O julgamento das ilegalidades atribuídas à campanha presidencial da chapa Dilma-Temer prossegue. Mas já não preocupa Michel Temer. O presidente terá uma surpresa extraordinária se obtiver do plenário do Tribunal Superior Eleitoral algo diferente de uma pizza.
Julgando-se absolvido por antecipação, Temer já se ocupa do planejamento do day after. Cuida dos minutos, porque suas horas passam. Espera para a semana que vem uma denúncia formal do procurador-geral da República Rodrigo Janot no caso JBS. Esforça-se para não fornecer matéria-prima nova ao responder por escrito ao interrogatório da PF. E simula otimismo enquanto tenta evitar a revoada dos tucanos.
Temer leva a vaca ao brejo nas asas do Aerosley
Josias de Souza
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A nota divulgada pelo Palácio do Planalto vale o desperdício dos 30 segundos necessários para sua leitura: “O então vice-presidente Michel Temer utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete. A família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte. O vice-presidente não sabia a quem pertencia a aeronave e não fez pagamento pelo serviço.”
O melhor pedaço do texto é a última frase. Nela, o Brasil foi informado de que é presidido pela única pessoa no planeta que desconhece a identidade de um amigo capaz de lhe ceder um jato gratuitamente. A coisa fica mais complicada quando se verifica que o autor da generosidade é o mesmo sujeito que Temer recebeu no escurinho do Jaburu e com quem manteve o diálogo vadio que lhe rendeu um inquérito criminal.
O sobrenome Batista não traz boa sorte aos nobres do PMDB. No mesmo ano de 2011, Eike Batista admitiu o empréstimo do seu jatinho Legacy para que o então governador Sérgio Cabral se deslocasse até um resort na Bahia, onde se realizava a festa de aniversário de outro amigo: Fernando Cavendish, dono da Delta. Temer já deve ter notado que Cabral, seu companheiro de partido, não é um bom exemplo. Mas tornou-se um fantástico aviso. Coleciona dez ações penais e leva a vida atrás das grades. Seus amigos arrastam tornozeleiras eletrônicas em casa.
Temer precisa tomar cuidado. A tal orquestração de que ele tanto se queixa realmente existe. Mas está no governo, não na Procuradoria-Geral de Rodrigo Janot ou no Supremo Tribunal Federal de Edson Fachin. Participam da orquestração ministros que levam investigações na flauta, aliados montados na gaita, ex-assessor pegando uma nota preta, Jucá batendo o bumbo anti-Lava Jato, Renan desafinando com a boca no trombone, a JBS na regência e o presidente dançando conforme a música, sem se dar conta de que virou uma caricatura de pouco discernimento – um ser incapaz de perceber o óbvio: alguém que leva a vaca para o brejo nas asas do Aerosley dispensa conspirações inimigas.
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