A Lava Jato chegou ao Foro de São Paulo
Investigações sobre obras do BNDES vão lançar luz sobre a esquerda da América Latina
Ignorado
por 13 de cada 10 analistas internacionais com espaço na grande
imprensa do Brasil, o Foro de São Paulo é um dos fenômenos mais
importantes na história recente da América Latina. Trata-se da
aglomeração dos principais líderes e partidos de esquerda do continente,
quase todos eles vitoriosos em seus países: Cuba, Venezuela, Brasil,
Bolívia, Equador, El Salvador, etc. É verdade que nos últimos anos o
Foro tem sofrido algumas derrotas, mas a solidariedade dos seus membros
segue atuante. Durante o impeachment de Dilma, por exemplo, alguns
presidentes estrangeiros se declararam contra o processo. Imaginem qual
seria a reação da esquerda brasileira se um presidente estrangeiro se
declarasse a favor…
Como nem a
imprensa nem a academia investigam muito o Foro, pouco se sabe, por
exemplo, sobre o financiamento da organização, que realiza (para citar
uma atividade prática que custa dinheiro) encontros anuais em hotéis.
Tínhamos acesso apenas a informações pontuais, como por exemplo que o
programa Mais Médicos foi concebido
para patrocinar a ditadura cubana. Também já era conhecida a atuação do
ex-poderoso João Santana, o de facto 40º ministro de Dilma, em eleger presidentes no exterior. Mas agora muito mais informação sobre o Foro será revelada, graças à Lava Jato.
Reportagem
de “O Globo” dá conta de que a Lava Jato já interrompeu obras em seis
países latino-americanos: Argentina, Cuba, Guatemala, Honduras,
República Dominicana e Venezuela. O país com o maior volume de recursos,
adivinhem só, é a Venezuela. Segundo o jornal, “[o]s projetos
[suspensos] somam US$ 5,7 bilhões e representam 58% do valor destinado
pelo banco para financiar a exportação de serviços de engenharia
brasileiros na região entre 2003 e 2015”. O ano de 2003, claro, não está
lá à toa. Segue o jornal:
“Nas últimas décadas, o Brasil se mostrou um parceiro endinheirado e exerceu seu poder para atrair aliados políticos na América Latina, Caribe e África. Entre 2005 e 2010, os empréstimos do BNDES quase quadruplicaram em dólares. Em um único ano, 2010, o banco brasileiro chegou a emprestar quase US$ 100 bilhões, três vezes o valor investido pelo Banco Mundial (Bird).”
As delações dos
executivos da Odebrecht e o inevitável avanço da Lava Jato sobre o
BNDES vão revelar muito ainda sobre como se deu a ascensão da esquerda
na América Latina durante os anos 2000. Um tópico que, por incrível que
pareça, não parece interessar muito aos acadêmicos ou jornalistas de
esquerda da América Latina…
Uma
reação possível às novas revelações será dizer que como a esquerda está
sofrendo derrotas agora, então o Foro nem foi tão relevante assim. Já
tem acadêmico dizendo
isso à BBC. É um raciocínio saboroso. Por essa lógica, o Império
Romano, o feudalismo e a União Soviética não foram relevantes. Afinal,
eles já acabaram…
Cedê Silva é jornalista. Escreve muito poucas vezes no medium.com/@CedeSilva e pouco muitas vezes no twitter.com/CedeSilva. Escreve no Implicante às sextas-feiras. DO IMPLICANTE
Nenhum comentário:
Postar um comentário