Investidores veem 'custo Temer' nos preços do país, com juros e custos mais altos.
“Mercado tem apreço por reformas e não por manutenção” do presidente, diz gestor
“A permanência dele acabou sendo negativa, sem dúvida. Se o Tribunal Superior Eleitoral tivesse decidido pela cassação da chapa, teria sido mais fácil”, afirmou ao EL PAÍS Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central (1995-1997) e sócio da consultoria Tendências. Isso não aconteceu, a ser ver, porque não há incentivo para ele sair. “Teria sido mais tranquilo do ponto de vista da economia se Temer tivesse renunciado e entregue a presidência para alguém eleito pelo Congresso”, completa Loyola.
Enquanto luta para permanecer no poder, Temer estaria atrasando diretamente a retomada da economia. O “custo Temer” dificulta a tarefa do Banco Central de reduzir os juros para estimular a economia e atrasa investimentos. É uma consequência direta do que os economistas chamam de “prêmio de risco”, como é chamado o lucro adicional que investidores exigem antes de aplicar dinheiro para correr determinado grau de risco.
Um sinal da dificuldade do governo em reduzir juros já tinha se evidenciado na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no fim de maio, quando só foi reduzida em 1 ponto percentual a taxa Selic, para 10,25% ao ano. A expectativa era de uma queda de 1,25 ponto percentual antes de vir a público a delação da JBS e de Temer virar investigado. Mas a condição do presidente atrapalhou tudo e tirou o otimismo do mercado.
A situação claudicante de Temer dita uma espécie de ciranda financeira com reflexo direto nos preços: juros maiores reduzem consumo e investimento, retardam a atividade econômica. “O mercado tem apreço pelas reformas e não pela manutenção da pessoa de Temer. Ele individualmente é um peso”, explica Rogério Braga, gestor de renda fixa da Quantitas, que administra mais de 1,2 bilhão de reais.
Para piorar o quadro, o programa econômico de Temer criou uma armadilha caso não seja aprovada uma reforma trabalhista e previdenciária. Isso porque entrou em vigor no fim de 2016 a Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos, a PEC do Teto, que limita a evolução das despesas à inflação acumulada de cada ano. Sem a economia propiciada pelas reformas ou por improváveis cortes de gastos, Temer ficou emparedado – o gasto público inevitavelmente vai subir e dificultar a margem de manobra depois desse teto orçamentário em vigor.
O Governo Temer tenta evitar o clima de pessimismo. Em discurso no Palácio do Planalto nesta segunda-feira, pouco antes de ser denunciado pelo procurador Rodrigo Janot, o presidente afirmou que “o Brasil está nos trilhos, no caminho da responsabilidade e na rota da superação”. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tinha afirmado que ainda há perspectivas “positivas” para a aprovação da reforma trabalhista mesmo depois da derrota na Comissão de Assuntos Sociais do Senado.
Mesmo que Temer consiga permanecer no poder e derrubar no Congresso a sequência de ações penais na cartucheira do procurador-geral da República, essa eventual blindagem aumenta ainda mais o peso para que congressistas queiram aprovar as impopulares reformas propostas por Temer. Nenhum político sai ileso nas urnas depois de apoiar medidas impopulares e de blindar um réu da Justiça.“O melhor cenário de todos seria Temer sair e ser substituído por um nome consensual com apoio da base”, afirmou Braga. O gestor acredita, no entanto, que o cenário político mais provável é que Temer permaneça no poder até o fim do mandato, sem conseguir aprovar reformas prometidas.
O problema é que está longe do horizonte um nome de consenso para conduzir o país. O banqueiro Ricardo Lacerda, sócio do banco BR Partners, vê um “rápido e claro processo de sarneyzação” do governo Temer, mas não arrisca previsões. Quando comparam Temer com o Governo Sarney, especialistas veem um presidente com pouca margem de manobra, em uma economia claudicante, que apenas esquenta o banco para o sucessor. “Pela fotografia de hoje, eu avalio que o governo permanece até o fim sem força política para aprovar reformas”, diz Lacerda. Diante desse cenário, a previsão de Lacerda é de um mercado volátil com gradual deterioração, tudo que os investidores mais detestam. DO EL PAIS
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