Provas obtidas por ÉPOCA revelam uma longa – e inédita – lista de empresas suspeitas de pagar propina a Paulo Roberto Costa: empreiteiras, empresa de lixo, empresa de tecnologia, empresa de equipamentos e distribuidoras de combustível
DIEGO ESCOSTEGUY, COM MARCELO ROCHA, MURILO RAMOS E LEANDRO LOYOLA DA REVISTA ÉPOCA
As provas da nova fase da operação Lava-Jato, deflagrada nesta
sexta-feira (22) pela Polícia Federal e por uma força-tarefa do
Ministério Público Federal, são devastadoras para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e para as empreiteiras acusadas de pagar propina a ele. ÉPOCA obteve acesso exclusivo à íntegra dos documentos (confira trechos abaixo do material produzido pelo MPF).
São relatórios da Receita Federal e do MPF. Neles, os investigadores
devassam o sigilo fiscal das empresas de Paulo Roberto, de seus
familiares e de laranjas associados a eles. Dos documentos, desfia-se
uma teia de 18 empresas de “consultoria”, todas ligadas a Paulo Roberto.
Elas receberam R$ 17,3 milhões de 13 empreiteiras – quatro delas ainda
não haviam aparecido como suspeitas de integrar o esquema. Não são
somente empreiteiras. Agora, surgem também entre as suspeitas uma
empresa de lixo, outra de tecnologia e uma terceira de equipamentos,
além de distribuidoras de combustível. Todas essas empresas ganharam
contratos com a Petrobras até 2012, quando Paulo Roberto ainda era
diretor da estatal.
Até agora, sabia-se que Paulo Roberto recebera R$ 7,5 milhões de quase
duas dezenas de empreiteiras – além de guardar, ao menos, US$ 23 milhões
em contas secretas na Suíça. Havia, ainda, as demais contas dele em
paraísos fiscais e o dinheiro repassado pelo doleiro Alberto Youssef.
Agora, o esquema parece não ter fim. Quanto mais a investigação avança,
mais camadas aparecem – empresas de fachada, empreiteiras, laranjas e
dinheiro sujo. Para obter ainda mais provas sobre o esquema de Paulo
Roberto, os procuradores da força-tarefa pediram à Justiça Federal a
busca por documentos em endereços ligados a ele. A PF cumpriu os
mandados de busca e apreensão desta sexta-feira (22), no Rio de Janeiro.
Vasculharam-se casas e escritórios das filhas e dos genros de Paulo
Roberto. Os policiais também apreenderam documentos com o homem
considerado o principal laranja dele: Marcelo Barboza Daniel. A operação
de hoje tinha um objetivo secundário: fazer Paulo Roberto falar. Deu
certo. Ele avisou que pretende contar o que sabe. Uma possível delação
premiada deverá demorar, porém. As autoridades precisam se convencer de
que Paulo Roberto entregará mesmo tudo o que sabe. E a Justiça terá de
homologar o acordo.Os procuradores da força-tarefa são contundentes. “Há fortes indícios de que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef atuaram em conjunto para beneficiar empresas, incluindo empreiteiras, em prejuízo da Petrobras, recebendo propina para tanto. A propina não era recebida diretamente, mas mediante empresas interpostas”, escrevem eles. “Identificaram-se outras empresas e pessoa física, contras as quais há indícios de que participaram do esquema de desvio e lavagem de bens oriundos da Petrobras e de outros bens públicos.”
A pessoa física chama-se Marcelo Barboza. Amigo e, segundo o MPF, laranja de Paulo Roberto, Barboza é sócio de três empresas de consultoria que receberam dinheiro das empreiteiras. Numa delas, divide o comando com Humberto Mesquita, um dos genros de Paulo Roberto. Mesquita ajudava na contabilidade e na distribuição do dinheiro recebido das fornecedoras da Petrobras. Barboza era aliado de Mesquita. Suas empresas representam um novo núcleo de investigação das ramificações financeiras do esquema de Paulo Roberto na Petrobras.
