Com aliados e ex-aliados presos, cansados e dispostos a colaborar nas investigações e com a denúncia da PGR à vista, o presidente nunca esteve tão ameaçado
O presidente Michel Temer (PMDB) acumulou ao menos duas vitórias políticas nos últimos dias: se livrou da cassação no Tribunal Superior Eleitoral e conseguiu manter o apoio do PSDB, vital para a sustentação do seu governo. Mas no horizonte ainda há várias outras bombas para o peemedebista desarmar nos próximos se quiser permanecer à frente do cargo, ao qual foi alçado após a queda da presidente Dilma Rousseff (PT), em meio a um cenário de instabilidade política semelhante.
Além da iminente denúncia que será feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, outros “homens-bomba” ameaçam o futuro político do presidente. Os ex-deputados Rodrigo Rocha Loures e Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro estão presos, cansados e prestes a colaborar com as investigações. Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Temer, não está preso, mas pode ser a qualquer momento – nesta semana, entregou passaporte ao Supremo Tribunal Federal para evitar a prisão. Henrique Eduardo Alves, ex-ministro de Temer, não deu sinais de estar prestes a colaborar, mas está preso e é investigado por atos que resvalam no governo.
E ainda tem o empresário Joesley Batista, que detonou a crise atual, se exilou na China e voltou ao Brasil criticando Temer e reafirmando a sua disposição de continuar colaborando nas investigações contra o presidente.
Veja abaixo os “homens-bomba” no caminho de Temer:
Pode
criar o fato político mais relevante nos próximos dias ao oferecer
denúncia contra Temer no inquérito em que o presidente é investigado por
corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa. Se
oferecer denúncia, ela precisará ser aprovada por 2/3 da Câmara dos
Deputados para ser aceita pelo Supremo Tribunal Federal. Hoje, a
avaliação é que o presidente tem base política suficiente no Congresso
para arquivar a investigação, por isso, é esperado que o
procurador-geral da República venha com fatos novos, capazes de provocar
algum tipo de impacto que impeça os congressistas de barrarem a
denúncia. Além do teor da acusação em si, a iniciativa de Janot pode
abalar a sustentação política do governo. O PSDB, que decidiu esta
semana permanecer na base aliada, anunciou que pode rever a decisão se a
denúncia contra o presidente for aceita pelo Congresso. A expectativa é
que a denúncia seja apresentada até o dia 26 deste mês.
EDUARDO CUNHA
O
ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), peça-chave na
sequência de fatos que levou ao impeachment de Dilma e à ascensão de
Temer, está no limite, segundo seus familiares. Preso desde outubro de
2016 em Curitiba, pela Operação Lava Jato, já ameaçou envolver Temer
(PMDB) nas investigações ao arrolá-lo, por duas vezes, como testemunha e
encaminhar a ele mais de 40 perguntas, sugerindo irregularidades de
conhecimento do colega de partido e relacionando seu nome a outros
peemedebistas sob suspeita, como Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e
Moreira Franco. Na conversa que Joesley Batista gravou no Palácio do
Jaburu, Temer, na avaliação do Ministério Público Federal, concorda com
o pagamento de “mesada” para que Cunha fique calado. Na quarta-feira,
Cunha prestou depoimento no inquérito no qual Temer é investigado, a
pedido da Procuradoria-Geral da República, e disse que seu silêncio
nunca esteve à venda. Ele respondeu a mais de 20 perguntas sobre Temer.
E, pior, pode a qualquer momento fechar uma delação premiada com os
procuradores, que, certamente envolveria o presidente.
LÚCIO FUNARO
Preso
desde julho de 2016 pela Operação Sépsis, o doleiro Lúcio Bolonha
Funaro, apontado como operador de propinas do ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está fechando um acordo de delação, no qual
deve comprometer o presidente. No áudio gravado por Joesley Batista, da
JBS, de conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, o empresário diz
que está comprando o silêncio tanto de Cunha quanto de Funaro, ao que o
peemedebista responde: “Tem de manter isso aí”. Foi o próprio Temer
quem citou Funaro na conversa. Nesta semana, ele prestou depoimento no
inquérito no qual o presidente é investigado, o doleiro disse que Temer
tinha pleno conhecimento de como funcionavam os esquemas de corrupção
que abasteciam o cofre do PMDB. Funaro contou também que já se encontrou
com Temer, que chegou a tratar com ele questões referentes ao
financiamento do partido. Funaro foi preso com base na delação de Fabio
Cleto, ex-vice presidente de Fundos e Loteria da Caixa, onde atuava, em
nome de Cunha, no recebimento de propina para liberação de aportes
milionários do FGTS para grandes empresas, entre elas o Grupo J&F,
que engloba a JBS.
