sábado, 14 de julho de 2012

CONFISSÕES DE TERREIRO - 'Vendi a alma ao Demônio' Maria Cecília conta como agiu em favor de Collor durante a campanha presidencial e no impeachment

Ex-mãe-de-santo do presidente Collor se converte e conta sobre os despachos que fazia na Dinda
Eduardo Burckhardt

Como tantos personagens dos programas evangélicos exibidos na TV, Maria Cecília da Silva, de 42 anos, conta que um dia vendeu sua alma ao Diabo. 
Foi numa noite de lua cheia em 1986, num ritual macabro durante o qual degolou seis animais, depois passou a faca em sua mão esquerda e deixou o sangue verter numa vasilha de barro. 
 Naquele tempo ela atendia pelo nome de Mãe Cecília, era a mãe-de-santo mais famosa de Alagoas e recebia os clientes em seu terreiro na cidade de Arapiraca, a 136 quilômetros de Maceió. 
O "serviço", segundo ela, foi encomendado por seu cliente mais importante, o então governador Fernando Collor de Mello, em troca de uma ascensão irresistível na política nacional. 
Hoje, convertida a uma igreja evangélica, Maria Cecília diz que abandonou a magia negra e quer recuperar sua alma. 
Na semana passada ela deu a ÉPOCA uma série de entrevistas, contando como acompanhou a carreira de Collor até o Planalto e por que só agora - depois de ser procurada pela imprensa durante anos - decidiu falar. "
Eu me arrependo de tudo o que fiz. Não quero vingança, não quero nada. Só preciso dar aos fiéis o meu testemunho."
CONTINUA . . . 
 'Vendi a alma ao Demônio'
Maria Cecília conta como agiu em favor de Collor durante a campanha presidencial e no impeachment
ÉPOCA - Fernando Collor falava com as entidades?  
Maria Cecília - Na casa dele em Alagoas, na Casa da Dinda ou no próprio Palácio do Planalto. Ele passava os pedidos e eu tinha que correr para fazer os trabalhos. Ele fumava charuto cubano e bebia uísque importado com elas. Como ele tinha condições, habituou as entidades de forma diferente. Elas estavam acostumadas com cachaça e cigarro, passaram a ganhar produtos finos e importados. A entidade cigana, por exemplo, só queria do champanhe mais caro. No centro que improvisei no porão da Casa da Dinda, só usei louças de porcelana. ÉPOCA - Collor e Rosane iam juntos ao terreiro?  
Maria Cecília - Era parte das obrigações. Chegavam com os alguidares prontos. As criações (animais oferecidos em sacrifício) só podiam ser mortas na presença deles. Eles acompanhavam o cerimonial, a colocação do sangue e das cabeças nas tigelas, e antes de sair recebiam um banho de sangue nas mãos.
ÉPOCA -
A senhora intercedeu de maneira diferente em algum caso em especial?  
Maria Cecília - Durante a campanha para a Presidência, vi que Silvio Santos seria uma grande ameaça. Collor disse que eu fizesse o que fosse preciso. Fiz um trabalho grande que incluía pôr um azougue (espécie de amuleto) na boca de sete pessoas mortas, recém-enterradas no cemitério. ÉPOCA - Collor poderia ter evitado o impeachment?  
Maria Cecília - Se tivesse se mantido fiel aos orixás, tenho certeza que sim. As entidades contribuíram para a derrota porque ele não colaborava mais com elas. Me tratava com indiferença, não dava mais dinheiro para os trabalhos. ÉPOCA - A senhora tentou ajudá-lo?  
Maria Cecília - Fiz a pedido de Rosane. As entidades tinham um apego especial a ela, e por várias vezes não fizeram nada pior a Collor por causa disso. Na votação do impeachment tentei restabelecer a relação. Só que no fundo eu ainda estava revoltada, e a legião que o atendia passou a não mais se envolver. Não tinha mais volta. ÉPOCA - Alguma vez a senhora atendeu a algum pedido pessoal do casal?
Maria Cecília - Muitas vezes Rosane me ligava chorando. Dizia que queria fazer muitos projetos na LBA e ele não deixava que atuasse. Peguei perfumes, flores brancas, mel de abelha e fiz o que chamamos trabalho de paz. Quando Collor passou a andar sem aliança, também agi. ÉPOCA - A senhora foi acusada de ter pedido a morte de Pedro Collor e de PC Farias.  
Maria Cecília - Quando esses casos ocorreram eu não era mais mãe-de-santo. Já tinha o coração voltado para Deus. ÉPOCA - Alguém está lhe pagando para fazer essas denúncias?  
Maria Cecília - De jeito nenhum. ÉPOCA - Não há interesse político por trás dessa decisão?  
Maria Cecília - Não me envolvo mais com política. Meu compromisso é religioso, falo para os milhões de envagélicos conhecerem a verdadeira história.
* * * 
DO FERRA MULA

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