sexta-feira, 10 de março de 2017

Segure a carteira, PMDB briga consigo mesmo

O PMDB está me pé de guerra. A bancada da Câmara se engalfinha com o bloco do Senado. O deputado Carlos Marun, general da tropa de Eduardo Cunha, disparou primeiro. Defendeu o afastamento de envolvidos na Lava Jato dos postos de direção partidária. Quer destituir, por exemplo, o senador Romero Jucá da presidência do PMDB. Em reação, Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado, afirma que Marun é o preposto de Cunha num plano para ocupar o governo e controlar o PMDB.
Vamos nos situar: de um lado, um deputado que até ontem pegava em lanças para evitar a cassação do mandato de Eduardo Cunha. Do outro lado, o réu e multi-investigado Renan Calheiros. Os dois revelam-se preocupados com a moral e a ética. Você pode achar que é só uma piada. Mas o mais prudente é segurar a carteira. Quando o PMDB resolve brigar, o contribuinte sempre sai machucado.
A confusão atual ocorre num instante em que o governo precisa de estabilidade no Legislativo para aprovar a reforma da Previdência. E a instabilidade tende a aumentar assim que a Procuradoria-Geral da República liberar a nova enxurrada de inquéritos abertos a partir das delações da Odebrechet. Os peemedebistas trocam socos à beira do abismo.
Há duas coisas por trás da falsa preocupação de Marun e Renan com a moralidade pública. A primeira é uma briga por cargos no governo. A segunda razão, mais importante, é uma disputa pelo controle do cofre do PMDB, onde estão guardadas as verbas do fundo partidário. Dinheiro público. Hoje quem tem a chave desse cofre é o PMDB do Senado. O tesoureiro é o senador Eunício Oliveira. E os deputados querem definir desde logo quanto cada um poderá gastar nas eleições do ano que vem. Se for pouco dinheiro, planejam aumentar o valor do fundo partidário para 2018 no Orçamento da União.
Ou seja: nessa briga, o PMDB do Senado e o PMDB da Câmara entram com os punhos. E você, caro contribuinte, entra com a cara. Ou com o bolso. DO J.DESOUZA

Temer não cogita afastar ministros investigados

A perspectiva de divulgação dos pedidos de inquérito decorrentes das delações da Odebrecht reacendeu nos porões do governo um debate sobre a situação dos ministros que devem constar da lista da Procuradoria-Geral da República. Dá-se de barato no Planalto, por exemplo, que irão à grelha do Supremo Tribunal Federal os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
Avalia-se que a novidade tornará ainda mais frágil o já debilitado estado-maior do governo. Ainda assim, Michel Temer não cogita afastar seus auxiliares. Nas palavras de um aliado que conversou com o presidente sobre o tema, “Padilha e Moreira só deixarão o governo nesta fase se quiserem. E eles não deram sinais de que desejam sair.”
Temer se mantém aferrado aos critérios que definiu para lidar com os ministros que ardem no caldeirão da Lava Jato: 1) os que forem formalmente denunciados pelo Ministério Público Federal, terão de se licenciar dos cargos. Nessa condição, não perderão o foro privilegiado; 2) aqueles que virarem réus em ações penais abertas pelo Supremo Tribunal Federal deixarão definitivamente o governo.
Na prática, além de fornecer uma desculpa automática para Temer e seus ministros, estes parâmetros como que desobrigam o presidente de pensar sobre o paradoxo que marca o seu mandato-tampão: o governo mantém a cabeça nas reformas econômicas e os pés no pântano da política.
Em privado, Temer revela-se obcecado pela preservação da maioria parlamentar. Seu maior receio é o de que a nova lista de encrencados elaborada pela Procuradoria perturbe o Legislativo a ponto de interferir no ritmo de tramitação de reformas como a da Previdência. O presidente di que fará o que for necessário para evitar o comprometimento das reformas.
Antessala da prosperidade econômica ou nova escala rumo ao abismo político, escolha sua metáfora para o que o governo Temer enfrenta na sua tentativa de chegar a 2018. Uma cena típica de desenho animado talvez seja a maneira mais adequada e sintética para descrever o que se passa.
Nos desenhos, às vezes acaba o chão. Mas os personagens continuam caminhando no vazio. Só despencam quando percebem que estão pisando em nada. Se não notassem, atravessariam o abismo. Temer assiste à deterioração moral do seu governo sem estranhar coisa nenhuma. Sua única preocupação é não olhar para baixo.DO J.DESOUZA

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