GEDDEL VIEIRA LIMA
Ex-ministro
de Temer, na poderosa Secretaria de Governo, caiu ao ser acusado por
seu colega, Marcelo Calero (Cultura), de fazer lobby para empreendimento
particular no qual tinha interesse. Em sua delação, Joesley Batista diz
que, depois que Temer assumiu, sua comunicação com o presidente se dava
através de Geddel e que toda vez que este queria saber se os pagamentos
a Eduardo Cunha estavam sendo realizados , ele perguntava: “E o
passarinho? Está calmo?”. Geddel também foi acusado pelo MPF de integrar
uma quadrilha com Cunha para cobrar propinas em um esquema envolvendo a
Caixa e a liberação de dinheiro para grandes grupos, entre eles o J
& F, ao qual pertence a JBS. Nesta semana, ele entregou seu
passaporte e abriu o seu sigilo bancário ao Supremo Tribunal Federal por
receio de ser preso a qualquer momento, o que não está descartado.
Aliado próximo de Temer até outro dia, uma eventual colaboração dele
pode complicar ainda mais o presidente.
RODRIGO ROCHA LOURES
Ex-assessor
especial de Temer, o ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR)
foi indicado pelo presidente a Joesley Batista, na conversa gravada
pelo empresário no Palácio do Jaburu, como interlocutor para tratar de
qualquer assunto no governo. Logo depois, foi flagrado recebendo uma
mala com R$ 500 mil do diretor da JBS Ricardo Saud, em uma pizzaria em
São Paulo. Em depoimento ao MPF, Saud disse que Loures era intermediário
e que o dinheiro era para Temer. Está preso e desesperado – nesta
semana, pediu para ser retirado do presídio da Papuda, no Distrito
Federal, e levado à carceragem da Polícia Federal em Brasília por que se
sentia ameaçado no presídio. Ainda não prestou depoimento no inquérito
em que é investigado junto com Temer – na primeira oportunidade, ficou
calado. Mas vai ser chamado a depor novamente e, em algum momento, terá
de dizer de quem era o dinheiro na mala.
HENRIQUE ALVES
Ex-ministro
do Turismo de Temer, pediu demissão após ter sido citado na delação de
Sérgio Machado, ex-diretor da Transpetro, que disse ter pago a ele R$
1,55 milhão em propina. Integrante da cúpula do PMDB e do governo – ele
estava ao lado de Temer no Planalto durante a votação do impeachment de
Dilma Rousseff (PT) -, foi preso este mês pela Polícia Federal acusado
de receber propina da OAS e da Odebrecht resultante do superfaturamento
da Arena das Dunas, em Natal. Também é acusado de integrar, com Eduardo
Cunha e Geddel Vieira Lima, um esquema de cobrança de propina para
liberação de recursos da Caixa. A prisão dele assustou o Palácio do
Planalto. Sua delação não chegou a ser aventada ainda, mas mesmo os seus
futuros depoimentos e as investigações em andamento em torno dele
levaram mais tensão ao governo e podem se transformar em mais um
desgaste para Temer.
JOESLEY BATISTA
Desencadeador
da atual crise política ao gravar o presidente da República e entregar o
vídeo ao Ministério Público Federal dentro de um amplo acordo de
delação premiada, o empresário voltou ao país esta semana, após ter se
“exilado” na China, segundo ele, para preservar a integridade de sua
família, que estaria sofrendo “reiteradas ameaças” desde que ele decidiu
colaborar com as investigações. E mandou um recado a Temer ao dizer que
“estava na China - e não passeando na Quinta Avenida, em Nova York, ao
contrário do que chegou a ser noticiado e caluniosamente dito até pelo
presidente da República”. Ele voltou a prestar depoimento à
Procuradoria-Geral da República nesta sexta-feira – segundo o jornal O
Estado de S. Paulo, ele reafirmou todas as acusações que fez na delação
premiada. O empresário continua disposto a colaborar com o Ministério
Público Federal e pode trazer fatos à investigação. DA VEJA.COM
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