Fiquei até emocionado vendo Paulo Roberto Costa afirmar na CPMI que os esquemas da Petrobras se repetem na construção de rodovias, hidrelétricas, aeroportos, portos
Não aguento mais falar
sobre o escândalo da Petrobras. Mas não consigo parar de procurar
notícias, comentários, desdobramentos e consequências desse assunto que
domina o país e desperta em mim, e em muita gente, os instintos mais
primitivos. Sou por natureza pacífico e tolerante, mas estou envenenado
por terríveis desejos de vingança, por sentimentos de fúria e indignação
que vão além da sede de justiça e me dão uma certa vergonha.
É estarrecedor. Em cada caixa que se abre, surgem novas caixas de conspirações para saquear não só a Petrobras, mas todas as grandes estatais brasileiras. Fiquei até emocionado vendo Paulo Roberto Costa afirmar na CPMI que os esquemas da Petrobras se repetem na construção de rodovias, hidrelétricas, aeroportos, portos, usinas, onde quer que haja dinheiro público para ser roubado.
A história de Paulo Roberto é um clássico brasileiro moderno. O cara que estuda, entra na Petrobras por concurso, trabalha 20 anos com competência, até que, para crescer dentro da empresa, aceita fazer o jogo dos políticos e se torna diretor — e cúmplice. O resto é história, lixo da História. Mas ao menos Paulo Roberto foi um dos poucos entre os denunciados que se disseram muito arrependidos e envergonhados. Entre os que, contra todas as evidências, insistem em negar culpas e responsabilidades, os que ainda se acreditam intocáveis, e os que até se orgulham de sua “missão política”, são poucos os que parecem arrependidos — não do que fizeram, mas porque foram pegos.
Também se ficou sabendo oficialmente o que sempre só se imaginava: é impossível se tornar diretor de uma estatal sem apoio político. Mérito, eficiência, produtividade e ética são desprezados. É assim que funcionários competentes, mas ambiciosos e de moral fraca, são cooptados para alimentar a voracidade de políticos e partidos. Como um país pode viver assim há tanto tempo?
Eu me prometi não escrever mais sobre isso, que procuraria temas mais divertidos, ou mais profundos, para os leitores. Mas sucumbi aos baixos instintos e, para horror de meu professor Zuenir Ventura, ainda tasco um ponto de exclamação no título. DO NELSONMOTTA-O GLOBO
É estarrecedor. Em cada caixa que se abre, surgem novas caixas de conspirações para saquear não só a Petrobras, mas todas as grandes estatais brasileiras. Fiquei até emocionado vendo Paulo Roberto Costa afirmar na CPMI que os esquemas da Petrobras se repetem na construção de rodovias, hidrelétricas, aeroportos, portos, usinas, onde quer que haja dinheiro público para ser roubado.
A história de Paulo Roberto é um clássico brasileiro moderno. O cara que estuda, entra na Petrobras por concurso, trabalha 20 anos com competência, até que, para crescer dentro da empresa, aceita fazer o jogo dos políticos e se torna diretor — e cúmplice. O resto é história, lixo da História. Mas ao menos Paulo Roberto foi um dos poucos entre os denunciados que se disseram muito arrependidos e envergonhados. Entre os que, contra todas as evidências, insistem em negar culpas e responsabilidades, os que ainda se acreditam intocáveis, e os que até se orgulham de sua “missão política”, são poucos os que parecem arrependidos — não do que fizeram, mas porque foram pegos.
Também se ficou sabendo oficialmente o que sempre só se imaginava: é impossível se tornar diretor de uma estatal sem apoio político. Mérito, eficiência, produtividade e ética são desprezados. É assim que funcionários competentes, mas ambiciosos e de moral fraca, são cooptados para alimentar a voracidade de políticos e partidos. Como um país pode viver assim há tanto tempo?
Eu me prometi não escrever mais sobre isso, que procuraria temas mais divertidos, ou mais profundos, para os leitores. Mas sucumbi aos baixos instintos e, para horror de meu professor Zuenir Ventura, ainda tasco um ponto de exclamação no título. DO NELSONMOTTA-O GLOBO
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