Josias de Souza
Tomado
pelo teor de suas manifestações no julgamento sobre a chapa
Dilma-Temer, o ministro Herman Benjamin parece empenhado em impedir o
Tribunal Superior Eleitoral de se matar. Armou-se no plenário da Corte
máxima da Justiça Eleitoral uma encenação
destinada a salvar o mandato de Michel Temer e, de cambulhada,
preservar os direitos políticos de Dilma Rousseff. Parte do TSE deseja
julgar o caso num país alternativo, um Brasil sem Odebrecht. E Benjamin,
relator do processo, desnuda a manobra. É como se ele quisesse
escancarar o comportamento de alto risco, oferecendo aos julgadores a
oportunidade de livrar a Justiça Eleitroal da autodesmoralização.
A certa altura, Benjamin declarou, com outras palavras, que ignorar a Odebrecht corresponderia a algo como fechar os olhos para uma manada de elefantes: “Só os índios não contactados da Amazônia não sabiam que a Odebrecht havia feito colaboração premiada. Se isto não é fato notório e público, não existirá outro. […] Todos nós sabíamos disso —todos nós que estamos aqui, fato público e notório.”
Benjamin já insinuara na noite da véspera que escoraria seus argumentos contra o expurgo das provas da Odebrecht em voto proferido por Gilmar Mendes. Foi com base nesse voto que o TSE rejeitou, em 2015, por 5 votos a 2, o arquivamento da ação do PSDB contra a chapa Dilma-Temer. Mais: o tribunal decidiu aprofundar a investigacão. Antes de inquirir delatores do petrolão, Benjamin requisitou ao STF e ao juiz Sergio Moro informações sobre a Lava Jato. Na sessão desta terça-feira, realçou o inusitado que seria ignorar a essa altura o resultado da apuração.
“O que fazer com isso?”, indagou o relator. E Gilmar Mendes: “Agora, Vossa Excelência teria mais um desafio: manter o processo aberto e trazer as delações da JBS. E talvez, na semana que vem, as delações de Palocci —para mostrar que o argumento de Vossa Excelência é falacioso”. Benjamin rebateu o colega. Disse que se ateve aos termos da petição que deu origem ao processo, que falava de Petrobras e Odebrecht, mas não mencionava JBS nem Antonio Palocci.
Só a partir da manhã desta quarta-feira, Benjamin começará a ler a parte do seu voto referente ao mérito da causa. Deve posicionar-se a favor da cassação do mandato de Temer e da inabilitação de Dilma para pedir votos pelo período de oito anos. Mas a exclusão das provas relacionadas à Odebrecht deixaria manco o voto do relator, abrindo caminho para livrar Temer e Dilma de punições.
Considerando-se as manifestações iniciais, apenas dois ministros soaram como se tendessem a acompanhar o relator: Luiz Fux e Rosa Weber. Outros três deram a entender que pendem para o outro lado: Gilmar Mendes, Napoleão Nunes Maia e Admar Gonzaga. O Planalto espera que o ministro Tarcísio Veira Neto engrosse esse bloco, formando uma maioria de 4 a 3 contra a condenação.
A estratégia adotada por Benjamin é óbvia. Ao expor a manobra, o ministro tenta reverter o resultado. A tática é arriscada. Pode agravar a situação. Quanto mais o relator desnuda o TSE, mais desmoralizado o tribunal fica. A Corte talvez já não consiga resistir aos impulsos autodestrutivos. Submetido a um processo inédito, envolvendo irregularidades cometidas por uma chapa presidencial, o TSE poderia fazer história. Mas alguns ministros parecem mais inclinados a pôr fogo às vestes, suicidando a Justiça Eleitoral.
O julgamento pode se arrastar até sexta-feira. Entretanto, Michel Temer já discursa como se tivesse a certeza de que o TSE não ousará levar seu escalpo à bandeja
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