Eu vou lhes contar uma história escabrosa.
Espalhem este texto. Debatam-no nas redes sociais. O tema diz respeito a
todas as capitais brasileiras e a várias outras cidades médias e
grandes.
Os pobres
brasileiros viraram massa de manobra de pilantras, de vigaristas, de
achacadores da esperança, de cafetões da pobreza, de demagogos da
miséria, que farejam as tragédias como os urubus, a carniça. O caso que
vou relatar abaixo aconteceu em São Paulo, mas é assim em toda parte, e
os leitores do Brasil inteiro — e muitos que há América Latina afora —
saberão do que falo. Há uma ocupação irregular em São Paulo chamada
“Favela do Moinho”. Fica localizada, como vocês podem ver abaixo, entre
duas linhas de trem, que passam a menos de meio metro de muitas casas.
Crianças se espalham pelos trilhos, e a tragédia as espreita — quando,
então, aqueles pulhas correrão para encharcar com suas lágrimas
asquerosas as vítimas de sua demagogia. Há laudos demonstrando que o
solo está contaminado. Sobre um dos lados do quase trapézio (à
esquerda), como vocês podem ver abaixo, há um viaduto. Há barracos
embaixo dele. Volto em seguida.
Essa
imagem localiza o incêndio do ano passado. No começo desta semana, um
rapaz brigou com o seu namorado e teve uma ideia: usou um botijão de gás
como maçarico e matou seu companheiro estável. Provocou um incêndio.
Justamente embaixo do viaduto. Pelo menos oitenta barracos foram
destruídos. As linhas de trem ficaram interditadas por um bom tempo. O
elevado teve de ser fechado. Placas de concreto, que se despregaram com o
calor, ameaçam desabar.
Quando
secretário de Subprefeituras, Andrea Matarazzo tentou remover a favela
do local. É evidente que ela não pode ficar ali em razão do risco que
representa à segurança dos moradores. Seja pelas linhas do trem, seja
pelo solo contaminado, seja pela qualidade das moradias, o risco é
permanente. Não se tratava de dar um pé no traseiro dos moradores e
pronto! A Prefeitura se dispôs, inclusive, a pagar aluguel para os que
se cadastrassem. Tudo inútil. Armou-se um grande salseiro. Já escrevi dois textos a respeito.
Os
supostos “amigos do povo” entraram em ação, acusando a iniciativa da
Prefeitura de “higienista” — os mesmos que também tentaram impedir que o
estado de direito chegasse à região conhecida como Cracolândia. O padre
Júlio Lancelotti, cujo Deus tem coloração partidária (é do PT!),
protestou. Na PUC-SP, formou-se um núcleo de defesa dos moradores do
Moinho, como se a intenção da Prefeitura fosse atacá-los. O deputado
Paulo Teixeira (PT-SP), claro!, se mobilizou. E o senador Eduardo
Suplicy (PT), como sempre, foi lá oferecer a sua solidariedade e, por
que não?, falar sobre o renda mínima…
Em busca de um cadáver
Muito bem! Na noite de ontem, com os placas de concreto se desprendendo do viaduto, a prefeitura fez o óbvio: isolou a área e impediu que novos barracos fossem construídos embaixo dele antes que se faça o devido reparo. Um “líder comunitário”, formado na engenharia da vida — se Lula tem 7,867 títulos de doutor honoris causa, por que não? —, achou que a área isolada era muito grande, entenderam? E mobilizou moradores para impedir o trabalho da Guarda Municipal — que passou a ser hostilizada.
Muito bem! Na noite de ontem, com os placas de concreto se desprendendo do viaduto, a prefeitura fez o óbvio: isolou a área e impediu que novos barracos fossem construídos embaixo dele antes que se faça o devido reparo. Um “líder comunitário”, formado na engenharia da vida — se Lula tem 7,867 títulos de doutor honoris causa, por que não? —, achou que a área isolada era muito grande, entenderam? E mobilizou moradores para impedir o trabalho da Guarda Municipal — que passou a ser hostilizada.