Entre 2010 e 2013, Barboza obteve “espantoso crescimento patrimonial”, dizem os procuradores. Em 2012, após receber milhões das empreiteiras, "doou" R$ 1 milhão a Mesquita. Também "emprestou" R$ 1,9 milhão a Paulo Roberto, segundo a investigação. Uma análise dos auditores da Receita deixa evidente o caminho do dinheiro. Ele saía das empreiteiras que fechavam contrato com a Petrobras, era repassado às empresas de consultoria de Barboza e, em seguida, encaminhado a Paulo Roberto. É o mesmo expediente usado nos demais núcleos da organização criminosa. Um deles era controlado pelo doleiro Youssef; o outro, por familiares de Paulo Roberto. “Suspeita-se que tais supostos negócios jurídicos de ‘empréstimo’ e ‘doação’, de todo não usuais, serviram na verdade para justificar a transferência de valores recebidos pelas pessoas jurídicas de Marcelo Barboza Daniel de construtoras e empresas do setor petroquímico, valores que consistiriam no pagamento de propina para Paulo Roberto Costa na facilitação ou condição para a realização de contratos com a Petrobras.”
As quatro empreiteiras que ainda não haviam sido envolvidas no esquema são a Tomé Engenharia, a Barbosa Mello, a Construtami e o Consórcio Confidere-Racional. O dinheiro era pago às empresas de Barboza. Uma delas, a BAS Consultoria, teve como única fonte de renda, em 2011 e 2012, os pagamentos da empreiteira Alusa. Foram R$ 5,7 milhões. Em 2013, quando Paulo Roberto já não estava mais no cargo, a empresa de Barboza nada recebeu. A Alusa, ao lado de empresas parceiras, vencera duas licitações grandiosas na área de Paulo Roberto. Uma, de R$ 671,7 milhões, na refinaria de Abreu e Lima, em 2010. Outra, no valor de R$ 235 milhões, na refinaria Comperj, em 2011. Auditores da Petrobras encontraram irregularidades no contrato da Alusa na Abreu e Lima. Procurada, a Alusa não se manifestou.
A lista de empresas e valores ocupa numerosas páginas dos relatórios. A Pragmática Consultoria, de Mesquita e Barboza, teve como fonte de renda contratos com a Petrobras (conforme revelou ÉPOCA) e a construtora Estre Ambiental. A Pragmática recebeu R$ 3 milhões da Estre. A Estre, é claro, também tem contratos com a Petrobras. Outra empresa de Barboza, a MR Pragmática, recebeu dinheiro da Cavo, da Estre Ambiental e da Alusa. A Cavo é uma empresa de lixo. Tinha contrato com a Petrobras, para tratar resíduos. Pagou R$ 331 mil à MR Pragmática, em 2011. A Verssales, mais um dos canais de pagamento de Barboza, recebeu dinheiro da Tomé Engenharia, da Construtami e da Barbosa Mello. A empresa de tecnologia B2BR, que tem um grande contrato com a Petrobras, também pagou. Assim como a Ipeoleo, uma distribuidora de combustível.
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A B & X Consultoria, empresa de Barboza com Arianna Bachmann, uma das filhas de Paulo Roberto, recebeu R$ 243 mil da Confidere, empreiteira que ajudou a construir a nova sede da BR Distribuidora. Arianna, por meio da empresa Bachmann Representações, recebeu, entre 2010 e 2012, R$ 204 mil do Estaleiro Atlântico Sul, um consórcio entre Camargo Corrêa e Queiroz Galvão. A Bachmann Representações não tem nenhum empregado. “Parece extraordinário, realmente, que as principais fontes pagadoras de empresas vinculadas a parentes de Paulo Roberto sejam fornecedores da Petrobras, recebendo desta polposos (sic) pagamentos”, dizem os procuradores. Assim como o laranja Barboza, o genro Mesquita teve um “vertiginoso acréscimo patrimonial” quando Paulo Roberto comandava a Diretoria de Abastecimento da Petrobras.
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O Consórcio Confidere-Racional não respondeu às perguntas enviadas por ÉPOCA sobre os pagamentos feitos à B & X Consultoria. Enviou apenas uma nota, em que afirma: “O consórcio informa que não recebeu e não tem qualquer informação oficial a respeito do caso. Reitera, no entanto, que sempre atuou de acordo com a lei e dentro das melhores práticas de transparência e governança”. O grupo Estre Ambiental afirma, por meio de nota, que suas empresas contrataram a consultoria Pragmática em 2010 e 2011 para fazer o “redesenho de processos, integração de sistemas de gestão e automatização de balanças com objetivo de aprimorar o controle de recebimento de resíduos sólidos em seus aterros sanitários”. Procuradas, as empresas Tomé Engenharia e a Construtora Barbosa Mello não se manifestaram. O Estaleiro Atlântico Sul não respondeu às ligações. As demais empresas não foram localizadas.
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