Muito boa a crônica do Nelson Motta
publicada no Estadão. É dos poucos cronistas da grande imprensa
brasileira que não costuma escrever história de carochinha. Vai ao
ponto. O título original é "O craque e o espelho". Todavia pincei a penúltima frase da crônica transformando-a no título deste post. Vale a pena ler:
Pisando na bola, errando passes, falhando nos desarmes, atropelando
seus próprios companheiros de time e, em lance inusitado, tentando
driblar até o juiz, para usar as metáforas futebolísticas que lhe são
caras, Lula sem barba está parecendo um Sansão sem cabelos. E a Dalila a
lhe cortar a força não é a doença, mas sua própria vaidade. Enfrentar o
câncer e a morte, e sobreviver, talvez tenha lhe provocado o efeito
colateral de aumentar a sua onipotência e fazê-lo vítima de sua já
desmesurada vaidade. Ao lado de Sérgio Cabral e Eduardo Paes, Lula foi
flagrado em mais um impedimento clamoroso no futebol político.
"É com muito orgulho que eu posso dizer ao povo do Rio de Janeiro: um
dia tive a coragem de ir para a televisão e pedir votos para este
moço."
A vaidade de Lula é tanta que ele se sente orgulhoso do que qualquer
um se envergonharia, chamando de coragem pedir votos para um moleque que
detestava, que era secretário-geral do PSDB e havia infernizado a sua
vida e dos petistas na CPI dos Correios, e pior, tinha denunciado seu
filho Fábio Luis como beneficiário de uma associação suspeita com a
Brasil Telecom, que o fazia ainda mais odiado por dona Marisa Letícia.
Dobrar a ira da mãe e a decepção do filho em nome da política e da luta
pelo poder não dá para orgulhar ninguém.
Cometendo faltas e culpando o adversário, pressionando o juiz e
insuflando a arquibancada, Lula prende demais a bola e centraliza todas
as jogadas, mas erra na distribuição e não consegue armar os
contra-ataques. O craque dos palanques está em fase mais para Ronaldinho
Gaúcho do que para Fenômeno.
Disse que pouco conhecia Eduardo Paes em 2008 e por isso tinha dúvida
em apoiá-lo, mas foi convencido por Sérgio Cabral: "Não me arrependo de
ter pedido voto para ele e farei isso em 2012 com muito mais
convicção".
Assim como não sabia do mensalão, Lula não conhecia um dos
oposicionistas que mais o denunciavam. Assim como José Dirceu está cada
vez mais convencido de sua inocência, Lula agora está muito mais
convicto de que pode enganar todo mundo o tempo todo. Assim não há
teflon que aguente.DO B. DO ALUIZIO AMORIM
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