Daniel Pereira e Robson Bonin - Veja
O dinheiro foi usado, entre outras coisas, para financiar as campanhas eleitorais do partido de 2010 e 2014
CODINOME MOCH - João Vaccari: homem de confiança do ex-presidente Lula, o
tesoureiro era o elo financeiro entre os corruptos e os corruptores que
atuavam na Petrobras (VEJA)
Em outubro passado, os investigadores da Operação Lava-Jato, reunidos no
quartel-general dos trabalhos em Curitiba, olhavam fixamente para uma
fotografia pregada na parede. A investigação do maior esquema de
corrupção da história do país se aproximava de um momento decisivo.
Delator do petrolão, o ex-diretor Paulo Roberto Costa já havia admitido
que contratos da Petrobras eram superfaturados para enriquecer
servidores corruptos e abastecer o cofre dos principais partidos da base
governista.
Na foto afixada na parede, Paulo Roberto aparecia de pé, na cabeceira de
uma mesa de reunião, com um alvo desenhado a caneta sobre sua cabeça.
Acima dela, uma anotação: “dead” (morto, em inglês). Àquela altura, a
atenção dos investigadores estava voltada para os outros personagens da
imagem.
Era necessário pegá-los para fechar o enredo criminoso. Em novembro,
exatamente um ano depois de a antiga cúpula do PT condenada no mensalão
ter sido levada à cadeia, o juiz Sergio Moro decretou a prisão de
executivos das maiores empreiteiras brasileiras, muitos dos quais
aparecem abraçados a Paulinho, sorridentes, na fotografia estampada no
Q.G. da Lava-Jato. A primeira etapa da missão estava quase cumprida.
Entre os alvos listados na foto, apenas um ainda escapava aos
investigadores. Justamente o elo da roubalheira com o partido do
governo, o personagem que, sabe-se agora, comprova com cifras
astronômicas como o PT — depois de posar como vestal nos tempos de
oposição — assimilou, aprimorou e elevou a níveis inimagináveis o que há
de mais repugnante na política ao conquistar o poder.
Na quinta-feira passada, agentes da Polícia Federal chegaram à casa do
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com uma ordem judicial para levá-lo
à delegacia a fim de prestar esclarecimentos sobre seu envolvimento no
petrolão. Vaccari recusou-se a abrir o portão. Os agentes pularam o muro
para conduzi-lo à sede da PF em São Paulo.
Eles também apreenderam documentos, aparelhos de telefone celular e
arquivos eletrônicos. Esse material não tinha nada de relevante.
Vaccari, concluíram os agentes, já limpara o terreno. Num depoimento de
cerca de três horas, o tesoureiro negou as acusações e jurou inocência.
Nada que abalasse o ânimo dos investigadores. No Q.G. da Lava-Jato, um
“dead” já podia ser escrito sobre a cara carrancuda do grão-petista.
A nova fase da operação foi um desdobramento de depoimentos prestados
pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, em novembro, como parte de
um acordo de delação premiada. Barusco conquistou um lugar de destaque
no panteão da corrupção ao prometer a devolução de 97 milhões de dólares
embolsados como propina, uma quantia espantosa para um servidor de
terceiro escalão.
Ao falar às autoridades, ele disse que o PT arrecadou, entre 2003 e
2013, de 150 milhões a 200 milhões de dólares em dinheiro roubado de
noventa contratos da Petrobras. Segundo Barusco, o principal operador do
PT no esquema nos últimos anos era Vaccari, chamado por ele de
“Mochila”, por andar sempre com uma mochila a tiracolo.
Barusco contou que o tesoureiro — identificado como “Moch” nas planilhas
que registravam o rateio do butim surrupiado — participou pessoalmente
das negociações, por exemplo, para a cobrança de propina de estaleiros
contratados pela Petrobras. Descendo a detalhes, Barusco narrou ainda
uma história que, apesar de envolver um valor bem mais modesto, tem um
potencial político igualmente explosivo.
O ex-gerente declarou que, em 2010, o então diretor de Serviços da
Petrobras, Renato Duque, solicitou ao representante da empresa holandesa
SBM no Brasil, Júlio Faerman, 300 000 dólares para a campanha petista
daquele ano, “provavelmente atendendo a pedido de João Vaccari Neto, o
que foi contabilizado pelo declarante à época como pagamento destinado
ao Partido dos Trabalhadores”.
Em 2010, Dilma Rousseff disputou e conquistou o primeiro de seus dois
mandatos presidenciais. A situação do tesoureiro do PT deve se agravar
nos próximos dias com o avanço das negociações para o acordo de delação
premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC. Pessoa
coordenava “o clube do bilhão”, o grupo das empreiteiras que desfalcava a
Petrobras. Vaccari recorria a ele com frequência para resolver os
problemas de caixa do PT. Os dois conversaram várias vezes no ano
eleitoral de 2014.
Num desses encontros, segundo integrantes da investigação que já ouviram
uma prévia das histórias pouco edificantes prometidas por Pessoa,
Vaccari negociou com a UTC o recebimento de 30 milhões de reais em
doações eleitorais. Cerca de 10 milhões de reais seriam destinados à
campanha à reeleição de Dilma Rousseff. Os 20 milhões restantes,
distribuídos por Vaccari ao PT e aos partidos da base aliada.
Leia a continuação dessa reportagem em Veja
DO J.TOMAZ
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