança circunstancial entre petistas e tucanos ocorreu
quando havia um inimigo em comum. Em 1998, na eleição para o governo
estadual, Martha Suplicy, candidata do PT derrotada no primeiro turno,
apoiou Covas no segundo turno contra Paulo Maluf (PPB). Covas venceu. Em
2000, na eleição para a prefeitura, a situação se inverteu: perante a
derrota no primeiro turno de seu candidato Alckmin, Covas e o PSDB
apoiaram Martha no segundo turno contra Maluf. Martha venceu.
Há dois aspectos
anteriores que parecem ter marcado o espírito e o coração de FHC para
sempre em relação a Lula e ao PT: ideologia e apoio no início da
carreira política. Sociólogo socialista, este pleonasmo vicioso, e
intelectual marxista, FHC foi treinado e formado na Universidade de São
Paulo (USP). Na USP trabalhou sob orientação do professor socialista
Florestan Fernandes, que fundou a sociologia crítica no Brasil e, em
1986, filiou-se ao PT e elegeu-se deputado federal pela primeira vez (em
1990 foi reeleito).
Quando, em 1978, FHC
disputou a sua primeira eleição como candidato ao Senado pelo MDB,
contou com o apoio de Lula, na época uma importante liderança
sindicalista no ABC paulista. Na época, a proximidade e a identificação
entre ambos foram tão grandes que os dois planejaram a criação de um novo partido, que só não vingou porque Lula tinha urgência, FHC não. Antes que uma nova sigla fosse criada, FHC queria Lula no MDB.
Em 1979, FHC disputou
contra Leonel Brizola a representação no Brasil da Internacional
Socialista em um encontro realizado em Viena. Brizola venceu e FHC
iniciou um processo de conversão à social-democracia que, anos mais
tarde, resultaria na criação do PSDB.
PT e PSDB são irmãos
de uma mesma família política: o socialismo. A acusação feita pelo PT de
que o PSDB era de direita é similar a um irmão que, ao se irritar,
xinga a mãe, se esquecendo de que é filho do mesmo ventre. É por isso
que, hoje, o inimigo comum da esquerda representada por petistas e
tucanos chama-se Jair Bolsonaro. Precisamente por essa razão é que, num
cenário em que Bolsonaro consiga passar para o segundo turno, os dois
partidos se unirão a outras siglas de esquerda que são seus satélites, e
às oligarquias que formam o centrão, para apoiar o candidato de um ou
de outro que vá para a segunda volta. O objetivo maior será derrotar o
candidato do PSL, que vem angariando cada vez mais apoio em extratos
distintos da sociedade brasileira.
Não é só entre os
políticos que o movimento contrário a Bolsonaro está em curso. A posição
de FHC faz parte de uma reação que vem sendo expressa por jornais,
revistas, esquerdistas de várias matizes, de artistas a youtubers,
temerosos da eleição do candidato do PSL.
No mês passado, o comediante de esquerda Gregório Duvivier dedicou um programa inteiro do seu Greg News
na HBO para atacar Bolsonaro. Fez um roteiro para tentar transmitir a
ideia de que o candidato do PSL é o cão (armado) chupando manga. Pior:
durante 20 minutos, tentou convencer a sua audiência de que Bolsonaro é,
para o Brasil, pior do que Hitler foi para a Alemanha. Com mais de 1,2
milhão de visualizações, o vídeo teve mais descurtidas (90 mil) do que
curtidas (86 mil).
Toda essa exasperação
faz lembrar o temor da esquerda americana em relação à Donald Trump
durante a campanha presidencial de 2016.
Em novembro daquele ano, um mês antes de Trump se eleger presidente, escrevi
que estava convencido de que o candidato do Partido Republicano
venceria a eleição. Não o fiz por torcida ou apantomancia, mas por
aquilo que chamei de Escala de Desespero Esquerdista. A medição
funcionava da seguinte maneira: quanto maior a aflição mais elevada era a
chance de vitória de Trump; quanto maior o temor da vitória mais
elevada era a agressividade.
Em relação a
Bolsonaro no Brasil tem se dado fenômeno similar. Muito se escreveu
sobre semelhanças e diferenças entre Bolsonaro e Trump, mas, creio, as
semelhanças são mais evidentes e mais profundas se compararmos a reação
da esquerda daqui nesta eleição com a reação da esquerda de lá na
eleição de dois anos atrás.
A intensidade e
agressividade dos ataques contra Bolsonaro aumentaram nos últimos meses à
medida que o candidato se consolidava como líder nas pesquisas de
intenção de voto. A dois meses da nossa eleição, por diversão, venho
usando a mesma Escala de Desespero Esquerdista para monitorar o
comportamento da esquerda e das oligarquias. Se a Escala se revelar mais
uma vez eficaz, os ataques contra Bolsonaro vão aumentar assim como as
chances dele passar para o segundo turno contra o candidato do PT ou do
PSDB. DO O.TAMBOSI
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