Leiam os
textos que saíram nos portais da imprensa paulistana, obsessivamente
antitucana, obsessivamente anti-Kassab. Podem ser
“anti-o-que-bem-lhes-der-na-telha”, ora essa! Mas e os fatos? Quando só
depoimentos contra a Guarda Municipal são colhidos, há algo de errado na
narrativa. Imaginem se a Prefeitura permite que novos barracos sejam
construídos antes dos reparos e se uma placa de concreto cai na cabeça
de moradores, o que pode ser morte certa! O mundo vem abaixo. Mas
pergunto: não é justamente cadáveres o que querem esses “amigos do
povo”?
A Guarda
começou a ser atacada. Foi preciso pedir o auxílio da PM. Foram usadas
balas de borracha “contra o povo”, como diz o PT. Os companheiros acham
que esse recurso é válido quando empregado pelas polícias e guardas sob o
comando dos governantes de seu partido ou da base aliada. Já demonstrei
como casos de cegueira em razão do mau uso desse expediente cegaram
pessoas em estados governados pelo PT. Procurem no arquivo.
Mas o
melhor vem agora. Mal o confronto havia começado, a Favela do Moinho se
encheu de políticos. Foram pra lá a candidata do PPS à Prefeitura, Sônia
Francine, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o deputado Adriano Diogo
(PT-SP) e, ora vejam, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP). A cena não
poderia estar completa sem a presença do padre Júlio Lancelotti, o que
sempre cai de joelhos diante de um homem humilde.
Incrível! Toda essa gente estava sem agenda, à espera, pelo visto, de um “conflito social” para ir prestar a sua solidariedade. Pergunto-me:
onde andavam esses patriotas, esses amigos do povo, durante a gestão de
Marta Suplicy (2001-2004). Também havia incêndio em favelas naquele
tempo. Aliás, muito mais do que hoje em dia. Os números são estes:
2001 – 224
2002 – 169
2003 – 200
2004 – 185
2001 – 224
2002 – 169
2003 – 200
2004 – 185
A partir de 2005 — são dados oficiais —, caíram espantosamente as ocorrências:
Gestão Serra
2005 – 151
2006 – 156
Gestão Kassab
2007 – 120
2008 – 130
2009 – 129
2010 – 31
2011 – 79
2012 – 69
Gestão Serra
2005 – 151
2006 – 156
Gestão Kassab
2007 – 120
2008 – 130
2009 – 129
2010 – 31
2011 – 79
2012 – 69
O que eu
estou sugerindo? Que o fogo gosta do PT? Ainda se fosse o contrário…
Não! Trabalhos de urbanização de favelas e de regularização das
instalações elétricas respondem pela diminuição de ocorrências — tudo
devidamente ignorado pelo noticiário.
O que
faziam os petistas ontem à noite na Favela do Moinho? O mesmo que faziam
horas depois do incêndio, enquanto os bombeiros ainda realizavam o
trabalho de rescaldo: campanha eleitoral em cima da desgraça alheia. Os
barracos destruídos ainda soltavam seus fumos, e uma equipe de TV de
Fernando Haddad já estava lá, filmando tudo, na certeza de que aquilo
rende votos.
Há, pois,
nisso um norte ético, moral mesmo: se as desgraças rendem votos ao PT,
infere-se que os terá tanto mais quanto maiores elas forem. Seus
partidários estavam lá, provavelmente, para acelerar a história.
Não! O
partido não age assim só em São Paulo. Age assim onde quer que seja
oposição. Quando, então, chega ao governo, aí usa com gosto as balas de
borracha e o gás pimenta. Em nome da classe trabalhadora, do futuro e
dos amanhãs que cantam!
Esse é o país do petralhas que assombra o país dos decentes, ricos ou pobres.
REV VEJA
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