Alan Marques - 26.jan.2011/Folhapress | |
O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), apontado por delatores como destinatário de propina |
GABRIEL MASCARENHAS
AGUIRRE TALENTO
Folha de São Paulo
AGUIRRE TALENTO
Folha de São Paulo
Novo delator da Lava Jato, Frank Geyer Abubakir, ex-presidente e
acionista da petroquímica Unipar Carbocloro, confirmou ter pago pelo
menos R$ 18 milhões em propina ao ex-ministro do governo Dilma Mário Negromonte e ao ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010.
O repasse teria ocorrido após a criação da petroquímica Quattor, fundada
em 2008 a partir de uma sociedade entre a Unipar e a Petrobras. A Folha teve acesso a trechos da delação de Abubakir, que aguarda homologação.
O empresário contou ao Ministério Público Federal, em novembro, que
procurou Negromonte e Janene para ajudá-lo a "manter a Unipar no
mercado". O movimento se deu depois que a Petrobras comprou a
petroquímica Suzano, concorrente da Unipar Carbocloro à época.
Abubakir disse que, após concretizado o negócio da Quattor, Janene e Negromonte marcaram uma reunião num hotel no Rio.
No encontro, Janene teria pedido R$ 18 milhões pelo "suposto fato de o
PP e de ele próprio terem dado apoio político à empresa Unipar".
Abubakir diz que o valor de propina foi motivo de acirrada discussão
entre ele e Janene.
O empresário afirmou que, a partir de então, começou a ser alvo de
chantagem do então deputado. "Sentindo-se pressionado, o depoente
repassou os R$ 18 milhões, por meio da Ceema (Construções e Meio
Ambiente Ltda)".
A empresa pertencia a José da Silva Mattos Neto, empresário baiano que, segundo Abubakir, apresentou-o a Negromonte.
Ainda de acordo com o delator, Janene continuou a extorqui-lo mesmo após
o pagamento. Abubakir admitiu que, temeroso, fez novos repasses ao
ex-deputado.
O episódio confirma os depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Em 2010, a Unipar vendeu sua participação na Quattor à Braskem, empresa controlada pela Odebrecht.
PALOCCI
Os investigadores quiseram saber de Abubakir como se deram os negócios
firmados entre a Unipar e a Projeto Consultoria Empresarial, do
ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil).
Ele confirmou que a petroquímica assinou "cerca de sete" contratos com a
Projeto, entre 2008 e 2014, por R$ 2,8 milhões. O empresário disse que o
serviço foi efetivamente prestado, com apresentação de relatórios à
Unipar.
Abubakir disse que a consultoria consistia em orientações sobre
"cenários político e econômico [...]", com "fornecimentos de informações
sobre determinados rumos da economia, como siderúrgico,
sucroalcooleiro, reflorestamento e de energia eólica".
OUTRO LADO
O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, hoje conselheiro do Tribunal
de Contas dos Municípios da Bahia, nega, por meio de sua defesa, o
recebimento de propina.
Seus advogados informaram que ele "não recebeu qualquer valor para intermediar a criação da Quattor".
Procurado nesta sexta (5), Negromonte informou que não poderia comentar
porque não teve acesso à delação premiada de Frank Abubakir.
A Unipar Carbocloro informou que não vai comentar.
A Folha não localizou o empresário José da Silva Mattos Neto, da
empresa Ceema, nem a defesa do ex-ministro Antonio Palocci para comentar
as citações a ele.DO JTOMAZ
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