Que
coisa feia, hein, srs. da Defensoria Pública de São Paulo! Eu acabo de
pegá-los dando, assim, um jeito de corpo, um drible, um passa-moleque na
Lei da Transparência. Com que então os Amigos do Povo, com uma retórica
mais inflamada do que a de Marat pedindo cabeças durante o Terror, dão
um jeitinho de impedir que esse mesmo povo saiba quanto ganham?! Com que
então a lei que vale do porteiro ao governador não vale justamente para
os defensores? Antes de explicitar o fato propriamente, vamos ao
contexto.
A
Defensoria Pública de São Paulo, que tem se comportado como partido
político e atuado com uma agenda clara e confessadamente ideológica — o
que escarnece das leis e do estado de direito —, decidiu emitir na
quarta-feira uma nota que é uma resposta às críticas que tem recebido
deste blog. Alguns de seus membros, pois, são tão autoritários que não
lhes basta ter quase toda a imprensa a lhes puxar o saco, a seus pés, a
vender como verdade todos os seus preconceitos. Houveram por bem ter um
piti com uma das poucas vozes que ousam lhes chamar à razão e lembrar
seus deveres legais. Respondi neste texto, chamando, como sempre, as coisas por seus respectivos nomes.
No seu
textinho todo ofendidinho, a Defensoria Pública se refere àqueles que
seriam “refratários” aos direitos humanos, como se eles por lá fossem
mais humanistas do que eu, mais democratas do que eu, mais bacanas do
que eu. Não são, não! Não como padrão médio ao menos. E noto desde já: é
claro que não me refiro a todos os membros do órgão. Certamente os há
cumpridores de seus deveres. A minha crítica vai àqueles que abandonaram
há muito a sua função para fazer política; para participar de
audiências públicas de cartas marcadas; para impedir o poder público de
exercer seus direitos constitucionais e suas funções legais; àqueles que
pretendem governar a cidade e o estado mesmo sem terem sido eleitos pra
isso. Dado o contexto, vamos ao fato.
Também em
São Paulo existe uma Lei da Transparência, que obriga a divulgação dos
vencimentos dos quadros do funcionalismo, ao qual pertencem os senhores
defensores. Muito bem! A Defensoria se comprometeu a divulgar os
respectivos salários de seus integrantes. Divulgou? Não! Recorreu a um
truque. Tornou público isto aqui, ó. Volto em seguida.
Como se
vê, os vencimentos não estão aí, mas apenas as respectivas faixas
salariais. Sabem o que isso nos informa? Quase nada! Um bom número de
defensores — quantos? — recebe muito mais do que isso em razão de
benefícios acumulados, tempo de serviço etc. Os valentes, em sua
cartinha-manifesto, disseram-se os protetores dos vulneráveis, incluindo
no grupo muito especialmente os viciados em crack, que têm privatizado
áreas da cidade. Pois bem: será o caso de a gente saber quanto aquele
“não vulnerável” que está sitiado no centro da cidade, que recebe, por
mês, algo entre R$ 700 e R$ 2 mil, está pagando para os defensores o
tratarem como um ser perverso, que só quer se ver livre dos
“companheiros do cachimbo”.
Na sua
carta-delírio, os defensores acusam os “setores refratários aos direitos
humanos”. É mesmo? Ainda que fosse verdade — MAS SE TRATA DE UMA
MENTIRA DESCARADA, SAFADA MESMO!!! —, tratar-se-ia de escolher entre
quem comete crime e quem não comete. E só haveria uma opção aceitável,
não? Assim, mesmo na falácia criada pelos senhores defensores, haveria
uma opção moral e uma imoral. Ocorre que isso é mentira. As políticas
que buscam recuperar para a cidade as áreas tomadas pelo crack se fazem
acompanhar de programas de atendimento aos viciados. E aí que há está o
direito realmente humano: o direito do doente de ser tratado e o direito
do cidadão de não não ser molestado pelo tráfico e pelo consumo de
drogas. Sejam mais responsáveis! Mas volto ao ponto.
Por alguma
razão, os defensores não querem que aqueles que lhes pagam os salários
saibam quanto custa a Defensoria. Dada a sua militância, até posso
entender por quê. Qual é, meus bravos? Aguardo a folha de salários, com
os ganhos devidamente discriminados. Afinal, estamos ou não de acordo
sobre a necessidade de todos cumprirem as leis — até mesmo os
defensores? Estou esperando. Sou como o Pequeno Príncipe, aquele
chatinho: jamais desisto de uma pergunta enquanto não tenho a resposta.
REV VEJA
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