Fernando Dantas, de O Estado de S.Paulo
RIO - A indústria voltou ao nível de cinco anos atrás, e as projeções
para 2012 são de queda na produção das fábricas brasileiras. Em maio de
2012, a produção da indústria medida pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) foi idêntica a de agosto de 2007, e
inferior a de outubro de 2007. A comparação, referente à indústria de
transformação, elimina as influências sazonais.
"É um indicador chocante, há alguma coisa de muito errado na nossa indústria", diz Fernando Rocha, sócio e economista-chefe da JGP, gestora de recursos no Rio de Janeiro.
Para 2012, as projeções da produção industrial de sete instituições consultadas pelo Estado, incluindo os departamentos econômicos dos dois maiores bancos privados, Itaú e Bradesco, indicam quedas que variam de menos 0,5% a menos 2,2%.
"Houve uma grande piora da indústria no último trimestre do ano passado, aí começou a melhorar, mas o problema é que despencou de novo", diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), no Rio.
Nos dados do IBGE, 95% do índice corresponde à indústria de transformação, a atividade manufatureira propriamente dita, e os outros 5% referem-se à indústria extrativa.
Sílvia nota que a queda da indústria da transformação acelerou-se até maio. No primeiro trimestre, ela caiu 0,7% ante o último trimestre de 2011, na série livre de influências sazonais. Já no trimestre de março a maio, a queda em relação a dezembro, janeiro e fevereiro atingiu 1,5%.
A difusão da queda pelos setores industriais, que havia caído no início do ano, também voltou a aumentar a partir de março.
Para Aurelio Bicalho de Almeida, economista do Itaú BBA, o mau número que a indústria deve exibir em 2012 deve-se em parte a uma questão estatística, ligada à queda forte no segundo semestre de 2011. Com a desaceleração adicional em 2012, a indústria provavelmente vai ficar no negativo mesmo que cresça no segundo semestre.
Segundo Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, ainda que a produção industrial cresça em média 0,95% ao mês entre junho e dezembro, haverá uma queda no ano de 1,5% - a projeção do Bradesco, mas que o diretor diz estar em "viés de baixa".
"O desafio é grande porque a média histórica (de crescimento mensal da produção industrial) desde 1991 é de 0,23% ao mês", acrescenta Barros.
Um dos fatores apontados pelos analistas para a fraqueza da indústria é a queda na exportação de produtos manufaturados, mesmo com a recente desvalorização do câmbio. "O mundo permanece abarrotado de produtos manufaturados, e não consigo ver essa ociosidade sumindo antes de um horizonte de dois a três anos", diz Barros.
Investimentos. Almeida, do Itaú BBA, nota que a produção também é negativamente afetada pela desaceleração dos investimentos. Essa, por sua vez, além de influenciada pelos temores com a economia global, está ligada à capacidade ociosa na indústria. Com espaço para aumentar a produção no parque fabril já existente, os empresários adiam investimentos. Assim, o nível de utilização da capacidade instalada medido pela FGV está em 83,8%, enquanto o Itaú BBA considera que o nível de equilíbrio do indicador é de 85%.
Os estoques, finalmente, são outro fator apontado por Almeida para explicar a freada da indústria. Ele lembra que a sondagem da indústria da FGV apontava, em maio de 2011, uma diferença de apenas 1,6% entre as empresas consultadas que consideravam os estoques excessivos e as que os consideravam insuficientes. O indicador subiu para 8,5% em outubro, e ainda estava em 8% em dezembro, num claro sinal de estoques excessivos.
Em junho, porém, o indicador já havia caído para 3,1%. "Ainda está um pouco alto, mas já indica que estamos no caminho de ajustar os estoques", diz. Ele acha que, com esse ajuste, a queda da Selic (taxa básica) e as medidas de estímulo ao consumo do governo, a produção industrial deve ter uma retomada no segundo semestre. "Mas isso na hipótese de alguma normalização da situação internacional", acrescenta o economista.
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