Desaparelhando o governo
Aos
poucos, o governo do presidente em exercício Michel Temer está tentando
reverter o gigantesco aparelhamento da máquina do Estado realizado pelo
PT ao longo de mais de uma década
As demissões já ultrapassam a casa das centenas, o que dá uma pálida ideia da abrangência do assalto petista ao poder.
Nem
é preciso dizer que essas medidas saneadoras foram recebidas pelos
simpatizantes do PT como uma afronta – e a máquina de propaganda
petista, ainda muito afiada, está empenhada em transformar a faxina
promovida por Temer em um atentado à “cultura” e aos “direitos sociais”,
justamente as áreas cuja administração foi a mais aparelhada pelo
partido – e assim, não à toa, se prestam à marquetagem fraudulenta que
faz do PT o proprietário das classes pobres do País. O escândalo que
alguns artistas estão fazendo para desqualificar Temer inclusive no
exterior, para ficar somente neste exemplo embaraçoso, mostra bem a
dificuldade que o presidente em exercício terá para retirar a
administração pública de vez da órbita do PT e de seus simpatizantes e
devolvê-la ao conjunto dos brasileiros.
A
claque petista fez muito barulho com a decisão de Temer de fundir o
Ministério da Cultura com o Ministério da Educação, rebaixando aquela
pasta à categoria de Secretaria. Do ponto de vista da imagem política,
foi um desastre que poderia ter sido evitado, pois alimenta a acusação
de que Temer estaria interessado em retaliar a chamada “classe
artística” porque esta se alinhou à presidente Dilma Rousseff e fez
campanha contra o impeachment.
No
entanto, noves fora o fato de que não existe essa tal “classe
artística”, a não ser na cabeça de quem não consegue enxergar a
sociedade como um conjunto de indivíduos, e sim como uma reunião de
corporações com vocação estatal, a decisão de Temer foi essencialmente
correta, porque a pasta da Cultura foi transformada pelo PT em um de
seus principais feudos, espécie de ponta de lança da construção da
imagem do partido como o único capaz de interpretar as aspirações
nacionais.
A
grande prova de que o Ministério da Cultura era apenas uma espécie de
departamento de agitação e propaganda do PT foi dada quando funcionários
da pasta receberam o novo ministro da Educação, Mendonça Filho, aos
gritos de “golpista” e de “golpe não, cultura sim”. A limpeza promovida
por Temer é portanto uma consequência natural da constatação de que a
Cultura não estava a serviço do Brasil, mas de um partido político.
O
mesmo se deu no caso da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Criada no
governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a EBC deveria servir como uma
“instituição da democracia brasileira: pública, inclusiva, plural e
cidadã”, como se lê em sua carta de intenções. Mas acabou se
transformando em braço do lulopetismo. A necessidade do governo Temer de
desaparelhar a EBC ficou evidente quando Dilma, às vésperas de ser
afastada da Presidência, nomeou para presidir a empresa o jornalista
Ricardo Melo, na certeza de que este seria aliado firme do PT na
guerrilha comunicacional contra o governo interino. Temer exonerou Melo,
que entrará na Justiça sob a alegação de que seu mandato não podia ser
interrompido.
A
luta contra a contaminação petista envolve muitas outras áreas do
governo. Temer achou por bem, por exemplo, exonerar da presidência do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) o sociólogo Jessé de
Souza. Na chefia de um órgão responsável por pesquisas que ajudam a
balizar importantes decisões de governo, Jessé havia dito que o
impeachment era uma “mentira das elites” e que a crise econômica “foi
produzida politicamente” por empresários.
Isso
é só o começo. É muito provável que Temer tenha de ir ainda mais fundo
se quiser extirpar o lulopetismo entranhado na administração federal. E
ele tem de estar preparado para encarar o esperneio daqueles que, depois
de apoiar de corpo e alma um projeto de poder que julgavam eterno,
estão muito perto de perder a preciosa boquinha.19 Maio 2016- DO R.DEMOCRATICA
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